A data de 1º de setembro de 2022 marcará a história do povo Akrãtikatêjê Gavião  da Montanha, da aldeia Hõpryre, localizada na Terra Indígena Mãe Maria, em Bom Jesus do Tocantins, perto de Marabá, no sudeste paraense. Mas não será por lembranças boas, ao contrário. Eles vão lembrar dos momentos de medo e tristeza por verem tudo o que tinham ser consumido por um incêndio, que, segundo as lideranças, destruiu 12 casas, a escola e o posto de saúde da comunidade. 

Segundo o Ministério Público Federal do Pará, o Corpo de Bombeiros está investigando as causas do incêndio. A suspeita é que o fogo de uma queimada na região tenha atingido a aldeia Hõpryre. As lideranças indígenas consideram que o incêndio foi criminoso. O estado do Pará foi o que mais registrou focos de queimadas no mês de agosto, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).  

A cacica Kátia Silene, da aldeia Akrãtikatêjê, vizinha da comunidade atingida, disse à agência Amazônia Real que acolheu as 12 famílias que ficaram sem moradia. São 31 pessoas, entre adultos e crianças. Ela conta sobre os momentos de tensão que todos viveram. “O meu povo se arriscou para salvar as vidas dos nossos irmãos que moravam do nosso lado. Não medimos esforços nem o tamanho do perigo que estávamos correndo. Foi um momento de desespero e de muita tristeza”, diz.

Segundo a cacica, botijões de gás explodiram e, além das casas, da escola e do posto de saúde, o fogo destruiu plantações e provocou a morte de animais. As famílias perderam documentos, roupas, móveis, utensílios domésticos e alimentos.

“Eles saíram só com a roupa do corpo. Foi tudo muito rápido. Esse incêndio criminoso começou às 10h e antes das 11h tudo já tinha sido consumido pelo fogo. Para se salvarem, eles correram rumo ao Igarapé do rio Flexeira, com crianças e bebês recém nascidos no colo e nos pediram ajuda,”, relata Silene sobre o desespero dos indígenas. Segundo Mpotomanti Lopes Hõpryre, cacique da aldeia atingida, não há feridos, mas psicologicamente todos estão abalados. 

No dia seguinte, o procurador da República Luís Eduardo Araújo, do Ministério Público Federal, esteve na comunidade para discutir ações preventivas contra novos incêndios. “Pedimos uma reunião com a Eletronorte e com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), já que o fogo começou pela BR. Vamos cobrar que eles nos ajudem a montar uma equipe de indígenas brigadistas para que possamos nos prevenir contra o fogo, que tem afetado a nossa região todos os anos. Estamos considerando como crime ambiental o ocorrido, pois morreram vários animais, as árvores nativas, tudo foi destruído”, disse o cacique sobre a reunião com o procurador.

A Terra Indígena Mãe Maria abriga uma das últimas porções de floresta preservadas no sudeste do Pará e é atravessada por empreendimentos que impactam a vida dos moradores. Há um linhão da Eletronorte, uma rodovia federal e a estrada de ferro Carajás, operada pela empresa Vale, que transporta minérios até o porto de Itaqui, no Maranhão. A ferrovia está sendo licenciada para duplicação, com a produção de Estudos de Impacto sobre as comunidades indígenas. 

Em nota, o Ministério Público Federal afirmou que as causas do fogo estão sendo investigadas. Além disso, segundo a nota, foi dito pelos indígenas que o governo do Pará se comprometeu a ajudar na reconstrução da aldeia. O MPF afirma que vai convocar a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Dnit e a Eletronorte para apoiar o trabalho de prevenção, já que constatou que isso precisa ser reforçado. 

Em 2019, o MPF chegou a fazer um procedimento contra o fogo na região e a Funai e o Ibama treinaram os indígenas. “Agora, os indígenas, inclusive o cacique da aldeia destruída, pediram auxílio para criar uma brigada de incêndio permanente, que seria formada por 60 indígenas e vai necessitar de equipamentos. No período do verão amazônico – de junho a novembro – queimadas criminosas costumam se alastrar pela região”, diz trecho da nota. 

A reportagem procurou via e-mail e telefone o Corpo de Bombeiros, a Funai e a empresa Eletronorte, mas as assessorias não responderam aos questionamentos até a publicação desta reportagem.

Solidariedade para reconstruir a aldeia 

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As 12 famílias indígenas Gavião atingidas pelo incêndio foram abrigadas na aldeia vizinha até que possam reconstruir suas moradias. A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) manifestou solidariedade com os povos da Terra Indígena Mãe Maria, a qual pertencem muitos dos seus alunos.

“Mobilizações em solidariedade às famílias atingidas já estão sendo realizadas pela comunidade acadêmica de nossa universidade. A administração superior da Unifesspa já está prestando o apoio logístico necessário para a arrecadação e o transporte de doações e, nos próximos dias, fará um levantamento detalhado da situação para atender aos nossos discentes e seus parentes afetados pelo incêndio”, diz nota da universidade. 

A Unifesspa e povo Akrãtikatêjê, além das demais comunidades da TI Mãe Maria, têm uma forte relação de parceria através de ações de ensino, pesquisa e extensão relacionadas à garantia de direitos e a defesa da soberania e preservação dos territórios indígenas.


Como ajudar o povo Gavião

Os indígenas pedem doações financeiras:

Conta da Associação Itekjerijejakry Gavião – 

Banco do Brasil, Agência: 5657, Conta: 1117978-8

Chave Pix: 94 991356450 – Cacique Npotomanti Lopes

Chave Pix: 94 992274007 – liderança David Kakoktvire

 Vivianny Matos

É paraense, filha das periferias belenenses. Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Também concluiu um MBA em Gestão Estratégica de Marketing e Comunicação Digital. Atuou como assessora de comunicação no terceiro setor na Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) e da UNIPOP (Instituto Universidade Popular), entre os anos de 2015 a 2020, no Estado do Pará. Faz reportagens que abordam diversas temáticas indígenas.

Fonte: https://amazoniareal.com.br/apos-incendio-criminoso-12-familias-de-indigenas-gaviao-ficam-desabrigadas-no-para/

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