Por Lucas Ferrante e Philip Martin Fearnside
A denúncia partiu da etnia Mura, no Município de Manicoré. Em vídeo, os indígenas mostram que os próprios pacientes dentro da Casa de Saúde Indígena (CASAI), têm que preparar a sua própria alimentação e servir os demais pacientes. O descaso com a saúde da população indígena tem se tornado política pública do Governo do Presidente Jair Bolsonaro [1], e este descaso foi detalhado em uma série de artigos científicos [1, 2, 3, 4, 5]. Durante a pandemia de COVID-19, os indígenas apresentaram uma taxa de letalidade três vezes maior que a população não indígena [6].
No vídeo gravado no dia 21 de abril de 2022 [7], o Cacique Adamor, do Povo Mura em Manicoré, denunciou a existência de um subsistema de tratamento de saúde para a população indígena. O Cacique também pede que a situação seja denunciada para o mundo todo.
O vídeo foi gravado dentro da CASAI e mostra pacientes cozinhando para os próprios pacientes. Uma indígena que faz a denúncia cobrou o coordenador da CASAI a contratar mais funcionários para poder atender a população indígena, chamando a atenção para como um doente poderia estar preparando a própria comida, sendo um dever da coordenação de Manaus contratar os cozinheiros segundo a indígena. Segundo o Cacique Adamor, a Secretaria Especial de Saúde indígena se recusa a contratar cozinheiros e funcionários de saúde geral para a CASAI em Manicoré.
A imagem que abre este artigo mostra a sede da CASAI em Manicoré-Amazonas (Foto: MPF-AM)
Notas
1.Ferrante, L., Duczmal, L., Steinmetz, W.A. Almeida, A.C.L., Leão, J., Vassão, R.C., Tupinambás, U. & Fearnside, P.M. (2021). How Brazil’s President turned the country into a global epicenter of COVID-19. Journal of Public Health Policy, 42: 439–451.
2.Ferrante, L., & Fearnside, P.M. (2020). Protect Indigenous peoples from COVID-19. Science, 368: 251.
3.Ferrante, L., Steinmetz, W.A., Almeida, A.C.L., Leão, J., Vassão, R.C., Tupinambás, U., Fearnside, P.M., & Duczmal, L.H. (2020). Brazil’s policies condemn Amazonia to a second wave of COVID-19. Nature Medicine, 26: 1315.
4.Ferrante, L., & Fearnside, P.M. (2020). Military forces and COVID-19 as smokescreens for Amazon destruction and violation of indigenous rights. DIE ERDE – Journal of the Geographical Society of Berlin, 151(4): 258-263.
5.Ferrante, L., & Fearnside, P.M. (2021). Brazilian government violates Indigenous rights: What could induce a change? DIE ERDE – Journal of the Geographical Society of Berlin, 152(3): 200-211.
6. Sansone, N.M.S., Boschiero, M.N., Ortega, M.M., Ribeiro, I.A., Peixoto, A.O., Mendes, R.T., Marson, F.A.L. (2022). Severe Acute Respiratory Syndrome by SARS-CoV-2 Infection or other etiologic agents among Brazilian indigenous population: An observational study from the first year of coronavirus disease (COVID)-19 pandemic. Lancet Regional Health – Americas, 8: 100177.
7. Denúncia do Cacique Adamor [veja o vídeo].
Lucas Ferrante é doutorando em Biologia (Ecologia) no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Manaus, AM. Tem pesquisado agentes do desmatamento, buscando políticas públicas para mitigar conflitos de terra gerados pelo desmatamento, invasão de áreas protegidas e comunidades tradicionais, principalmente sobre Terras indígenas e Unidades de Conservação na Amazônia.
Philip Martin Fearnside É doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 700 publicações científicas e mais de 600 textos de divulgação de sua autoria que podem ser acessados aqui. https://philip.inpa.gov.br
Reportagem Noticiosa Sobre a matéria
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