O Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFICRSS), recebeu de 08 a 11 de abril, Operadores Indígenas de Direito, jovens, mulheres lideranças tradicionais e os estudantes do Centro, que participaram do Curso sobre “Turismo de Base Comunitária em Terras Indígenas – Garantindo Oportunidades para o Desenvolvimento Territorial”. A formação foi realizada pelo Departamento jurídico do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e ministrada pela consultora externa, Camila Barra da Negócios Comunitários. E conta com apoio da Ford Foundation.
A principal proposta foi levar informações às lideranças para que compreendam a cadeia do turismo, as normas, os instrumentos legais sobre visitação em terras indígenas, e os elementos essenciais para a boa gestão de empreendimentos turísticos conduzidos pelas próprias comunidades indígenas. Nesse sentido, a formação reafirmou o direito à autodeterminação e gestão do próprio território.
O turismo em terras indígenas é uma prática que já vem ocorrendo em algumas regiões, e essa formação surge como uma resposta direta às demandas das comunidades, que querem compreender melhor essa realidade e discutir seus caminhos com autonomia. A advogada Fernanda Félix, do povo Wapichana, esteve acompanhado os cinco dias de formação, reforçou que o CIR não impõe essa atividade, mas sim tem um papel de orientar sobre o tema.
“O CIR reforça que não se trata de impor essa atividade, mas de garantir que, se for de interesse das comunidades, ela ocorra de forma segura, respeitosa e alinhada com os Protocolos de Consulta, os Regimentos Internos e os Planos de Gestão Territorial e Ambiental. Temos visto ações externas sendo propostas sem diálogo adequado, o que pressiona as comunidades e dificulta o acesso à informação. Por isso, é essencial fortalecer a governança territorial e garantir que as decisões partam das próprias lideranças, com autonomia e protagonismo. Por isso, o CIR reafirma que a formação é um passo fundamental, alia o conhecimento jurídico, técnico e tradicional, fortalecendo nossa governança territorial e garantindo que as decisões estejam, de fato, nas mãos das comunidades, como deve ser”, explicou Félix.
A programação contou com diversos temas, entre eles: o que é Turismo de Base Comunitária, Etnoturismo em Roraima, Etnoturismo no mapa e documentos, Plano de Visitação e passos para a regularização da atividade, Arranjos de Negócios Comunitários para turismo, planos de visitação, PGTA e turismo indígena, modelos de outras iniciativas, preocupação e sonhos em relação ao turismo.
A consultora Camila Barra da Negócios Comunitários, trabalha com o tema há dez anos, recebeu o convite do CIR, para ministrar a formação e instigar as lideranças a discutir as potencialidades territoriais existentes nas comunidades indígenas de Roraima. Para melhor atender as expectativas, desde fevereiro deste ano, esteve dialogando com o departamento jurídico, para entender as iniciativas, invasões e pressões que o território vem sofrendo ao longo dos anos, além de entender melhor a legislação, e como que o turismo poderia ser realmente um negócio organizado nas comunidades indígenas.
“A gente preparou um material, fizemos uma seleção de trechos do livro digital que se chama Turismo Indígena, Modos de Fazer, que eu tive a alegria de organizar e editar junto com a organização Garupa e outros especialistas nessa temática, para a gente poder ter esse guia, esse passo a passo para não só apoiar essas discussões, esses cursos, mas para que a comunidade possa levar isso e discutir, construir e pensar assim como eles querem desenvolver o turismo”, explicou Camila.
O curso foi uma demanda das lideranças de base, é a segunda formação para fortalecer a autonomia das comunidades, ampliar o conhecimento sobre direitos territoriais, proteção cultural e boas práticas de etnoturismo com base no protagonismo indígena. A primeira ocorreu no ano de 2023, no Lago Caracaranã.
A liderança Cleonice wapichana, é Operadora Indígena de Direito, da região Murupu, mora na comunidade indígena Serra do Truaru, disse que receber o curso foi um grande aprendizado. “Esse curso veio justamente para nos orientar, as vezes são pequenas coisas que a gente precisa fazer um ajuste. Na minha comunidade não tem um ponto turístico grande, mas existe um ponto que é visitado e a gente precisa também estar fazendo essas orientações, mesmo que pequenas, colocando as nossas regras, até porque a minha comunidade tem Regimento Interno e esse regimento, tem que ser cumprido”, disse.
Para Eronilson Ambrósio, do povo macuxi, também Operador Indígena de Direito da comunidade indígena Pedra Branca, região das Serras, o curso foi importante, a região Serras, no município de Uiramutã tem o potencial em ponto turístico. “O curso foi muito importante para dar o primeiro passo. O planejamento e essencial, é viável para fazer acontecer o turismo na minha região e na comunidade”, destacou.
O Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do sol, localizado na comunidade indígena Barro, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, forma jovens indígenas, oferecendo conhecimentos teóricos e práticos, ferramentas essências para serem grandes lideranças e profissionais de referências em suas comunidades. É um dos espaços simbólicos e históricos.
Atualmente são 32 estudantes dos povos Macuxi, wapichana, Wai Wai e Yekuana, de diversas regiões de Roraima, eles também participaram da formação. A coordenadora administrativa do Centro Clemilce Monteiro, do povo Taurepang, se sentiu grata em receber um evento importante para complementar os conhecimentos dos alunos.
“São jovens escolhidos pelas suas regiões para buscar formação e conhecimentos voltado as suas realidades. E esse curso de Turismo de Base Comunitária foi mais um complemento para as suas formações. Quem sabe no futuro o Centro de Formação será também um local de visitas, né!? Por ser espaço histórico para nós, onde iniciou uma caminhada de muitas lutas e resistências, e por ser uma escola de formação de lideranças comprometido com seu povo e seus territórios indígenas”, declarou.
Ao final da formação, todos os participantes receberam certificados.
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