Capital do Amazonas dobrou os registros em apenas um dia ; Alto Solimões é foco
RIO – O número de casos de indígenas infectados com o novo coronavírus disparou e teve um aumento de 156% nas últimas 48 horas. No total, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), cresceu de nove para 23 o registro de contaminados desde segunda-feira. Até agora foram confirmadas oficialmente três mortes de três etnias distintas (kokama, tikuna e ianomâmi), duas delas no Amazonas, estado que concentra quase a totalidade dos pacientes (95%). No boletim divulgado nesta quarta-feira, há ainda 23 casos suspeitos à espera de confirmação.
Manaus ultrapassou o Alto Solimões em número de casos. A capital, que no início da semana tinha seis casos, registra agora 12 contra 8 da microrrregião, que inclui noves municípios.
Ainda no estado amazonense há casos registrados pelos distritos sanitários do Médio Rio Purus (1) e Parintins (1). O único fora dele é o Yanomami (1), localizado em Roraima, onde morreu na quinta-feira um adolescente de 15 anos. Em todo o país existem 34 (Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) divididos estrategicamente por critérios territoriais, tendo como base a ocupação geográfica das aldeias.
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No sábado, o Ministério da Saúde confirmou mais duas mortes de indígenas por coronavírus. Trata-se de um homem da etnia tikuna, de 78 anos, e de uma mulher da etnia kokama, de 44 anos, ambos moradores da região do Alto Solimões, onde há 8 casos confrmados.
Valter Tanabio Elizardo havia sido removido do Hospital de Tabatinga-AM, em UTI Aérea do Estado, para tratar de problemas cardíacos e estava internado no Hospital Delphina Aziz, na capital do Amazonas. Em 25 de março, havia sido transferido para o Hospital Adriano Jorge e, em 31 de março, para o Hospital Francisca Mendes, referência em Cardiologia. Durante o período de tratamento hospitalar, o teste para o novo coronavírus acusou positivo, o que agravou ainda mais seu quadro.
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Já a kokama Maria Vargas Castelo Branco estava internada desde 28 de fevereiro, também em Manaus transferida de São Paulo de Olvença, para tratamento de anemia hemolítica autoimune. De acordo com os médicos, o quadro da paciente agravou-se após a contaminação do novo coronavírus, quando passou a respirar por aparelhos. Ela morreu na quinta-feira. De acordo com o atestado de óbito, a indígena faleceu em decorrência de insuficiência respiratória aguda por Covid-19; anemia hemolítica autoimune; e lúpus eritematoso sistêmico.
Ianomâmis querem garimpo fora
A entidade que representa os direitos dos ianomâmi fez no sábado um alerta sobre o iminente aumento de casos entre indígenas contaminados com o coronavírus depois da morte do adolescente Alvanir Xrixana, de 15 anos, em Roraima. A Hutukara Associação Yanomami aponta falhas nos cuidados com o indígena desde o primeiro momento em que ele apresentou sintomas da Covid-19, há três semanas, e chama a atenção das autoridades responsáveis para a presença de garimpeiros na comunidade onde a vítima morava.
Localizada no rio Uraricoera, a aldeia ianomâmi onde morava Alvanir é rota de garimpeiros que atuam na região. De acordo com a entidade, são milhares deles que passam por essas águas o ano inteiro. “Agora sabemos que existe o risco da comunidade Helepe estar contaminada pela doença e ela pode continuar subindo o rio junto com os garimpeiros. O vírus pode invadir nossa terra, junto com os invasores que buscam o ouro”.
A organização pede à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e ao Distrito de Saúde Indígena Yanomami (Dsei-Y) que redobrem os esforços para evitar o contágio de seu povo pelo coronavírus que “nem os não indígenas conhecem, nem sabem curar”.
A organização também faz um apelo à Polícia Federal (PF), à Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao Exército para que retirem os garimpeiros de suas terras. Em dezembro, após O GLOBO publicar um especial sobre garimpo na região, a PF fez uma operação para prender suspeitos de movimentar 1,2 tonelada de ouro extraído de garimpos em Roraima e na Venezuela.
No domingo passado, uma reportagem do Fantástico, da TV GLOBO, mostrou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fez uma megaoperação para afastar garimpeiros e madeireiros legais de terras indígenas no sul do Pará. Destruiu barracos e incendiou tratores e máquinas. Dois dias depois, o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Azevedo, foi exonerado.
Além das três mortes registradas pela Sesai, há ainda outras duas que ficaram fora do balanço: uma senhora borari de 87 anos, de Alter do Chão (PA), e um senhor Muru de 55 anos, de Itacoatiara (AM), ambos só tiveram seus casos diagnosticados depois da morte. Eles não são contabilizados pela Sesai por estarem dentro de um contexto próximo do urbano, portanto, fora de aldeias.
Alto Solimões é foco
A primeira confirmação de um indígena contaminado por coronavírus no Brasil foi da agente de saúde Suzane da Silva Pereira, de 20 anos. Ao que tudo indica, ela pegou a doença do médico Matheus Feitosa, com quem trabalha atendendo as aldeias da região do Alto Solimões. Ele foi o primeiro caso do município de Santo Antônio do Içá, no sudoeste do Amazonas, onde a kokama mora.
Ela, por sua vez, contagiou mais três familiares com quem manteve contato: a mãe, de 39 anos; a filha Yara, de 1 ano e 10 meses; e o primo de quarto grau, de 37 anos, todos da etnia Kokama. Os exames do pai e do marido de Suzane deram negatvo.
Em entrevista ao GLOBO, por telefone, Suzane contou como tem sido a sua rotina desde que descobriu a doença, do medo de infectar seus familiares e do preconceito sofrido durante esse período que se isolou em casa. Ela ja está fora do período de quarentena e passa bem.
A população indígena foi incluída na segunda fase de campanha de vacinação contra a gripe que começa nesta quinta-feira. A antecipação se deu por conta da vulnerabilidade para adoecimento e complicações por gripe dessas comunidades.
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