No boletim epidemiológico da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, divulgado no dia 15 de abril, foram confirmados 23 casos de Covid-19 em indígenas do Brasil, sendo 22 no estado do Amazonas. Na estatística tem o registro também de duas mortes: um ancião Tikuna e uma mulher Kokama. Um homem Mura, que morava em Manaus, não teve sua história incluída nos dados da Sesai. Essa morte foi inserida na notificação do governo estadual, mas como pessoa não indígena ou “branco”, apagando a identidade indígena, o que gerou revolta do Movimento Indígena Nacional.

Ozaniel Almeida, de 55 anos, nasceu na Terra Indígena do Rio Urubu, no município de Itacoatiara, que fica a 270 quilômetros de Manaus. Casos como o do Mura estão acontecendo em várias cidades neste tempo de pandemia do coronavírus.

Na capital do Amazonas, segundo a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), vivem cerca de 30 mil indígenas. Grande parte está organizada em associações, comunidades no centro urbano ou nas áreas ribeirinhas. Para essas pessoas, a Sesai diz que o atendimento para o novo coronavírus tem que ser procurado no Sistema Único de Saúde (SUS).

Seja na cidade ou nas comunidades, os indígenas são pessoas consideradas de alta vulnerabilidade sociocultural e suscetíveis ao contágio de gripes. Como o Amazonas está em colapso hospitalar e a linha epidemiológica da pandemia está acelerada, a situação nos atendimentos aos indígenas que vivem em contexto urbano ainda é mais crítica. O prognóstico do governo para o pico da infecção é início de maio.

Dos 22 casos de indígenas diagnosticados pela Sesai com a doença no Amazonas, 12 são de Manaus, 8 do Alto Solimões, 1 da região do Médio Purus (sul do estado) e 1 do Baixo Rio Amazonas, na divisa com o Pará. O primeiro caso registrado em indígena no Brasil foi em uma jovem da etnia Kokama (Alto Solimões), que foi contaminada por um médico do Dsei Alto Solimões. Ela foi curada da Covid-19.

Os 12 indígenas com coronavírus em Manaus são pessoas das etnias Baré que vivem na comunidade Terra Preta, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista, à margem do rio Cuieiras, afluente do rio Negro, no entorno da capital, e não em terra indígena demarcada. Mas a comunidade é reconhecida pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Um dos infectados de Terra Preta foi internado e teve alta na terça-feira (14), enquanto os demais seguem isolados na comunidade. A comunidade é atendida pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Manaus, segundo informou o coordenador do órgão, Mário Ruy de Freitas Junior.

O Dsei Manaus tem responsabilidade pelo atendimento de saúde de uma população de 29.506 indígenas de 35 etnias e 253 comunidades.

Povos do Parque das Tribos, em Manaus (Foto: Marcella Haddad/Cáritas/2019)

Uma das comunidades mais populosas no contexto urbano de Manaus é a Parque das Tribos, que se tornou bairro reconhecido pela Prefeitura de Manaus após inúmeras tentativas de reintegrações de posse de um empresário do ramo imobiliário e do Ministério Público Federal conseguir na Justiça a permanência dos povos na área. Na comunidade, moram cerca de 2.500 pessoas de 37 etnias. Toda esta população não é atendida pela Sesai e não está sendo incluída nos registros dos boletins epidemiológicos.

Para Marcivana Paiva, da etnia Sateré-Mawé, uma das coordenadoras da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), os dados apresentados sobre indígenas infectados pelo novo coronavírus divulgados pela Sesai são “irreais”, pois eles excluem a população indígena que vive nas cidades.

“Estamos no epicentro da pandemia e também estamos vulneráveis. Temos muita preocupação com as grandes comunidades localizadas em Manaus. Não sabemos que tipo de trabalho de prevenção do poder público está sendo feito nessas áreas”, disse ela.

Marcivana Paiva fez parte da delegação brasileira como representante indígena que esteve com o Papa Francisco durante o Sínodo para a Amazônia, em outubro de 2019, no Vaticano.

“Os indígenas de Manaus são totalmente descobertos pela política de saúde de atenção à população indígena. Essa política nos divide e temos sofrido muito mais com essa pandemia. Estamos vendo o quanto somos excluídos e invisibilizados. Indígena é indígena em qualquer lugar, não importa onde esteja”, disse Marcivana.

Amazônia Real entrevistou dois indígenas, que pediram para não terem os nomes revelados. Um deles, que é da etnia Baniwa, trabalha na área de saúde. Eles, que sentiram sintomas do novo coronavírus, disseram que ao procurar os postos de saúde em Manaus não foram perguntados sobre suas etnias na hora de preencher os formulários.

Óbitos sem registros

Povos indígenas do Parque das Tribos, em Manaus (Foto: Marcella Haddad/Cáritas/2019)

Marcivana Paiva exemplifica como uma forma de invisibilidade a morte do indígena Ozaniel Almeida, do povo Mura, em 5 de abril, no Amazonas, por Covid-19. “A gente quer que ele seja incluído no boletim como sendo indígena. Que ele não seja apenas um número aleatório, invisível. Tem um parente Sateré-Mawé internado no Hospital Delphina Aziz que também não foi notificado”, disse ela.

Assim como Ozaniel, a morte da primeira mulher indígena no Brasil não foi notificada pela Sesai. Ela, que tinha 87 anos e era da etnia Borari, morava em Alter do Chão, distrito do município de Santarém, no Pará.

“Essa pandemia mostra que precisamos discutir melhor nossa situação. Queremos que os indígenas da cidade sejam pelo menos registrados nos boletins da Semsa (Secretaria Municipal de Saúde), de Manaus. Tem a campanha de vacinação aos indígenas que começa agora, dia 16. Não sabemos se nós, que moramos na cidade, seremos contemplados. Foi falado sobre o hospital de campanha que o governo federal vai construir em Manaus e que vai atender a indígenas. Mas será apenas para os que são cobertos pelos Dseis ou vai, de fato, contemplar todos os indígenas, independente de onde eles moram?”, questionou a Sateré-Mawé.

A coordenadora da Copime contou à Amazônia Real que, desde março, vem recebendo relatos de indígenas que apresentam os sintomas da covid-19, tais como perda de paladar e de audição, febre, tosse e problema de respiração. Por receio de serem mal atendidos nos hospitais da capital amazonense, muitos deles preferem tentar se curar em casa, recorrendo a remédios a partir de medicações extraídas de produtos da natureza da floresta amazônica, como óleo de andiroba e copaíba, e medicina tradicional indígena.

Segundo o Censo do IBGE de 2010, o Amazonas possui uma população de 168.690 mil indígenas: a maior do país. Em dez anos, este número já aumentou e passaria por atualização no Censo 2020, previsto para 2020, mas que foi suspenso por causa da pandemia. Pelo Censo do IBGE, Manaus tinha, em 2010, uma população de 7.894 indígenas autodeclarados, número que as lideranças de contexto urbano contestam em função da mobilidade e deslocamentos constantes dos indígenas entre a capital e suas aldeias de origem.

negação da existência indígena

Mulheres indígenas do Parque das Tribos, em Manaus (Foto: Marcella Haddad/Cáritas/2019)

Turi Sateré-Mawé, também coordenador da Copime, afirma que a pandemia expôs a enorme exclusão dos indígenas que vivem em cidades frente a uma crise sanitária e de saúde pública. “Quando o Estado brasileiro nos exclui está impondo uma negação para nossa existência, um apagamento. Estamos em abril, mês do indígena, e essa situação será uma triste lembrança. Que isso sirva para uma reflexão profunda”, afirma.

A liderança também cobra responsabilidade dos agentes públicos não apenas na assistência, mas na forma de atender aos indígenas nas unidades de saúde. “Quando o parente for ser atendido, que o funcionário do posto coloque no formulário que ele é indígena. Se ele não falar, perguntar. Se o cadastro é do SUS, que saia como sendo de indígena. Temos o nosso parente Mura que morreu e não notificaram. Temos o nosso parente Sateré, que não foi notificado. Os estrangeiros vieram para cá e conseguiram políticas públicas e nós continuamos sendo rejeitados”, afirma.

Tanto Marcivana quanto Turi, nos dias que deram entrevista para esta reportagem, estavam com sintomas de covid-19, mas preferiram permanecer em casa. “Pegamos uma gripe muito forte; eu, minha esposa, meus dois filhos e minha sogra. Foi uma gripe diferente das outras que já peguei. Não consegui sentir cheiro, meu nariz ficou adormecido, muita dor no corpo. Mas preferimos ficar em casa. Se fôssemos para o hospital, poderia piorar”, disse ele.

Turi Sateré também está preocupado com a situação das famílias que precisaram se afastar do trabalho para se proteger. Grande parte dos indígenas que moram em Manaus tem o comércio de artesanato como meio de renda. “Aqui perto de casa tem a comunidade Waikiru. São 17 famílias, 200 pessoas. Há uma pessoa suspeita com a doença. Ela está isolada, mas não fez exame. Todos preferiram ficar em casa. Mas eles estão passando por dificuldade. Precisam de apoio”, disse.

Parque das Tribos, a maior aldeia urbana

Comunidade Parque das Tribos, no bairro Tarumã, zona oeste de Manaus
(Foto Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Desde que o novo coronavírus chegou em Manaus, o Parque das Tribos, o maior bairro indígena da capital amazonense, passou a viver dias de ansiedade. Por conta própria, os moradores tomaram medidas de prevenção. Ao mesmo tempo, foram feitas campanhas de apoio para famílias que ficaram sem suas fontes de renda.

Uma das moradoras à frente das ações é Vanda Ortega, da etnia Witoto. Enfermeira de formação, ela teve a ideia de fazer gravações sobre os métodos de prevenção em vídeos e enviar a grupos de WhatsApp. Ela também iniciou uma campanha de arrecadação de cestas básicas, material de higiene e doações em dinheiro para compras de remédio.

Líder Claudia Baré, no Parque das Tribo
(Foto: Marcella Haddad/Cáritas/2019)

“Diante do cenário da Covid-19, não havia orientação, nenhum direcionamento quanto aos cuidados. As pessoas levando a vida normal, muita gente circulando, aglomerada, que é uma coisa cultural nossa, de estarmos juntos. Mesmo com as informações das mídias, estava tudo normal. Então, tive a iniciativa de começar a fazer vídeo e enviar aos grupos da comunidade informando da necessidade dos parentes se prevenirem, contando com o apoio de amigos e de lideranças daqui, como o cacique Messias e a professora Claudia Baré”, disse. Como sabe costurar, Vanda também passou a confeccionar com outras moradoras máscaras caseiras de tecido para distribuir no bairro.

Na quarta-feira (15), Vanda Witoto voltou a falar com a Amazônia Real. Ela disse que, neste momento, a prioridade é dar atenção a pelo menos 30 pessoas que estão com sintomas de Covid-19. Dois casos são mais graves, segundo ela. Uma mulher da etnia Apurinã que, além dos sintomas da doença, também atestou tuberculose, e um indígena Baniwa, que está com pneumonia.

Vanda Ortega lamenta a fragilidade social e sanitária das populações indígenas. “As populações em contexto urbano não são assistidas pelos Dsei. Isso dificulta muito o monitoramento da saúde dessas populações. Os órgãos reconhecem apenas o indígena de um território demarcado, deixando muitas populações excluídas dessa assistência. Uma vez que o índio sai desse território demarcado passa a viver às margens, sem nenhum olhar tanto das instituições quanto da sociedade”, afirma Vanda.

Vanda Ortega, do povo Witoto, jovem liderança do Parque das Tribos
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Para ela, é preciso garantir a inclusão de todos os indígenas, independente dos espaços onde esteja vivendo. “A nossa identidade não é algo vago e restrito ao nosso território demarcado. A nossa identidade está onde nós estamos, onde nossos corpos estão. A partir desse pensamento, a própria Constituição deve ser modificada. São 520 anos de negação. Não somos da cidade; estamos na cidade. Estamos por alguma necessidade. Mas aqui, é o espaço onde mais somos negados”, afirma.

Membro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Ageu Sateré-Mawé, 42 anos, relatou à Amazônia Real que sentiu todos os sintomas da covid-19, mas não conseguiu, até na quarta-feira (15), fazer o teste. Diabético e hipertenso, há 15 dias começou a sentir tosse. Foi a uma UBS (Unidade Básica de Saúde ), mas soube que o local estava sem médico. Teve uma melhora, mas um dia depois sofreu uma recaída. No último fim de semana, piorou. O relato é dado por sua esposa, Jucineide, já que Ageu não conseguia ter fôlego suficiente para falar. Ageu é natural da Terra Indígena Andirá Marau e é sobrinho da pajé e cacica Baku Sateré, grande liderança indígena, falecida em 2018.

Ciente da superlotação dos hospitais de Manaus, Ageu Sateré preferiu ser tratado pela esposa, com orientação de uma médica brasileira, amiga do casal, que mora na Suíça. “Ele não queria virar estatística, ser entubado. Eu também tive sintomas. Parecia que alguém me sufocava, me engasgava, não sentia minha cabeça, osso doía, era uma pressão nas costas e fiquei sem respiração. Fiz um xarope com mel, limão e copaíba, além de também tomar dipirona e tylenol”, conta ela, preocupada com o destino do marido, caso ele fosse internado no hospital. “Se ele entrasse, não sairia mais. Ficaria abandonado, sozinho. A gente preferiu ficar em casa”, afirma Jucineide.

Munduruku foi tratado com cloroquina

Região de Manaus concentra 12 casos de coronavírus confirmados pela Sesai
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

O indígena Adail Munduruku, que mora em Manaus, testou positivo para a covid-19 e ficou dez dias internado no Hospital e Pronto-Socorro Platão Araújo, na capital do Amazonas. Funcionário da Fundação Estadual do Índio (FEI), Adail foi um dos pacientes que foi tratado com cloroquina. Ele teve alta há uma semana, e disse que continuará sendo monitorado pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS). Na internação, ele disse que fez questão de ser registrado como indígena Munduruku.

A prescrição em alta dosagem de cloroquina vinha sendo feita no Amazonas em pacientes em estado grave, mas foi interrompida após 11 pacientes que receberam a medicação morrerem. Segundo o governo do Amazonas, 81 pacientes foram tratados com a cloroquina nos hospitais de Manaus. Adail disse que não tem histórico de doenças crônicas como diabetes ou problemas cardíacos.

“É muito forte, muito pesado [cloroquina]. Tive muita reação, diarreia. Maltrata muito a veia da gente. Tem que estar furando sempre. Estou melhor agora, mas saí do hospital com diagnóstico de pneumonia”, disse.

À Amazônia Real, ele disse que está se recuperando, mas lembra com pesar do período em que estava com a covid-19. “Essa doença maltrata muito o pulmão da gente. Fica tudo escuro. Tive início de pneumonia. Mas a vida continua”, diz.

Apesar do alívio da recuperação, ele lamenta que indígenas que moram na zona urbana estejam “apagados”. “Precisamos ter mais esclarecimentos. Levar à sociedade a nossa situação. Mostrar que precisamos estar integrado à saúde indígena”, disse ele.

Adail Munduruku também enfatizou o despreparo do poder público para enfrentar a doença e o receio dos próprios funcionários do hospital. “Quando fiquei doente, senti muito descaso. Passei quase 24 horas jogado para receber atendimento, com todos os sintomas fortes, batimento cardíaco alto, falta de ar. Só quem passa sabe disso. Senti na pele. Imagina outras pessoas. Imagine um idoso. Até para fazer esse teste…. a pessoa faz [teste] quando está praticamente morrendo”, afirmou.

Por que os indígenas são vulneráveis?

Marcivana Paiva (à direita), com mulheres no Parque das Tribos, em Manaus
(Foto: Marcella Haddad/Cáritas/2019)

O médico sanitarista e especialista em saúde indígena Douglas Rodrigues afirma que, embora o sistema imunológico não difere de pessoas não indígenas, a condição social e o seu histórico de outras doenças podem comprometer a imunidade indígenas. Aqueles que já tiveram repetidos casos de malária, por exemplo, têm o organismo mais fraco.

Rodrigues também destaca um diferencial para os casos de diabetes, ao ser indagado pela reportagem sobre a prevalência da doença em grupos indígenas. A diabetes é uma das doenças crônicas incluídas no grupo de risco da covid-19.

“Existem muitos estudos que mostram que os indígenas, não só os brasileiros, os originários do Brasil, os ameríndios, como a gente fala, que vem desde o Canadá, Estados Unidos, México e inclusive vários grupos aqui do Brasil que foram estudados, eles têm uma variação genética que lhes deixa mais suscetíveis ao diabete e também à hipertensão arterial”, diz Rodrigues, que é do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Segundo o médico, a origem dessa incidência está nas mudanças alimentares, conforme a ausência ou fartura de comida, que alteraram geneticamente o organismo das populações indígenas. “Ancestralmente, viviam só de comida natural. O organismo então foi se adaptando a isso. A vida nas aldeias nem sempre tinha muita comida. Outras vezes tinha comida suficiente. Hoje, grande parte da população dos indígenas acabam tendo mais predisposição a ter diabetes. Não sei se você repara isso… como o pessoal logo fica mais gordo quando vai para cidade. As pessoas que ficam mais graves e têm maior mortalidade são as que têm essas doenças associadas, diabete, obesidade, hipertensão arterial, problemas de coração, isso pode sim ser um problema”, afirma.

Para o médico, a opção de alguns indígenas não de procurarem unidades de saúde pode ser bom, dependendo da condição clínica, pois estes lugares são focos de transmissão da doença. Ele também concorda que o uso de medicamentos naturais ajuda a aliviar os sintomas, mas alerta que casos graves precisam ser tratados nos hospitais.

“A gente sabe que 80% dos casos vão ser leves e essas medidas de usar andiroba, usar copaíba eu mesmo uso, ajuda bastante. Agora, o que eles precisam saber é que, se começar a ter falta de ar, ficar muito cansado, aí precisa procurar o serviço de saúde, porque talvez precise de oxigênio, ter um suporte”, afirma.

O que dizem as autoridades?

Secretário da Sesai, Robson Silva, visitou a Casai
(Foto: Dsei Manaus)

A agência Amazônia Real procurou o Ministério da Saúde e a Sesai e enviou perguntas sobre o atendimento dos povos indígenas no contexto urbano, mas os órgãos não responderam, até a publicação desta reportagem. As perguntas enviadas questionaram dúvidas dos indígenas sobre o hospital de campanha, que foi anunciado em Manaus, e a campanha de vacinação contra a gripe H1N1. A assessoria de imprensa disse apenas que “todos os detalhes ainda estão em discussão dentro do Ministério. Divulgaremos as informações quando estiverem definidas”.

Como a agência publicou no início da pandemia no Amazonas, sem orientação dos órgãos públicos de saúde muitos povos indígenas do Brasil tomaram medidas por conta própria para evitar que o coronavírus se disseminem nas aldeias: quarentena voluntária, suspensão de grandes protestos, eventos, viagens e até o fechamento do trânsito entre as aldeias para impedir o avanço da doença foram algumas das medidas tomadas.

A reportagem provocou uma reação do Ministério Público Federal, que determinou que a Sesai tomasse providência. Em entrevista concedida à agência, o secretário Robson Silva que indígena que mora na cidade será atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).  “A Sesai cuida de indígena aldeado”.

Procurada pela reportagem, o governo do Amazonas, através da Secretaria Estadual de Comunicação (Secom), disse que o Departamento de Saúde Indígena da Secretaria Estadual de Saúde (Susam) informou que as notificações de casos de Covid-19 em indígenas são feitas para a Sesai.

Sobre os casos de indígenas em contexto urbano, a Susam disse que vai solicitar do Ministério da Saúde que habilite, no Sistema Nacional de Notificação de Suspeitos do Novo Coronavírus (Covid-19), o campo raça/cor/etnia, para que as unidades de saúde alimentem esses dados e o Ministério da Saúde tenha o quadro da real situação dessa população. A Secom disse que, segundo informações do Ministério da Saúde, o hospital de campanha que será construído em Manaus é para atender a população indígena.

A assessoria da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa Manaus) afirmou que o órgão tem atuado em várias frentes, com atenção especial aos grupos mais vulneráveis ao adoecimento.

“Neste momento, a Secretaria realiza apuração dos dados sobre a Covid-19 na capital, visando identificar casos positivos entre os grupos específicos, dentre estes os indígenas. A Semsa Manaus tem orientado suas unidades de saúde para o registro adequado do atendimento desses usuários, especialmente aquelas vinculadas às comunidades localizadas nas zonas Leste, Oeste e Norte, áreas com maior densidade de famílias indígenas”, diz nota da Semsa.

Conforme a nota, “o atendimento a esses usuários segue as mesmas recomendações e o fluxo de atendimento aos demais munícipes da capital, reforçando as orientações acerca do isolamento social, distanciamento seguro, uso de máscaras individuais e adoção de medidas essenciais de higiene. Os casos confirmados seguirão o fluxo estabelecido na Rede de Saúde municipal. O monitoramento de possíveis casos vem sendo realizado e até o momento, não há registros confirmados de casos na capital”.

Veja os números da pandemia no Brasil.

 

 

 

Fonte: https://amazoniareal.com.br/coronavirus-indigenas-que-vivem-na-cidade-sao-classificados-como-brancos-no-amazonas/

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