Relatório “Desmatamento zero na Amazônia: como e por que chegar lá” é apresentado pela primeira vez no Brasil durante seminário em São Paulo

Oito organizações ambientalistas – Greenpeace Brasil, ICV, Imaflora, Imazon, IPAM, Instituto Socioambiental, WWF-Brasil e TNC Brasil – apresentaram pela primeira vez no Brasil o relatório “Desmatamento zero na Amazônia: como e por que chegar lá”. O seminário, que aconteceu em São Paulo com a mediação do jornalista Marcelo Tas, teve como objetivo debater as propostas apresentadas pelo grupo no documento para frear o desmatamento.

Atualmente, o desmatamento causa enormes perdas para o Brasil – desequilíbrio do clima, destruição da biodiversidade e prejuízos à saúde humana. E, ao contrário do que muitos acreditam, compromete também a competitividade da produção agropecuária.

Paulo Moutinho, pesquisador do IPAM, abriu o seminário com a apresentação do material “Agropecuária pode prosperar sem desmatar”, destacando que “dentre os ganhos com o fim do desmatamento está a preservação dos direitos dos povos da floresta”. Também falando em benefícios, o cientista Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo, explicou que não há nada mais barato do que reduzir as emissões de gases de efeito estufa provenientes de desmatamento – responsável pela emissão de 11% dos gases no mundo. “Esse número já foi 18%, e caiu em 15 anos sem provocar recessão. (O desmatamento zero) É possível? A resposta clara e óbvia é: sim, com gigantescos ganhos ambientais”, afirmou.

Entre as causas do desmatamento, o relatório destaca a pecuária como principal responsável: do total desmatado, 65% são usados para pastagens de baixa eficiência, com menos de um boi por hectare. “Dos 75 milhões de hectares de corte raso de floresta que existem na Amazônia, pelo menos 27 milhões estão em situação muito ruim: são áreas em regeneração, pastos degradados e pastos improdutivos. Ora, vou desmatar para quê, se posso usar políticas de recuperação desses pastos para produção agrícola?”, questiona o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa, que participou do evento. “Quando o ganho tecnológico é grande, você não precisa desmatar. São 27 milhões de hectares na Amazônia que, se recuperados, entram no sistema econômico.”

A trilha para o desmatamento zero, de acordo com o relatório, envolve ações de governos, setor privado e sociedade e passa, necessariamente, por quatro eixos de atuação:

  • implementação de políticas públicas ambientais efetivas e perenes;
  • apoio a usos sustentáveis da floresta e melhores práticas agropecuárias;
  • restrição drástica do mercado para produtos associados a novos desmatamentos;
  • Engajamento de eleitores, consumidores e investidores nos esforços de zerar o desmatamento.

Veja aqui a versão completa do relatório

O relatório destaca também que o setor privado deve ampliar esforços no monitoramento completo das cadeias produtivas e bloqueio de produtores que desmatam. Ao falar sobre o papel das empresas no fim do desmatamento no bioma, Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade do Carrefour, afirmou que desde 2010 grupo assume o compromisso pelo desmatamento zero nos 34 países em que atua, trabalhando com mecanismos excludentes: se há um alerta na cadeia, a compra é suspensa. “Mas a gente sabe que, aquilo que é recusado pelo Carrefour ou por outra empresa com política semelhante, será vendido de alguma maneira”, disse, defendendo uma legislação menos permissiva e mudanças urgentes em políticas públicas.

Ao falar sobre prioridades, Cristiane Mazzetti, da campanha da Amazônia do Greenpeace e integrante do grupo ressaltou que “o tempo para que o desmatamento seja zerado depende muito das sinalizações políticas de governos e empresas. Entretanto, no caso de governos, não podemos esperar muito no momento, já que as propostas em discussão no Congresso Nacional, especialmente as lideradas pela bancada ruralista, seguem o caminho contrário”. Cristiane também salientou que a participação da sociedade para mudar essa situação é fundamental. “Desde 2012 a população vem se mobilizando pelo desmatamento zero através de uma proposta de lei popular que obteve o apoio de mais de 1,4 milhão de brasileiros”, comenta.

O fim do desmatamento na Amazônia coloca o Brasil na frente de uma crescente demanda do mercado, que é entregar aos seus consumidores produtos livres de conversão de ecossistemas nativos: além de abrir e manter mercados, o desmatamento zero é um estímulo ao desenvolvimento de outras alternativas econômicas em harmonia com a floresta e seus povos.

Fonte: Greenpeace

Republicação: http://amazonia.org.br/2018/06/para-especialistas-zerar-o-desmatamento-e-possivel-e-urgente/

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