Boa Vista (RR) – “Ainda está sendo difícil. Todos estamos sentindo a perda. É um sentimento inexplicável. Mas, ao mesmo tempo, quando entrei aqui [salão com a exposição], faltou só a presença dele porque tudo aqui tem uma parte dele. Todos os artistas que estão expondo têm lembranças com ele”, afirmou Ávilo Esbell, irmão caçula de Jaider Esbell, à agência Amazônia Real, durante a exposição “Um Makuna’imî entre Nós”, uma homenagem ao artista, que aconteceu  no domingo (27) no Espaço Cultural Paricá, em Boa Vista, capital de Roraima. 

A exposição marcou o 43º aniversário de Jaider Esbell, que morreu em 2 de novembro de 2021, em São Paulo. O evento contou com a curadoria da professora de Direito Priscilla Cardoso Amorim, da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Um painel inédito de 1,60 x 3,50 metros, pintado por 12 artistas indígenas, foi exposto em memória de Jaider. A pintura traz a imagem dele no centro de uma paisagem cheia de simbolismos usados em suas obras ou, ainda, em representação à sua luta pela coletividade indígena.

  • Ávilo Esbell, irmão caçula de Jaider Esbell na exposição “Um Makuna’imî entre Nós” (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia RealMarinez, irmã do Jaider na exposição “Um Makuna’imî entre Nós” (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Enock Taurepang, coordenaor do Conselho Indígena de Roraima (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • O artivista Arawak, um dos idealizadores da exposição “Um Makuna’imî entre Nós” (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Exposição “Um Makuna’imî entre Nós” uma homenagem a Jaider Esbell,no Espaço Cultural Paricará em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Matérias primas preferidas de Jaider pra fazer as tintas (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Priscilla Cardoso Rodrigues curadora do Jaider e fez a curadoria da exposição “Um Makuna’imî entre Nós” com o Arawak (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Professora Ise Goreth_com Parmênio Citó_ responsavel pela galeria Jaider Esbell e a irmã de Jaider, Lionasia (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Exposição “Um Makuna’imî entre Nós” uma homenagem a Jaider Esbell,no Espaço Cultural Paricará em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Exposição “Um Makuna’imî entre Nós” uma homenagem a Jaider Esbell,no Espaço Cultural Paricará em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Obra de Jaider Exposição “Um Makuna’imî entre Nós” uma homenagem a Jaider Esbell,no Espaço Cultural Paricará em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Exposição “Um Makuna’imî entre Nós” uma homenagem a Jaider Esbell,no Espaço Cultural Paricará em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Indígenas dançam na exposição “Um Makuna’imî entre Nós” uma homenagem a Jaider Esbell,no Espaço Cultural Paricará em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Exposição “Um Makuna’imî entre Nós” uma homenagem a Jaider Esbell,no Espaço Cultural Paricará em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)
  • Exposição “Um Makuna’imî entre Nós” uma homenagem a Jaider Esbell,no Espaço Cultural Paricará em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)

Artivista do povo Macuxi, curador, escritor, educador, promotor cultural e pensador contemporâneo, Jaider Esbell morreu no auge do reconhecimento por seu trabalho e pensamento emancipador expostos na 34ª Bienal de São Paulo, como as gigantescas cobras infláveis de 17 metros de comprimento no Lago do Ibirapuera. Na ocasião, Esbell fez questão de entregar uma carta à organização da exposição pedindo maior participação de artistas indígenas, mas sempre deixou claro que seu objetivo não era causar intriga. A vontade de alavancar seus irmãos é uma das marcas que ele deixou para Arte Indígena Contemporânea (AIC) no Brasil.

Ainda no ano passado, duas obras de Esbell: Carta ao Velho Mundo (2018-2019) e Na Terra Sem Males (2021) foram anunciadas como novas aquisições do Centre Georges Pompidou (o famoso Beaubourg), de Paris. O artista nasceu em Normandia, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde viveu até os 18 anos. Ele era neto de Vovó Bernaldina, uma das grandes lideranças que lutou pela demarcação do território do povo Macuxi, e faleceu no ano passado vítima da Covid-19.

A emoção de Lionasia

Lionasia da Silva Esbell, irmã de Jaider no Espaço Cultural Paricará em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)

Além do painel, foram expostas outras 60 obras de 16 artistas indígenas, incluindo os irmãos Ávilo Esbell e Lionasia da Silva Esbell. Ávilo disse à reportagem que gostava de desenhar desde criança e na adolescência foi influenciado pelo que o irmão produzia na comunidade Raposa Serra do Sol, localizada no município de Uiramutã, em Roraima.

Já Lionasia, com os olhos cheios d’água, afirmou que o irmão Jaider continuará vivendo por meio da arte e da influência que terá sobre as próximas gerações. Ela afirmou ainda que estava emocionada em ver tantas pessoas empenhadas em fazer a celebração acontecer.

“Muita gente vai lembrar dele com um líder. Isso vai ficar para a eternidade, vai ser difícil esquecer que ele passou por aqui. Muitos jovens e muitas crianças lembram dele. É  incondicional para a eternidade”, disse ela.

A curadora da exposição “Um Makuna’imî entre Nós”, Priscilla Amorim, disse que a ideia da celebração surgiu de amigos de Jaider em dezembro do ano passado, cerca de um mês após o artista ter sido encontrado morto no próprio apartamento. “Primeiro de tudo, entramos em contato com a família porque esse também precisava ser um momento de conforto para eles. Queríamos que tivesse tudo que o Jaider amava: família, amigos, artistas indígenas e, principalmente, o artivismo”, contou.

O evento no Espaço Paricará contou ainda com o lançamento de um e-book com artigos, depoimentos e artes em homenagem a Jaider. Conforme o artista Arawak, amigo pessoal de Jaider, o evento foi uma grande oportunidade para celebrar a vida e obra do artista plástico internacionalmente reconhecido.

“É um momento muito oportuno para gente pensar toda perspectiva de genialidade e generosidade do trabalho do Jaider. E a gente não podia deixar passar batido porque dia 27, na realidade, é o aniversário dele e vamos estar celebrando o aniversário dele junto com esses artistas”, disse Arawak.

Ainda de acordo com Arawak, o termo artivista é usado para se referir aos indígenas que usam a arte como apelo político a fim de expressar a cultura, necessidades e denúncias dos povos originários do Brasil.

Parmenio Citó, responsável pela Galeria Jaider Esbell e também pela mãe de Jader, que é herdeira das obras, explicou que o artista sempre teve uma visão coletiva. Conforme Citó, o sucesso comercial era visto como um mero instrumento para inspirar outros artistas indígenas, bem como alavancar o movimento político do artivismo.

“A arte para Jaider era como uma nova frente de luta pelas causas indígenas. Ele lutava muito pela preservação do meio ambiente. Agora, nosso trabalho é continuar com esse pensamento porque, na verdade, além de um grande artista, ele também era um pensador. Inclusive já é estudado em universidades mundo afora”, pontuou Citó

O público teve acesso ao local a partir das 17 horas. A galeria com as artes estava aberta e outros artefatos indígenas, como panelas de barro, remédios naturais e pequenas esculturas estavam à venda. No entanto, a abertura oficial ocorreu por volta das 20 horas.

Em seguida, houve uma apresentação de dança Parixara e pinturas corporais com tinta de urucum foram feitas nas pessoas que estavam presentes. Durante o evento, uma Damorida foi servida aos presentes. O prato é típico dos indígenas da região Norte e lembra uma sopa com peixe e sabor bastante apimentado. Enquanto comiam, os presentes também puderam ouvir a música da banda Sociedade de Esquina, composta por três indígenas Macuxi.

Embora a exposição das artes tenha sido de um dia único, quem visitar o Espaço Paricará ainda poderá ver uma lembrança do evento. Isso porque os artivistas fizeram uma intervenção com pinturas de pássaros no chão, além de terem pintado o Monte Roraima em uma parede e figuras das culturas indígenas em colunas do espaço.

Entre os artistas que ajudaram a produzir o evento estavam Arawak, amigo de longa data de Jaider, e Bartô Macuxi, que é pré-candidato ao senado por Roraima nas eleições de 2022. Também foram expostas obras dos artivistas Greice Rocha, Valdélia Wapixana,  Milena MKX, Juci Carneiro & Wendenmara Gomes, Celestina F. da Silva, Delci F. Souza Marins, Dayana Soares, Ávilo Esbell, Isaias Miliano, Luís Matheus, Charles Gabriel, Makdones, Gustavo Caboco e Georvan Gabriel de Souza.

“Essa foi uma homenagem para um grande amigo, um makuna’imî entre nós como já diz o título da exposição. Ele não era só um artista para nós, era um amigo, um conselheiro, um irmão, um camarada. Ele nos levava nos braços por onde ele ia nesse mundo. Eu me sinto orgulhoso e privilegiado só em falar no nome dele”, destacou Bartô Macuxi.

Bartolomeu Silva Tomaz (Bartô Macuxi) artista um dos organizadores da exposição (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)

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Fabrício

 Fabrício Araújo

Fabrício Araújo é um cearense, formado em jornalismo pela UFRR. Já escreveu reportagens para o G1, Estadão e Folha de Boa Vista. Se interessa por questões humanitárias, sobretudo as que envolvem a comunidade LGBTI.

Fonte: https://amazoniareal.com.br/exposicao-homenageia-jaider-esbell/

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