Joenia Wapichana conversa com a procuradora da República, Ana´lúcia Hartmann [primeira foto], e a advogada Samara Pataxó (fotos: acervo/Funai)
Oevento “Ciclo Ela por Elas”, do Ministério Público Federal (MPF) de Santa Catarina, reuniu a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, e a advogada Samara Pataxó para debater as histórias e as lutas das mulheres indígenas. Mediado pela procuradora da República, Analúcia de Andrade Hartmann, o evento on-line foi transmitido ao vivo pela internet na tarde da última quarta-feira (15).
“Para nós não indígenas sempre chamou muito atenção esse protagonismo. A forma como as mulheres indígenas brasileiras acabaram se tornando as grandes lideranças indígenas. Então, esse protagonismo enche de orgulho a (nós) mulheres”, afirmou a procuradora. Analúcia Hartmann também fez uma homenagem à procuradora da República aposentada, Ela Wiecko Volkmer de Castilho, que havia atuado no estado catarinense em prol dos direitos das comunidades indígenas.
Ao iniciar a sua fala, Joenia Wapichana fez questão de aludiu à homenageada, com quem esteve pela primeira vez em Roraima, por ocasião da portaria declaratória da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. “Para mim, é uma honra participar desse evento que homenageia a Dra. Ela Wiecko, que eu conheci tão logo me formei em Direito. Um evento que é promovido para todas as mulheres, mostrando a diversidade e os desafios que nossas mulheres indígenas têm”, disse a presidenta da Funai.
O caminho da educação
Em seguida, Joenia mencionou a importância determinante da família na sua formação educacional. “Eu creio que uma das minhas grandes encorajadoras foi a minha mãe, que teve um olhar muito holístico do que queria para mim e para nossa família. Quando não havia escolas nas comunidades indígenas, ela ficou bastante determinada e dizia: ‘Olha, vamos para Boa Vista porque eu quero ver meus filhos na escola’. Ela me encorajou bastante a buscar a educação como se fosse uma defesa. A concepção que eu tinha era de que a educação poderia me defender de muitas coisas, inclusive da discriminação”, disse.
Conforme afirmou Joenia, sua origem indígena é a base de sua trajetória. “Para mim, é sempre uma alegria mostrar de onde eu vim, mostrar que eu tenho uma raiz forte com meu território, com meu povo. A gente sempre lembra de onde vem para nos direcionar para onde nós queremos chegar. Mostrar um pouco desses valores que a gente traz desde criança, de valorizar de onde a gente vem, porque a gente trilha os nossos caminhos e compartilha esses caminhos com outras pessoas que nos encorajam”, afirmou.
Um caminho que a levou para a atuação política em defesa dos direitos indígenas, e que coincide com o início da participação política dos povos indígenas nos espaços de decisão. “Naquela época em que o movimento indígena estava surgindo, com a nossa nova Constituição, foi uma oportunidade dos povos indígenas também valorizarem políticas públicas para dentro das comunidades. Se antes, nós saíamos de comunidades para estudar, agora, com alguns [indígenas] formados fora das Terras Indígenas, era hora de colocar escolas dentro dos nossos territórios”, conta Joenia.
No comentário sobre a fala da presidenta, Analúcia Hartmann, destacou o papel da educação enquanto porta do exercício da cidadania no processo pessoal de Joenia. “Achei muito interessante a sua fala sobre educação como defesa. A educação e qualificação profissional têm sido uma trilha seguida pelas comunidades que sofrem discriminação. E como foi importante a sua fala no que diz respeito à representatividade. Isso diz muito sobre a trajetória das mulheres e principalmente das mulheres indígenas”, concluiu a procuradora da República.
A doutoranda em Direito pela Universidade de Brasília (UnB) e assessora-chefe de Inclusão e Diversidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a indígena Samara Pataxó, também citou o direito à educação assegurado na Constituição de 1988, “que garante para nós, povos indígenas, uma educação diferenciada e a valorização da nossa língua indígena. “Então, eu sou fruto dessa educação escolar indígena. Sou uma criança que cresceu na década de noventa vendo essas transformações e esses desafios de ter educação dentro das aldeias e comunidades indígenas”, pontou Samara Pataxó.
Assessoria de Comunicação / Funai
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