Servidores relatam terem se sentido ameaçados e coagidos; caso ocorre mais de um mês após assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips na região
BRASÍLIA
Um grupo de homens armados a serviço de garimpeiros abordou servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio) na base de proteção do rio Jandiatuba, na Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas.
O caso aconteceu no último sábado (16), pouco mais de um mês depois do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, que desapareceram na região.
O relato da abordagem consta em um ofício interno da Funai, ao qual a Folha teve acesso, e alerta para a presença de grupos paramilitares na área. O caso também foi registrado em relatório da ONG Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).
Segundo o documento da fundação, os funcionários “foram surpreendidos por grupo de homens armados questionando a quantidade de servidores” que atuavam no local.
Os servidores, ainda segundo o registro, se sentiram ameaçados e coagidos e relataram os fatos às instâncias superiores. Em resposta, Funai solicitou apoio das Forças Armadas para a região.
“O grupo armado atua junto às balsas garimpeiras de extração de ouro, que atuam em várias localidades ao longo desse rio”, diz ainda o ofício, que ressalta que nos últimos cinco anos houve o “recrudescimento das atividades garimpeiras ao longo do leito do Jandiatuba, inclusive com envolvimento de grupos paramilitares fortemente armados”.
O caso é mais um de uma série de episódios de violência registrados na região nos últimos anos, que culminaram na morte de Bruno Pereira e Dom Phillips.
Segundo a investigação, os dois foram assassinados por pescadores da região, que confessaram o crime, quando viajavam em outro ponto da Terra Indígena, no rio Itacoaí, em direção à cidade de Atalaia do Norte.
Desde então, segundo relatos obtidos pela Folha de forma reservada, o clima na região segue tenso.
Vale do Javari

Base da Funai: na entrada na Terra Indígena Lalo de Almeida/FolhapressMAIS
Servidores e lideranças pedem que as forças de segurança do local sejam reforçadas de forma permanente, o que ainda não aconteceu, como forma de garantir a atuação dos indigenistas e a proteção dos indígenas no território que registra a maior concentração de povos isolados em todo o mundo.
Segundo a Univaja, uma operação da Funai no início deste ano registrou 19 balsas de garimpo em atividade nas proximidades da base do rio Jandiatuba, onde a equipe de servidores foi abordada pelo grupo armado.
Essa rota de garimpo, ainda segundo a entidade, tem base na cidade de São Paulo de Olivença, que fica a mais de 168 km da cidade de Atalaia do Norte.
As balsas foram identificadas a cerca de 30 km de distância de locais com povos indígenas isolados. No caminho entre elas e os indígenas pelo rio Jandiatuba está a base da Funai que foi ameaçada.
Nessa operação, foram identificados 14 pontos de extração ilegal e registrado que “pessoas que operam as balsas de garimpo no rio Jandiatuba portavam armas de fogo (calibres 16 e 12)”, de acordo com a Univaja.
Indígenas relatam medo nos trajetos que precisam fazer pelos rios. Quem viaja pelos rios da região, dizem lideranças, busca fazer o mínimo possível de paradas pelo caminho.
No último dia 8, a Polícia Federal prendeu o suspeito de ser o mandante do assassinato da dupla, um homem conhecido como Colômbia, que mantém relação comercial de pesca com um dos assassinos confessos: Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado.
A PF investiga a verdadeira identidade do suspeito. Os documentos apresentados inicialmente por ele eram brasileiros, com nome Rubens Vilar Coelho.
Operação da Funai apoia índios isolados no Amazonas

Registro do Contato de 2014 da Expedição Monitoramento e Proteção dos Korubo do Coari Funai/DivulgaçãoMAIS
A principal linha de investigação do crime até agora é que os pescadores atuam na pesca ilegal na terra indígena Vale do Javari em relações comerciais com traficantes na área de fronteira. A PF investiga se Colômbia tem relação com tráfico de drogas.
Além de Pelado e Colômbia, também já foram presos por envolvimento no caso Oseney da Costa Oliveira, o Dos Santos, e Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha.
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