Antes de apresentar o diagnóstico, Fundo Pakará relembrou seu regimento e forma de atuação (Foto: Angélica Queiroz – Iepé)
Diagnóstico do Fundo Pakará foi apresentado na Assembleia, onde também se debateu educação, saúde, fortalecimento cultural, proteção territorial e enfrentamento à praga da mandioca
Texto: Angélica Queiroz
Depois de apresentar o diagnóstico de sua caravana na assembleia da Associação dos Povos Indígenas Tiriyó, Katxuyana e Txikuyana (APITIKATXI), o Fundo Pakará levou os resultados da visita às 28 aldeias do lado leste da Terras Indígenas Parque do Tumucumaque e do Rio Paru d’Este para a assembleia da Associação dos Povos Indígenas Waiana e Aparai (APIWA). O encontro aconteceu entre os dias 3 e 8 de novembro, na aldeia Bona, reunindo mais de cem caciques e lideranças do lado leste do território.

As assembleias da APITIKATXI e da APIWA são as instâncias máximas de deliberação dessas Terras Indígenas, onde, conforme o regimento do Fundo Pakará, devem ser tomadas as decisões de prioridades. Por isso, o Comitê Gestor era esperado para apresentar um relato das visitas, realizadas entre julho e setembro, que percorreram as aldeias para ouvir as comunidades e realizar um diagnóstico. Durante a apresentação e as discussões na assembleia, temas como saúde, educação e infraestrutura estiveram em destaque.
“Foi muito bom, porque o pessoal pôde tirar suas dúvidas e deixamos claro que seguimos o regimento, executando o que foi definido nas assembleias”, contou Panape Apalai Waiana, membro do Comitê Gestor, que conduziu a apresentação em Bona. “Tínhamos prometido que a caravana daria um retorno às comunidades e cumprimos”, completou. Segundo ele, a aprovação das demandas nas assembleias representa um passo importante para o amadurecimento do Fundo, que agora deve planejar suas prioridades e definir estratégias para captar novos recursos.

No terceiro dia, a assembleia contou com a presença de representantes da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Amapá e Norte do Pará e da Secretaria de Estado de Educação do Amapá (SEED). Os representantes dos órgãos de governo, que também acompanharam a apresentação do diagnóstico do Pakará, discutiram e alinharam próximos passos com as lideranças presentes.

No quarto dia, a Articulação de Mulheres Indígenas Waiana e Aparai (AMIWA) marcou presença destacando a importância de fortalecer a cultura e transmitir os conhecimentos tradicionais às mais jovens, mencionando as oficinas de confecção dos weju (saias tradicionais) realizadas durante o encontro de mulheres em 2023. O grupo discutiu ainda a criação de um fundo voltado às artes inspirado no Fundo de Artes e Artesanatos Wëriton Iyeripo, das mulheres do lado oeste do território. Presente na assembleia, Mitore Kaxuyana, uma das idealizadoras desse fundo, compartilhou a experiência de sua implementação com as parentes.
Enfrentamento à praga da mandioca
A vassoura-de-bruxa da mandioca também foi tema de discussão. “As mulheres são a maioria que trabalha na roça, por isso é importante trazer essa pauta para a assembleia”, destacou Cecília Apalai, uma das lideranças do lado leste. Durante toda a manhã, várias mulheres compartilharam suas experiências sobre o problema, que se espalhou pelo território e vem comprometendo a segurança alimentar de muitas famílias, já que a mandioca é um dos principais alimentos de sua base alimentar.
O Iepé tem apoiado os povos do Tumucumaque no enfrentamento da doença. Desde o ano passado, o assessor João Covolan realiza oficinas com as comunidades locais sobre o manejo das roças afetadas e medidas de prevenção para evitar a contaminação de novas áreas. Segundo ele, o enfrentamento só é possível de forma coletiva, já que o fungo causador da vassoura-de-bruxa se espalha pelo ar e exige cuidado conjunto. “Se alguém não cuidar da sua roça, pode prejudicar quem teve esse trabalho. É preciso planejamento e organização para que todos se ajudem neste momento”, ressaltou.
Algumas estratégias implementadas após as oficinas com o Iepé já tem mostrado resultados positivos em algumas aldeias. Por isso, João reforçou com os parentes a necessidade de continuarem tratando as roças e eliminando as plantas doentes, que precisam ser queimadas. Ele explicou ainda que a doença se espalha com mais facilidade no inverno. Por isso, tratar as roças e eliminar as plantas doentes agora no verão é fundamental para aumentar as chances de as próximas roças crescerem saudáveis.

Depois da pauta das roças, servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e assessores do Iepé participaram, remotamente, para falar de proteção territorial. As novas tecnologias, como drones e aplicativos, foram destacadas como aliadas para fortalecer esse eixo do plano de vida. A equipe também compartilhou com a assembleia resultados das últimas ações de monitoramento realizadas por meio desobrevoos e outras ferramentas.
Coordenação da AJIWA e da APIWA
A Associação das Juventudes Indígenas Waiana e Apalai (AJIWA), criada pelos jovens em 2021, também teve espaço. O grupo discutiu formas de fortalecer sua articulação e definiu uma coordenação provisória para garantir a continuidade das atividades. A expectativa é que uma eleição seja realizada no encontro de jovens previsto para 2026, quando será escolhida uma equipe definitiva. Também foi debatida a criação de um coletivo de cinema, como estratégia para ampliar o engajamento da juventude na região.
O último dia da assembleia foi dedicado à eleição para a diretoria da APIWA. Eleitores de todas as aldeias representadas pela associação participaram do pleito, realizado conforme regras definidas e acordadas entre todos os presentes. Confira abaixo quem foram os representantes eleitos:
- Presidente: Arinaware Apalai Waiana;
- Vice-presidente: Mahkai Apalai;
- Primeira tesoureira: Cecilia Apalai;
- Segundo tesoureiro: Suneiman Tiriyó;
- Primeiro secretário: Amiakare Apalai;
- Segundo secretário: Marakarepo Apalai.

A assembleia foi realizada pela APIWA, com o apoio técnico do Iepé, e financeiro da Nia Tero, LLF, Bezos e Embaixada da Noruega.
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