Lorival Kulina saiu para caçar na manhã de sábado e não havia retornado. No final da tarde de quinta-feira (17), ele foi encontrado “bem de saúde” e sem lesões. Na foto acima, imagem da Base Etnoambiental da Funai no rio Curuçá, na TI Vale do Javari (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)
Por Leanderson Lima e Elaíze Farias, da Amazônia Real
Manaus (AM) – Após três dias desaparecido, foi encontrado o líder indígena Lorival Kulina, de 42 anos, da aldeia Bela Vista. A Equipe de Vigilância da Univaja (EVU), que ele integra, encontrou Lorival dentro da floresta. Com sinais de fraqueza e cansaço, a liderança estava “bem de saúde, sem apresentar graves lesões ou ferimentos, conforme avaliação preliminar realizada pelas equipes no local”, informou a Coordenação Regional do Vale do Javari da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Segundo o sobrinho Walclei Kulina, Lorival desapareceu em uma área próxima do igarapé Esperança, entre as aldeias Pedro Lopes e Nuntewa, do povo Kulina. A região, conforme Walcley, é uma área de “livre acesso” de pescadores e caçadores que entram de forma irregular na terra indígena. Esse tipo de presença fez com que familiares e integrantes da EVU logo se preocupassem com o paradeiro de Lorival. A reportagem da Amazônia Real chegou a publicar uma versão deste texto ainda com o líder desaparecido.
O líder indígena Lorival Kulina, de 42 anos, da aldeia Bela Vista, havia desaparecido no sábado (14) na região do rio Curuçá, na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. Lorival saiu pela manhã, após o café, e não retornava. “Ele não estava na aldeia, estava na fiscalização da equipe da EVU. Ele trabalha na EVU. Não sei se saiu para caçar ou para dar uma volta. Mas ele não retornou. Estamos muito preocupados. Os parentes estão se mobilizando, mas até agora nada. Ele é meu tio”, afirmou Walclei Kulina à Amazônia Real.
“No rio Curuçá, a gente mora no lado brasileiro, na terra indígena. Então tem muito pescador lá, tem muito invasor, de toda a cidade de Tabatinga, Atalaia do Norte e Benjamim Constant. Todos os invasores andam por essa área. É um pouco perigoso onde eles fazem a vigilância”, revelou Walcley, que é presidente da Associação Ibá Kulina do Vale do Javari. Essas três cidades ficam na tríplice fronteira do Brasil, Peru e Colômbia.
“Nessa hora a gente pensa tudo. A gente pensa que a cobra pode ter pegado ele, ou a onça pode ter comido ele, ou sofrido um acidente, ou também a gente pensa dos invasores terem pego ele por aí, na mata. A gente tem o exemplo do Bruno [Pereira, indigenista assassinado ao lado do jornalista britânico Dom Phillips, em 2022, no Vale do Javari], então todo cuidado é pouco. Não sabemos o que aconteceu com ele”, havia dito o indígena Kulina, antes de seu tio ser encontrado.
O povo Kulina é de recente-contato. Tem uma população de apenas 300 pessoas. Eles moram em três aldeias na região do rio Curuçá – Pedro Lopes, Nuntewa e Bela Vista. Segundo Walclei, a área tem muitos invasores. “Nossa região é muito complicada. Tem muito trânsito de pescadores. Eles sobem com caixa de gelo, sal, cartucho. Entram escondidos. Muitas das vezes o parente é muito ameaçado. É muita invasão. O cacique Raimundo, da mesma aldeia, foi ameaçado pelos pescadores há algumas semanas”, explicou.
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) chegou a encontrar alguns dos rastros de Lorival, porém estava com dificuldades nas buscas por conta das chuvas na região. Ainda segundo a Univaja, os rastros deixados não davam sinais de que algo grave tivesse acontecido com o indígena. A Univaja confirmou que o Exército Brasileiro, a Força Nacional e Funai atuavam nas buscas.
Procurada, a Funai informou que acompanhava o caso do desaparecimento do indígena como prioridade. “Desde que tomou conhecimento do caso, a Funai comunicou imediatamente o desaparecimento ao Exército Brasileiro, solicitando apoio para buscas na região. A Funai, em parceria com o Exército, está fornecendo suporte logístico às operações de busca, incluindo a disponibilização de embarcações e recursos para deslocamento”, disse a nota.
A Associação Ibá Kulina do Vale do Javari chegou a divulgar uma nota na qual pedia esforços de autoridades e parceiros para encontrarem a liderança desaparecida.
Morte de Bruno e Dom
Bruno e Dom foram mortos nas proximidades da Terra Indígena Vale do Javari, em Atalaia do Norte (a 1.136 quilômetros de Manaus). Na região fica a segunda maior a Terra Indígena (TI) do Brasil, atrás apenas da TI Yanomami, em Roraima e Amazonas. Na região, vivem mais de 6.317 indígenas de sete povos contatados (Kanamari, Kulina, Marubo, Matís, Matsés e Tsohom-Dyapá, este de recente contato, e um grupo de Korubo) e ao menos 16 referências a grupos isolados e não contatados. Outro grupo de indígenas Korubo permanece em isolamento voluntário.
A Justiça Federal do Amazonas tornou réus, no dia 10 de junho deste ano, mais cinco homens acusados de participar do duplo assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips, ocorrido em 5 de junho de 2022. Francisco Conceição de Freitas, Eliclei Costa de Oliveira, Amarílio de Freitas Oliveira, Otávio da Costa de Oliveira e Edivaldo da Costa de Oliveira vão responder pela ocultação dos cadáveres do indigenista brasileiro e do jornalista britânico. Os quatro últimos também responderão por corrupção de menor, por terem obrigado um adolescente a participar do crime.
Os réus aguardam o julgamento em liberdade, ao contrário de Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, Jefferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, e Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos”, os primeiros acusados pelo duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver e que estão presos em penitenciárias federais de segurança máxima. “Pelado” e Jefferson são réus confessos. O inquérito do caso Bruno e Dom foi concluído pela Polícia Federal (PF) em novembro, e apontou Rubem Dário da Silva Villar, o “Colômbia”, como mandante do crime.
Reportagem atualizada às 18h18 (horário de Manaus) para informar que ele foi encontrado e às 22h33 para uma nova redação.
Fonte: https://amazoniareal.com.br/indigena-da-evu-esta-desaparecido-no-vale-do-javari/
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