Em homenagem ao Dia do Índio, celebrado hoje, dia 19, o site Amazônia conta a história do povo Karipuna, autodenominados ahé, ou seja, gente verdadeira

“É difícil ser índio na situação que estamos vivendo no Brasil, as pessoas não conhecem a real situação dos povos indígenas, suas culturas e modos de vida e logo apontam o dedo e julgam”, desabafa Eric Karipuna, presidente da Associação dos Povos Indígenas Karipuna (Apoika).

Durante o momento de pandemia que estamos vivendo por conta do novo coronavírus, o povo Karipuna corre o risco de um iminente e fatal genocídio que ressurge agora de modo ainda mais preocupante, seja em função de um potencial ataque dos invasores em suas terras, seja devido à possibilidade desses invasores contaminarem os Karipuna com o coronavírus.

“O pessoal está isolado a mais de vinte dias, seguem mantendo suas atividades normais do dia a dia como pesca e caça, recebem cestas básicas através dos nossos parceiros para não precisarem ir até a cidade”, explica Eric.

A preocupação dos Karipuna é grande, na década de 1970 quase foram exterminados por doenças contagiosas transmitidas durante o processo de contato com a sociedade não indígena protagonizado pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

Os óbitos foram em grande escala, originados por gripes e pneumonia. Os Karipuna, sem os anticorpos necessários, morriam rapidamente. A Funai chegou a abrir uma pista de pouso na margem direita do Jacy-Paraná para tentar prestar um atendimento mais rápido, mas não funcionou. Naquela época, o povo Karipuna foram reduzido a apenas oito pessoas: quatro adultos e quatro crianças. Atualmente, sua população totaliza 58 pessoas.

Junto com a perda dos ancestrais, perdeu-se também parte da cultura Karipuna e sua língua nativa, o povo era festeiro, faziam festas como a da menina moça, festa da castanha e do peixe. “Se reerguer está sendo um processo bem lento para nosso povo”, declara o presidente da associação Karipuna.

Outra grande preocupação é o fato de que a Terra Indígena (TI) está localizada no olho de um furacão, devido à pressão de madeireiros, pescadores e grileiros que estão adentrando na mesma em todos os seus quadrantes. Ultimamente, invasores começaram a criar loteamento ilegais dentro da área indígena, na expectativa de que área seja reduzida ou que sejam aprovados projetos que permitam a exploração das áreas, como prometeu em campanha o presidente Jair Bolsonaro.

O Greenpeace e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), parceiros do povo Karipuna, protocolaram, em julho de 2018, no Ministério Público Federal de Rondônia (MPF-RO) uma denúncia de que a destruição da floresta na TI Karipuna era quase de 10.463 ha de florestas degradados e desmatados desde 1988, sendo que mais de 80% desta destruição ocorreram entre 2015 e 2018.

A Polícia Federal iniciou em 2019 uma ação denominada SOS Karipuna, com o objetivo de desarticular organizações criminosas instaladas na região da Terra indígena karipuna, com ponto central de atuação no distrito de União Bandeirantes, município de Porto Velho (RO).

Operação organizada pela Funai na TI Karipuna em maio/2019. Foto: Arquivo Funai

Os trabalhos foram frutos de ações conjuntas com o Ministério Público Federal do Estado de Rondônia, através da Força Tarefa Amazônia e com o Exército Brasileiro, contando com o apoio essencial do IBAMA, FUNAI, Polícia Militar Ambiental/RO, Força Nacional de Segurança Pública, CENSIPAM e Receita Federal.

Por conta da suspensão de fiscalização decorrente da pandemia, a terra voltou a ser alvo de invasões no começo de abril deste ano, indígenas Karipuna foram surpreendidos ao avistar quatro invasores limpando uma área de floresta a menos de dez quilômetros da Aldeia Panorama, dias antes eles ouviram constantes ruídos de máquinas e motoserras, também próximos à aldeia, explicitando que invasores voltaram ao seu território tradicional.

Juntamente com o Greenpeace e o Cimi, a Apoika escreveu uma carta pedindo novamente a tomada de medida para combater a grilagem em curso da TI, até o momento nenhum órgão federal respondeu as organizações.

Histórico da TI

Os indígenas Karipuna estão localizados nos municípios de Porto Velho e Nova Mamoré, em Rondônia, a TI possui 153 mil hectares, foi homologada em 1998 e tem como limites naturais os rios Jacy-Paraná e seu afluente pela margem esquerda, o rio Formoso (a leste); os igarapés Fortaleza (ao norte), do Juiz e Água Azul (a oeste) e uma linha seca ao sul, ligando este último igarapé às cabeceiras do Formoso

Não se sabe a origem da denominação “Karipuna”. Os primeiros relatos sobre esses índios os designavam como “Bocas Pretas” devido à tatuagem permanente de jenipapo que ostentam ao redor da boca, a língua falada por ele pertence à família Tupi-Guarani.

Os primeiros contatos dos Karipuna com segmentos da sociedade não-indígena ocorreram quando seringueiros começaram a penetrar os afluentes do alto rio Madeira, no primeiro boom da borracha, nas primeiras décadas do século XX.

É preciso destacar que esse grupo Karipuna não possui qualquer vínculo com o grupo também conhecido como Karipuna que habita no estado do Amapá.

Por: Nicole Matos
Fonte: Amazônia.org.br

 

Fonte: https://amazonia.org.br/2020/04/dia-do-indio-invasoes-desmatamento-e-o-risco-de-um-novo-exterminio-do-povo-karipuna/

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