Uma menina de 14 anos foi encontrada distante do território, com sinais de abuso. Outra, de 12 anos, segue desaparecida. Confira no Fique Sabendo
No dia 29/5, lideranças Guarani Kaiowá denunciaram violências sexuais cometidas contra duas crianças indígenas, de 12 e 14 anos, no Mato Grosso do Sul. De acordo com a organização de mulheres Kaiowá e Guarani Kuñangue Aty Guasua, as crianças foram sequestradas, estupradas e ameaçadas de morte por fazendeiros em retaliação à retomada do território ancestral de Tujury Guapo’y, em Amambai (MS).
Conforme relatos dos Guarani, após o resgate da primeira criança, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), os órgãos públicos locais e a Fundação Nacional do Índio (Funai) não prestaram atendimento e nem tomaram providências quando a jovem de 14 anos foi encontrada distante do território, com sinais de tortura e abuso sexual. Segundo as lideranças, a criança de 12 anos segue desaparecida.https://www.instagram.com/p/CekFDgLtlfH/embed/captioned/?cr=1&v=14&wp=658&rd=https%3A%2F%2Fwww.socioambiental.org&rp=%2Fnoticias-socioambientais%2Fguarani-kaiowa-denunciam-violencia-sexual-e-desaparecimento-no-ms#%7B%22ci%22%3A0%2C%22os%22%3A2217.199999988079%7D
O povo Guarani Kaiowá vêm sofrendo ataques de fazendeiros locais de forma constante. Em maio, Alex Guarani Kaiowá, de 18 anos, foi assassinado a tiros em Coronel Sapucaia (MS), na fronteira dessa mesma região reivindicada pelos indígenas. Outro jovem foi atropelado por uma caminhonete. Por isso, o povo teme novos ataques e cobra a presença da Funai, do Ministério Público de Ponta Porã (MS) e dos demais órgãos públicos responsáveis.
E você com isso?
A situação dos Guarani Kaiowá, infelizmente, não é um fato isolado, mas faz parte do contexto de violência histórica e sistemática contras os povos indígenas. Nos últimos quatro anos, a violência contra essas populações cresceu vertiginosamente. Em 2020, segundo o relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, do Cimi, 182 indígenas foram assassinados – um número 61% maior do que o registrado em 2019, quando foram contabilizados 113 assassinatos.
A juventude indígena é alvo do conflito territorial. As jovens indígenas, em especial, têm tido seus corpos e vidas violadas. Infelizmente, há uma subnotificação dos casos.
O estudo Yanomami sob Ataque, da Hutukara Associação Yanomami, lança luz sobre acontecimentos similares ao do território Tujury Guapo’y. A Hutukara denunciou a violência dos garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami (AM-RR) contra as mulheres. Segundo os depoimentos coletados por pesquisadores indígenas, garimpeiros estariam as abusando sexualmente de jovens mulheres em situação de vulnerabilidade social após embriagá-las.
Extra
A ocupação territorial pode, sim, existir em harmonia com a conservação ambiental. É o que mostram os povos originários que ocupavam a Amazônia antes da chegada dos colonizadores.
Escavações arqueológicas revelaram que já havia vestígios de urbanismo na Amazônia boliviana antes da chegada dos espanhóis às Américas. Essas escavações foram feitas em dois “montes” perto da aldeia de Casarabe, na Bolívia, e os resultados foram publicados na revista Nature.
Os pesquisadores apontaram evidências de uma arquitetura cívico-cerimonial com plataformas escalonadas, estruturas em forma de “U’, pirâmides cônicas com até 22 metros de altura, além de uma grande infraestrutura de gestão de água, composta por canais e reservatórios.
Tudo isso fez com que os cientistas concluíssem que a América pré-hispânica não era pouco povoada e que os habitantes desta região criaram uma nova paisagem pública e social. As descobertas também mostram que a conservação ambiental das Terras Indígenas é uma estratégia de ocupação estabelecida por seus moradores há séculos. Os povos originários ajudam a preservar e ampliar a diversidade da fauna e da flora local porque têm formas únicas de viver e ocupar um lugar.
Baú Socioambiental
As aldeias Jaguapiru e Bororó, em Dourados (MS), celebram 120 anos de criação neste mês. Atualmente, quase 20 mil indígenas das etnias Guarani, Kaiowá e Terena vivem nas duas aldeias, em uma área de 3,5 mil hectares.

A Casa de Reza faz parte da história cultural da área e tornou-se símbolo de luta e resistência das comunidades indígenas. A estrutura é a de uma oca típica Kaiowá e, por ser um local sagrado, tradicionalmente só indígenas podem entrar. Não se sabe quantas existem atualmente, mas, nos últimos anos, em decorrência da intolerância religiosa, 17 dessas casas foram queimadas em Mato Grosso do Sul, segundo levantamento da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
Em outubro do ano passado, a casa de reza Oga Pysy, no tekoha Rancho Jacaré, município de Laguna Carapã (MS), foi alvo de mais um incêndio criminoso. Foi a sétima casa de reza incendiada só em 2021 no estado. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os rezadores e rezadoras são ameaçados com frequência.
Socioambiental se escreve junto
Para tentar minimizar os estragos seculares da violência contra mulheres indígenas, a Articulação Nacional Das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (anmiga.org) lança a Jornada Das Mulheres Indígenas pelo Brasil, com o objetivo de fortalecer e acolher essas mulheres, para proteger a cultura e identidade milenar, sob a perspectiva feminina indígena.https://www.instagram.com/p/CezFf4mP8MM/embed/captioned/?cr=1&v=14&wp=658&rd=https%3A%2F%2Fwww.socioambiental.org&rp=%2Fnoticias-socioambientais%2Fguarani-kaiowa-denunciam-violencia-sexual-e-desaparecimento-no-ms#%7B%22ci%22%3A1%2C%22os%22%3A2224.2999999523163%7D
Nomeada “Caravana das Originárias”, a Aarticulação irá percorrer todos os biomas do território nacional e promover ações de fortalecimento, protagonismo e acolhimento entre mulheres indígenas.
Durante a jornada serão realizados debates e ações sobre os seguintes eixos: Mudanças climáticas e reflorestamentos; Participação e representação das Mulheres Indígenas no espaços de poder; BioEconomia indígena; Violência baseada em gênero e violações de direitos contra as Mulheres Indígenas dos territórios e fora dos territórios; Articulação das Redes de apoio às mulheres vítimas de violência de gênero; Mobilização e fortalecimento de coletivos/associação de jovens e mulheres indígenas.
Comentários