Tiago Hakiy, de origem Sateré-Mawé, mostra que viver em estado de poesia faz a vida florescer mesmo no isolamento. Um poeta ilhado não pelas águas no período da cheia amazonense, mas na rotina como responsável pela única biblioteca pública de Barreirinha. É a realidade de um acervo escolar que não tem nenhum dos 13 livros publicados pelo escritor ou qualquer exemplar de outros autores indígenas contemporâneos. A terceira edição de A palavra como flecha, que apresenta as histórias de vida de personalidades indígenas da Amazônia Legal, traz a reflexão do poeta sobre o incentivo à produção e partilha da escrita como ocupação de um espaço político, poético e de afirmação da tradição. Com Tiago e o seu amor pelo rio Andirá, temos a chance de alcançar o limite da terceira margem da qual avistamos, através da oralidade e dos saberes ancestrais, o poder da floresta. 

Por Marcelo Carnevale, da Amazônia Real

A descoberta poética da ancestralidade

O caminho que nos aproxima da poesia nunca é óbvio, quase sempre precisa ser inventado. Ler poesia demanda essa abertura, ler a alma do poeta também. Os primeiros contatos com Tiago Hakiy trouxeram a possibilidade de conhecer a realidade ribeirinha do Paraná do Ramos e do rio Andirá. São dois afluentes do rio Amazonas que, no período de dezembro a maio, adentram as casas sem pedir licença e dissolvem os limites do que é rio e do que é cidade, no caso do município amazonense de Barreirinha.

A partir daí, dificuldade e contemplação compõem o repertório para lidar com as condições adversas de vida: uma região inundada que coloca uma população inteira em compasso de espera, sem alardes. É a época da cheia amazônica e os ciclos são outros para surpresa de quem desconhece a rotina no interior da região norte do país.

Ao ouvir a fala empostada de Tiago nos primeiros contatos, me flagrei diante do desafio de compreender o que estava em jogo naquela forma de se expressar. Concluí que era a necessidade de destacar a qualidade das situações e das coisas para rechaçar qualquer ameaça de comoção equivocada pela inundação. Uma distinção compatível com o enaltecimento de tudo que faz parte da natureza: “Bom dia! Saudações do coração da floresta amazônica” “Meu caro, que a brisa suave do Andirá chegue até a selva de concreto”. A voz de Hakiy expressa uma reivindicação para si e para o mundo que diz menos do estilo da sua escrita e mais de um papel exercido com muito empenho: o de poeta de origem Sateré-Mawé, pertencente à comunidade de Barreirinha. Lugar no qual reside e que é a cidade natal do mais importante poeta da Amazônia, Thiago de Mello.

São momentos muitos distintos que marcam a atuação e a presença de ambos no município cercado de rios. O “bardo de Barreirinha”, como evoca Hakiy ao lembrar Thiago de Mello, imprimiu um estilo e uma produção de fôlego compatível a uma geração influenciada por nomes como Pablo Neruda, Gilberto Freire, José Lins do Rego, seu grande amigo de quem cuidou no final da vida. Autor do poema Faz escuro mas eu canto que serviu de tema para a 34º Bienal de São Paulo, em 2021, e, também, de Os estatutos do Homem, Thiago de Mello foi um embaixador da vida ribeirinha, cabocla e amazônida por 70 anos de produção literária. Surgiu num contexto em que a poesia ganhou destaque na cena intelectual brasileira, após a fase que ficou conhecida como literatura regionalista, e que se consagrou como a geração de 45.

Muito distante deste momento, Hakiy começou a publicar na primeira década dos anos 2000 e uniu sua voz com as dos que reivindicaram e continuam a reivindicar a expressão da cosmogonia indígena, como seus legítimos representantes. O início da jornada não se deu com essa clareza de propósito, como ele destaca ao tratar da importante influência que recebeu de Daniel Munduruku, pioneiro e incentivador dos novos escritores indígenas. 

Ao conhecer o jovem escritor no início da carreira, Daniel Munduruku fez a provocação para que ele assumisse uma poética em diálogo com a própria ancestralidade. O encontro foi o estopim para a transição de estilo na qual Tiago abandonou a poesia regionalista e o olhar caboclo que marcava o período em que assinava seus trabalhos como Carlos Tiago; passou a recuperar a memória dos mais velhos, suas experiências quando criança, para trazer à tona a cultura do povo originário da região, os Sateré-Mawé, quando assumiu o sobrenome indígena Hakiy, que significa “morcego” na língua Sateré.

 O convite de Daniel Munduruku foi potente e generoso. Persistiu através de várias agendas no circuito literário e na inclusão de Tiago Hakiy na rede que, segundo o próprio Daniel, hoje contabiliza mais de trinta nomes de autores indígenas que surgiram ao longo dos últimos vinte anos. Tiago conta com entusiasmo, “Eu comecei a ler os livros dele e de outros escritores indígenas como Yaguarê Yamã, Roni Wasiry Guará e entender que podia fazer esse trabalho de resgate cultural da nossa história, da nossa ancestralidade”.

 Autores presentes nesse grupo – entre os quais constam nomes como os de Olívio Jekupé, Ailton Krenak, Graça Graúna, Eliane Potiguara, Davi Kopenawa Yanomami e Cristino Wapichana – promoveram e continuam a buscar a aproximação necessária entre o que é possível partilhar dos mitos de origem dos povos originários com o Brasil ocidental, sem mediações, sem pedir licença para os brancos letrados. 

 Essa aliança entre escritores ecoou e continua a reverberar em outras paragens, ela garante a presença em lives concorridas, grupos de pesquisa, festivais literários, debates e rodas acadêmicas sobre literatura indígena. Cumpre um papel estratégico de fazer circular e garantir alguma renda para os participantes, entretanto não chega a afetar minimante a vida cultural em Barreirinha explicitando as dificuldades de aproximar a arena global da vida ribeirinha.

Na sequência dos contatos telefônicos que mantive com Tiago, nossa primeira interação por vídeo se deu pela mediação da professora Ana Luiza de Souza e do professor Matteo Migliorelli, num encontro promovido na Semana da Língua Portuguesa e da Cultura dos países de língua portuguesa, na Universidade de Pisa, Itália. Dessa forma, cheguei primeiramente em Barreirinha pela Itália e me senti tão estrangeiro quanto os alunos italianos no que dizia respeito ao desconhecimento geral que temos, no Brasil ocidental, sobre a produção literária indígena acima da Linha do Equador.

O estranhamento do grupo foi além e teve a ver, também, com o próprio Tiago ao evocar o poder dos rios amazônicos e declarar, em tempo real, que a conversa se dava com seus pés livremente cobertos pelas águas da cheia que visitam seu escritório com peixes e tudo o mais, bem como todos os outros cômodos da casa àquela época do ano. Um ato performático que fez da palavra algo mais aderente ao momento do ciclo das chuvas em contraponto à fluidez desprovida de contato físico da internet.

Ao decidir permanecer com os pés nas águas do rio que assumia o controle da própria casa, como rio-casa, Hakiy revelou o convite que faz a partir de uma compreensão de si e do lugar que ocupa. Naquele contexto, o lugar de fala deixou de ser uma retórica desgastada e passou a implicar num estado de prontidão, como contato e improvisação na dança, como espiritualidade encarnada, como resistência na própria pele. Como afirmação do desejo de incluir a vida e a rotina de Barreirinha na agenda europeia.

A cena deu as primeiras pistas do atual projeto literário de Hakiy, coerente com o percurso do menino que se alfabetizou tardiamente, com onze anos, quando se mudou da Freguesia do Andirá, pequeno vilarejo separado 10 km pelas águas do rio que o nomeia de Barreirinha, e passou a morar com a família de Thiago de Mello, na casa do Porantim do Bom Socorro, no mesmo município. Lá, descobriu outra floresta, a das letras, e a vida num cotidiano que não estava apartado dela.

O encontro com o poeta e sua companheira à época, Aparecida Gore Maia, foi repleto de contradições e choques adaptativos, mas também foi responsável pelo legado que inaugurou o amor à poesia e o entendimento do valor da autonomia como artista. “Tinha minha curiosidade de descobrir o que aqueles livros ofereciam. Mesmo antes de aprender a ler, descobri o caminho das palavras, dos livros, da leitura. A esposa do poeta lia para mim, no final da tarde e à noite antes d’eu dormir. Pela contação de histórias comecei a navegar nos livros através dos ouvidos”.

Depois descobriu sozinho o caminho de vários outros livros, não só os escritos para crianças, mas os de autores que considera fundamentais como Elson Farias, Anibal Beça e o próprio Thiago de Mello. Aos quinze anos, a paixão adolescente foi o motivo da primeira produção poética. “Era tímido, me vali da palavra, da poesia. Desde então eu entendi que a poesia é um instrumento para a gente se libertar das dores, mas também compartilhar as belezas, embelezar o mundo.”

A juventude com esses contornos criou as condições para que experimentasse, através dos anos vividos na casa do Porantim, um estado de arte permanente. Com Thiago de Mello viveu a rotina da visita de artistas, intelectuais e viajantes num endereço imponente, mas nem por isso apartado da vida de Barreirinha. Sem dúvida, o que poderia ter se tornado um trampolim para o distanciamento das origens funcionou para Hakiy como um salto mortal em direção às raízes. Mais tarde, após concluir os estudos e retornar de Manaus, com a decisão de se estabelecer na cidade ribeirinha, confirmou o legado dessa convivência intensa. 

A biblioteca sem identidade

O escritor de origem Sateré-Mawé, Tiago Hakiy
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Permanecer em Barreirinha, em condições adversas como um ato poético, mas também como um ato político. Formado em biblioteconomia pela Universidade Federal da Amazônia, UFAM, Hakiy é o único bibliotecário em atividade no município com pouco mais de 30 mil habitantes.

Há cinco anos lotado na Escola Estadual Maria Belém, Tiago experimenta o desafio de engajar alunos numa jornada de trabalho que se dá em seis horas diárias, subdivididas em três expedientes de duas horas para abarcar todos os três turnos e seus diferentes perfis. Durante o dia, concentram-se os alunos do período integral, entre 15 e 20 anos; à noite, os mais velhos que já trabalham, bem como mães solteiras e casais.

O empenho de Hakiy como bibliotecário é o de promover o engajamento dos leitores novatos. “Os mais jovens gostam de poesia que fale de amor, os mais velhos buscam reforço para provas e concursos. Trata-se de um público em formação, não posso dar um clássico para um leitor que não está preparado, penso sempre numa literatura de transição”. 

Por ser a única biblioteca da cidade, o acervo que inclui literatura infanto-juvenil também está disponibilizado para a comunidade em geral, mas a presença de crianças ainda não é significativa. “A aposta são os livros ilustrados. A ilustração cumpre um papel de reinvenção do livro para um olhar mais encantador da história. Mas ainda é preciso um esforço de comunicação para os pais saberem que podem trazer seus filhos aqui”.

Se a floresta dos livros é um ecossistema familiar para Hakiy, cuidar da biblioteca da cidade foi um caminho estratégico para manter-se nesse universo mesmo com as dificuldades gerais e uma política de aquisição desfavorável para a produção local. O trabalho de criar e recontar a história do seu próprio povo não encontra eco nem Barreirinha, nem no governo estadual. “Eles não levam em consideração a minha realidade e nem a dos escritores locais, tampouco a vontade dos leitores. São decisões tomadas numa esfera superior que eu não domino. Na biblioteca não tem nenhum livro de Thiago de Mello e os alunos procuram. Eles têm curiosidade de conhecer.”

Paradoxalmente, a biblioteca da Maria Belém também não tem nenhum dos 13 livros publicados por Hakiy. O que circula resulta da política de compras e distribuição do Governo do Estado do Amazonas e da falta de entendimento da importância de incentivar a leitura de escritores da região. Um descaso com a própria história da cidade de Barreirinha.

Outros autores barreirenses como Eupidio Nunes se somam ao esforço de promover a literatura local. Tiago enfatiza essa importância e lembra que desde criança se lê livros que são de fora, que falam de uma realidade distante que não é a deles. “Quando a gente tem um autor que fala sobre as nossas frutas, sobre o rio Andirá, sobre o Paraná do Ramos, que usam a inspiração do céu estrelado de Freguesia do Andirá tudo fica mais próximo do leitor daqui.”

O cenário é o mesmo em toda a região. A literatura indígena não está presente, mesmo com a Lei 11.645, de março de 2008, que obriga o estudo da cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e que possibilitou que o mercado editorial crescesse expressivamente nesse segmento. Na avaliação de Hakiy, “as editoras não estão preocupadas com a preservação da cultura ou com o estudo da língua, quando nos lançam. Elas querem vender livros. Os editais para compra desses livros ainda são muito incipientes, acontecem somente no centro do Brasil. Nas regiões onde os povos indígenas vivem em grande quantidade, como na região norte, tudo ainda é muito insignificante.”

Tiago percorre as prateleiras da biblioteca e mostra títulos que considera relevantes. A grande maioria faz parte das publicações da editora Valer sediada em Manaus, com um conselho editorial com perfil acadêmico e títulos ligados à história da Amazônia. Percebe-se a ausência de autores que falem com um público mais amplo, sobretudo mais jovem. “A produção voltada para os nossos leitores se expande para outros pontos do país, por um olhar curioso de quem adota esses livros. Para a nossa comunidade, aqui e lá nas áreas indígenas, cujo leitor vai se identificar com histórias que estão nesses livros, nada chega.”

O desafio e o desejo do poeta de origem Sateré Mawé é que, para além dos não indígenas, os parentes possam ler os livros. Com bastante ênfase, Tiago diz que todos os autores indígenas escrevem primeiramente para os parentes. A realidade desarticulada que não dá conta desse endereçamento é inversamente proporcional à recepção que os títulos têm encontrado nas capitais culturais do país. 

A ironia dessa situação é conhecida por quem pratica um tipo de resistência no corpo a corpo do fazer literário. Autores não mais invizibilizados porque se articulam em rede e conquistam cada vez mais público aonde quer que cheguem. Se a dimensão da poética amazônida é indescritível pela riqueza da sua polifonia e diversidade étnica, cada escritor que se propõe a compartilhá-la nos aproxima do que se sente quando estamos diante da floresta. 

O rio ancestral, as águas literárias 

https://youtube.com/watch?v=UX0pihoSrJY%3Ffeature%3Doembed
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Os escritores indígenas trabalham e reinventam as condições de recuperação da própria ancestralidade de acordo com caminhos e contextos muito distintos; mais favoráveis se a comunidade zela pela memória, mais árduo se o movimento é individual. Tiago experimenta a condição do isolamento. Para se reaver com a tradição, necessitou superar na esfera íntima o que foi incutido como padrão sociocultural na sua educação escolar e na própria visão da maioria dos amigos, em Barreirinha. “Quando cheguei da minha comunidade, ainda criança, diziam que eu era indígena e eu tinha vergonha da minha origem. Lembro dos meus cabelos lisos, cortados arredondados.”

Foi preciso estudar sobre o próprio povo, voltar às comunidades e aldeias para conversar com os mais velhos, para entender como se vivia. “Saber de tudo que se perdeu como língua, histórias, grafismo, danças, rituais. Saber como era o Tucandeira, ritual de passagem Sateré-Mawé que estava quase acabando porque as novas gerações têm vergonha de dar continuidade. Eles acham ultrapassado.”

Aos vinte e oito anos de idade, começou suas pesquisas com o objetivo de promover essa recuperação. “A própria língua, eu quase perdi. Estava adormecida, só precisava acessar.” O primeiro livro como autor indígena, editado pelas Paulinas, Awyató-pói, histórias indígenas para crianças, conta a história de um herói Mawé. Um livro predominantemente de reconto, como Tiago o classifica. “Têm três histórias que são apenas recontos, mas eu não queria apenas ouvir as histórias e rescrever. Eu criei outra história e fiz pontes para o herói chegar onde eu queria. A figura da cobra é bastante presente nos meus livros, tem a ver com a origem do povo Mawé. Nesse primeiro livro, conto a formação do rio Andirá.”

Caminhamos juntos pelas ruas da Freguesia do Andirá, enquanto Tiago falava do mito de origem dos Sateré-Mawé que é centrado na história da cobra que foi para o céu e que faz o homem olhar para cima, mas como parte dela está enterrada a gente sempre, também, se volta para a terra. No caso da Freguesia do Andirá, o chão de terra batida preserva fragmentos de algumas peças de utensílios domésticos da época na qual a pequena comunidade ainda não tinha dúvida sobre a própria condição de território indígena. Hakiy sabe que não é possível reverter o curso da história. Na sua escrita o que está em jogo é uma aliança com memória oral e com o orgulho do pertencimento para fazer desse chão uma arqueologia potente porque, como diz Krenak, “o futuro é ancestral e a humanidade precisa aprender com ele a pisar suavemente na terra”.

Ao reconhecer nesses vestígios espalhados ao relento páginas escritas da própria história, a fabulação mostra a sua força e ganha mais que reconhecimento. Tiago é um dos autores selecionados pelo Itaú Social para a edição 2022 do programa Leia com uma criança, com o livro A pescaria do curumim e outro poemas indígenas, ilustrado por Taísa Borges. Ao me reencontrar, em São Paulo, estava ainda impactado com a perspectiva de ver sua história ser distribuída para secretarias de educação e OSCs (organizações da sociedade civil) que realizam ações de leituras com crianças. Os números da edição anterior do programa dão a dimensão do feito: aproximadamente 930 mil crianças alcançadas por meio de 3700 organizações, escolas e secretarias, em 1468 municípios brasileiros considerados mais vulneráveis. O livro contará com a distribuição gratuita, em dois milhões de kits que valorizam histórias, pessoas e culturas negras e indígenas. Dessa vez, os pássaros da floresta, os peixes das águas do Andirá e “os curumins que reinventam a vida no coração da Amazônia” chegarão mais perto dos parentes e dos não indígenas que habitam a várias dimensões do nosso território original, ocidental e poético.

Crianças pescam às margens do Paraná do Ramos em Barreirinha
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A pescaria do curumim

Curumim acordou cedo

Foi tomar banho no rio

Caiu na água, sem medo

Se enrolou em seus braços de frio

Curumim sentiu fome

Subiu no pé de goiabeira

Era alto, bonito, enorme!

De olhar, dava tonteira

Dançou com os ventos

Brincou com as folhas

Fez castelos de sonhos

Nas flores de amapolas

Curumim foi pescar

Pegou caniço, pegou minhoca

Queria peixe bem grande para saborear

Acompanhado de farinha e paçoca

Curumim remou bastante

Armou seu caniço no meio do igapó

Pegou peixes num instante

Até um baita sarapó

Era hora de voltar

Estava cansado de pescar

Curumim remou, remou

Contente, cantou, cantou

Com seu jirau, na aldeia chegou

Curumim estava cansado

Armou sua rede nas árvores

Fez carinho no seu xerimbabo

Desenhou sonhos nas nuvens

Nem percebeu quando escureceu

Fechou os olhos e adormeceu

  • O escritor de origem Sateré-Mawé, Tiago Hakiy (foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
  • Igreja em Freguesia do Andirá (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Crianças jogam futebol em Freguesia do Andirá (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Freguesia do Andirá (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Freguesia do Andirá (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Freguesia do Andirá (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Freguesia do Andirá (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Igapó em Freguesia do Andirá (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Tiago Haky às margens do Paraná do Ramos em Barreirinha (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Tiago às margens do Paraná do Ramos em Barreirinha (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
  • Escola em Barreirinha onde o escritor trabalha (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Paraná do Ramos próximo à Barreirinha (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Paraná do Ramos próximo à Barreirinha (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
  • Paraná do Ramos próximo à Barreirinha (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real

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Marcelo Carnevale é carioca e reside em São Paulo há 19 anos. Jornalista, mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Doutor em Humanidades pelo Diversitas, Programa de Pós-graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Pesquisa o conceito ampliado de vizinhança através de práticas dialógicas, de tecnologias comunitárias e do direito à cidade. Integra o grupo de pesquisa, ensino e extensão do Diversitas USP. Colabora com a Amazônia Real desde 2016.

Leia outras entrevistas da série:

https://amazoniareal.com.br/especiais/bro-mcs/embed/#?secret=6EXoBJrjP9#?secret=SyX7k8xpX0

Fonte: https://amazoniareal.com.br/especiais/a-palavra-como-flecha-tiago-hakiy/

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