Sob forte chuva na manhã desta terça-feira (07), teve início a X Assembleia Estadual da Juventude Indígena de Roraima, com o tema: “O protagonismo da juventude indígena nos espaços de luta”. O evento ocorre na comunidade indígena Sucuba, na Terra Indígena Sucuba, região do Alto Cauamé, no município de Alto Alegre.
A abertura foi marcada por cantos, danças tradicionais e apresentações das delegações das regiões Serra da Lua, Alto Cauamé, Amajari, Tabaio, Murupu, Serras, Baixo Cotingo, Surumu e Raposa.
A mesa de abertura contou com lideranças da comunidade anfitriã, representantes do Departamento da Juventude, da Coordenação Executiva do Conselho Indígena de Roraima (CIR), lideranças das regiões presentes e convidados.
Durante a cerimônia, a coordenadora da região Alto Cauamé e tuxaua da comunidade Arapuá, Suzane Lemos, agradeceu a presença de todas as delegações. “Ficamos muito felizes em receber todas as regiões do estado. Agradeço de coração o empenho de cada um para chegar até aqui, sei que não é fácil. Desejo uma boa assembleia a todos”, disse.
Os tuxauas gerais do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Amarildo Macuxi, Paulo Ricardo e Kelliane Wapichana, também deram boas-vindas aos jovens. “Cada um de vocês tem sua história. A vida dos povos indígenas está em risco. Devemos refletir sobre a nossa trajetória e olhar para a essência da nossa luta coletiva”, destacou Kelliane.
O vice-tuxaua, Paulo Ricardo, expressou entusiasmo com o encontro. “Estou animado e me sentindo fortalecido. Espero que vocês se sintam assim também. Juventude, sejam muito bem-vindos. Esse momento foi organizado para vocês, com união. Expressem seus sentimentos, juventude.”
Já o tuxaua geral, Amarildo Macuxi, reforçou a importância da autonomia da juventude. “Essa assembleia é para formar jovens. O jovem tem liberdade para escolher seu caminho. Hoje, temos muitos jovens na linha de frente da luta.”
Encerrando as falas de abertura, a coordenadora da juventude, Raquel Wapichana, celebrou a realização da assembleia. “Estamos conseguindo realizar a décima assembleia da juventude. Isso é uma conquista coletiva.”
Durante a programação, aprovada pela assembleia e conduzida por Joenia Macuxi, liderança jovem da região Alto Cauamé, os coordenadores regionais compartilharam informes sobre suas iniciativas, os desafios enfrentados em seus territórios e os avanços do Departamento da Juventude. Cada representante apresentou os projetos desenvolvidos com os jovens em suas respectivas regiões.






Lideranças presentes na X Assembleia Estadual da Juventude. (Fotos: Divulgação CIR).
Fabiano Paulino, jovem coordenador da região Baixo Cotingo, destacou a importância do momento como espaço de reflexão e fortalecimento coletivo. Segundo ele, a juventude da região tem atuado com projetos voltados à bovinocultura e avicultura, além de ter participado de atividades como seminários sobre saúde mental. “Temos 43 comunidades na minha região, e trabalhar com todas é um grande desafio. Essa troca que tivemos aqui vamos levar para o nosso território. Obrigado pela oportunidade”, afirmou.
Leididaia Batista, coordenadora da juventude do povo Macuxi da região das Serras, apresentou as ações implementadas junto aos jovens, como os projetos de agrofloresta, roça da juventude, bovinocultura, horticultura, piscicultura e caprinocultura. “Esses são projetos importantes que fortalecem nosso trabalho com a juventude indígena”, destacou.
A estudante de Direito e liderança, Carla Jarraira, e a psicóloga, Iterniza Macuxi, tiveram oportunidade na programação. Iterniza, que atuou no CIR e no Distrito Especial de Saúde Indígena (DSEI Leste) e agora na Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), falou sobre sua atuação no movimento indígena e ressaltou a importância de tratar a saúde mental nas comunidades, encorajando os jovens a buscarem apoio sempre que necessário.
Carla Jarraira, da região da Raposa e integrante do Conselho Nacional de Políticas Indigenistas, tem contribuído com reflexões importantes sobre a participação da juventude indígena nos espaços de decisão, tanto em nível local quanto nacional e internacional.
Ela destacou a oportunidade de ter participado da 60ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, como um momento marcante. “Estar naquele espaço, ouvindo e dialogando com relatores da ONU sobre temas como direitos dos povos indígenas, mudanças climáticas e demarcação de terras, representou uma grande responsabilidade. Ao mesmo tempo, foi uma experiência de fortalecimento, aprendizado e emoção.”
Carla ressaltou que a presença da juventude nesses espaços faz a diferença. “Levar a visão e vivência dos povos indígenas a um espaço internacional é uma forma de educar o mundo sobre o cuidado com a vida e sobre justiça climática.”
Ela também mencionou as entregas dos protocolos e do portfólio do Conselho Indígena de Roraima como parte de sua participação, destacando que o Brasil não leva apenas problemas à arena internacional, mas também apresenta soluções concretas, como as iniciativas bem-sucedidas do CIR.

A pauta ainda incluiu uma apresentação sobre como os departamentos do CIR vêm contribuindo para o fortalecimento da juventude nos territórios. Os representantes destacaram a estrutura de funcionamento e as ações que vêm sendo desenvolvidas nas comunidades indígenas de Roraima.
Participaram os Departamentos de Projetos, Comunicação, Jurídico, Departamento de Gestão Territorial e Mudanças Climáticas (DGTAMC), Mulheres, Juventude, Monitoramento, Fundo Indígena Rutî, o Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS), além da Coordenação Executiva do CIR.
A programação da assembleia segue até a próxima sexta-feira (10), com debates sobre os desafios atuais enfrentados pelos povos indígenas e estratégias de fortalecimento da luta. Todos os dias de assembleia terão encerramento com noite cultural.
Texto: Márcia Fernandes
Fotos: Charles Taurepang- ASCOM/CIR, Gleydson Luan e Denismar Batista- Comunicadores da Rede Wakywaa CIFCRSS e Baixo Cotingo
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