O Centro Maturuca, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS), sediou, entre os dias 19 e 23 de agosto de 2025, um importante encontro para a revisão dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA). A TI, que foi o primeiro centro a construir e implementar seu plano de gestão, volta a ser protagonista nesse processo, que reuniu aproximadamente 100 participantes entre jovens, mulheres, homens e lideranças tradicionais.

O encontro teve como objetivo revisar o PGTA da região Serras, que compõe nove centros e 78 comunidades indígenas. O processo é mais do que uma simples atualização documental; trata-se de um intercâmbio de saberes, um momento de repasse de conhecimento entre diferentes gerações e comunidades. A atividade marca uma etapa crucial na revisão do Plano de Gestão Territorial e Ambiental unificado da região, que abrange também as regiões Raposa, Baixo Cotingo, Surumu e Ingaricó, esta última já com seu plano concluído.

O Departamento de Gestão Territorial, Ambiental e Mudanças Climáticas (DGTAMC) do Conselho Indígena de Roraima (CIR) foi o responsável por conduzir os trabalhos de orientação. A gestora ambiental e coordenadora do departamento, Sineia do Vale Wapichana, explicou a importância de revisar o Plano de Gestão Territorial e Ambiental da região: “A terra é uma só. A Raposa Serra do Sol foi demarcada como uma área contínua. A forma como os povos indígenas se organizam é por meio das regiões e de suas comunidades. Por isso, precisamos de um plano que reflita essa organização”, destacou Sineia do Vale.

O processo de revisão busca ajustar pontos ainda pendentes no documento e reforça que o plano não é algo fixo, podendo ser modificado. A cada dois anos, as lideranças deverão se reunir para avaliar e, se necessário, revisar o plano, incluindo ou retirando ações e temas, conforme os desejos e as necessidades das comunidades.

A revisão do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da região Serras foi concluída nesta sexta-feira (22). Abílio Moreira, liderança da comunidade indígena Campo Formoso, região Serras, participou ativamente do processo e destacou a importância da atividade para a preservação dos modos de vida tradicionais e a defesa do território: “Estamos encerrando a revisão do nosso plano de gestão territorial e ambiental. O objetivo é repensar a nossa vida cotidiana, cultural e tradicional, reforçando os nossos modos de vida”, afirmou Abílio. Para ele, o PGTA é uma ferramenta essencial para proteger os recursos naturais, considerados como o ‘espírito da vida’ das comunidades, base fundamental para a saúde, a educação e o bem viver dos povos indígenas.

O plano foi construído de forma coletiva, respeitando os conhecimentos próprios das comunidades locais. “Escrevemos o nosso plano conforme sabemos planejar e administrar, para continuar vivendo de forma sustentável”, explicou. Abílio também ressaltou que o novo plano busca enfrentar propostas legislativas que representam ameaças ao território indígena: “Esperamos que os nossos PGTAs interfiram nessas ameaças e reforcem a proteção do nosso território”, concluiu.

Lideranças durante revisão de PGTA. (Foto: Jacir Macuxi- Rede Wakywaa- ASCOM/CIR).
Lideranças durante revisão de PGTA. (Foto: Jacir Macuxi- Rede Wakywaa- ASCOM/CIR).

Além de servir como um documento interno para a gestão territorial e ambiental, o PGTA é também uma ferramenta de incidência política. Ele orienta o diálogo com instituições externas, como o governo federal e organizações da sociedade civil, no tocante a políticas públicas que afetam diretamente os povos indígenas.

De acordo com Sineia, o trabalho com os PGTAs na Raposa Serra do Sol teve início em 2011, conduzido pelo CIR, que desenvolveu metodologias específicas e adaptadas às realidades dos povos indígenas: “Uma das metodologias mais recentes permite a elaboração de planos em apenas 10 dias, demonstrando a capacidade de articulação e o protagonismo indígena na gestão de seus territórios”, destacou.

O Plano de Gestão Territorial e Ambiental do Centro Maturuca, inicialmente elaborado em 2011 como uma das primeiras experiências na região, foi revisado e fortalecido. Atualmente, integra o PGTA regional das Serras, articulando-se com os demais centros e comunidades da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. “As lideranças estão cada vez mais se apropriando do plano. Esse documento é fundamental não só para as comunidades aqui de Roraima, mas para o Brasil e para o mundo. É um exemplo de como os povos indígenas cuidam da terra e do meio ambiente”, afirmou Sineia.

A finalização da revisão marca um momento de reafirmação da autonomia e da resistência dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol na gestão e proteção de seus territórios tradicionais.

A atividade teve apoio da NIA TERO.

Fotos e Informações: Jacir Macuxi- Comunicador da rede Wakywaa.

Fonte: https://www.cir.org.br/post/centro-maturuca-sedia-revisao-dos-planos-de-gestao-territorial-e-ambiental-da-regiao-serras-ti-raposa-serra-do-sol