Neste 7 de abril, Dia do Jornalista, não vai ter comemoração no boteco da esquina, nem na churrascaria, quanto mais na redação, como seria numa data como essa. Estamos vivenciando e contando a história da crise sanitária mundial da pandemia da Covid-19, que nos impôs o isolamento social para diminuir a transmissão do vírus. O trabalho dos profissionais da mídia tem sido muito importante neste momento para levar a todos os cantos as notícias desta tragédia e não deixá-la apagada. Somos da linha de frente da cobertura seja no rádio, na televisão, nos jornais impressos, nos blogs, sites, portais e podcasts. Aqui na Amazônia Real todas as reuniões são virtuais, como vemos na fotografia acima.

Para garantir o trabalho investigado, ético, apurado, contextualizado e seguindo o protocolo sanitário, as jornalistas e os jornalistas da agência estão há um ano fora da redação, que está fechada, em Manaus, no Amazonas. Todos estão trabalhando remotamente em casa, um trabalho virtual que não foi uma novidade, mas que se estendeu aos estados do Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Pará, São Paulo e Rio de Janeiro, onde moram os profissionais da rede. Com apoio financeiro da agência, o profissional que vai para rua fazer entrevistas é orientado a usar máscaras, álcool em gel, assim como os entrevistados, e manter o distanciamento. A equipe que viaja, apenas em casos urgentes, faz teste para coronavírus na ida e na volta. Essa é a realidade atual e não sabemos quando mudará.

Em homenagem ao Dia do Jornalista, a Amazônia Real pediu para que cada um dos repórteres e fotógrafos da rede comentasse a principal reportagem que fez neste um ano de pandemia da Covid-19, dando sua opinião sobre o trabalho realizado. Eles contaram histórias de negligências, vulnerabilidades, mortes, ameaças, conflitos, resistência, racismo, violações de direitos, desmatamentos e queimadas e impactos na vida das populações da região amazônica.

É uma oportunidade para que as leitoras e os leitores conheçam ou revisitem as histórias dos jornalistas da agência Amazônia Real.  Boa leitura!


A jornalista Bruna Mello diz sobre a reportagem: “O contato com a população indígena, sobretudo nesse período de pandemia, me fez sair da minha ‘bolha’ e enxergar dificuldades distantes da minha”.

Para a jornalista Kátia Brasil, “foi uma das matérias mais difíceis que fiz neste um ano de pandemia e que chorei muito. O estudante Yanomami, de 15 anos de idade, estava em estado gravíssimo por Covid-19 no Hospital Geral de Roraima (HGR). Eu, em Manaus, e a jornalista Emily Costa, em Boa Vista (RR), e o analista de dados Giovanny Vera, em Cuiabá (MT), relatamos a via sacra, com internações e altas, que o jovem enfrentou até ser internado em uma UTI. Achávamos que ele iria escapar, torcíamos para isso acontecer. Mas o jovem não aguentou e morreu no dia 9 de abril de 2020. Senti um impacto muito grande de como os indígenas e povos tradicionais estão abandonados. Foi duro, demorei muito a me recuperar”.

 

O jornalista Fábio Zuker diz: “entre muitas matérias delicadas, esta talvez tenha sido a mais complexa, já que trata de um assunto da maior importância para os povos indígenas. Despedir-se de seus mortos, como diz um dos antropólogos entrevistados, é um dos momentos mais importantes da vida. Por outro lado, autoridades desrespeitaram por completo este preceito, simplesmente enterrando indígenas na cidade, longe dos seus e de suas aldeias. A matéria sugere, a partir da perspectiva de especialistas, que é necessário encontrar algum meio termo, para permitir que os indígenas se despeçam de seus mortos, e evitar que o manuseio do corpo de alguém falecido por Covid-19 gere surtos da doença”.

 

Para Maria Fernanda Ribeiro, “apesar de ser uma reportagem que mostra uma triste realidade, o tema permitiu conhecer mais o povo Fulni-ô e me aproximar da cultura, do olhar e das causas que os afetam. Foi uma reportagem a qual me dediquei de maneira genuína, para que eu pudesse entender o que de fato acontecia para poder transmitir isso ao leitor”.

 Para Elaíze Farias, “a matéria marcou chegada da Covid-19 em um dos territórios indígenas mais remotos, vulneráveis e desassistidos pela atenção médica e ausência do Estado brasileiro e acendeu o alerta para a preocupação com os povos de recente-contato e isolados. A pandemia, até o momento, continua atingido as aldeias da Terra Indígena Vale do Javari, desde os primeiros registros, no mês de junho”.

A jornalista Vivianny Matos disse: “destaco essa matéria pelo fato de ter sido apenas a Amazônia Real o veículo de comunicação a cobrir esse lamentável episódio que não pode ser esquecido. Sem citar as violações que o estado do Pará, mais uma vez, fez com a juventude negra”.
A jornalista Vivianny Matos entrevistando jovem que protestou contra o racismo
(Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Para Alicia Lobato, “foi muito importante e interessante ouvir os jovens indígenas durante a pandemia, muitos não puderam voltar para a aldeia tendo que ficar sozinhos na cidade, depoimentos necessários”.

O jornalista Cícero Pedrosa Neto disse que “os quilombolas de Barcarena, no Pará, vivem uma situação complicadíssima em face aos constantes episódios de contaminação ambiental, tendo agora que enfrentar as ameaças da pandemia”. 
Cícero Pedrosa Neto na cobertura da pandemia no Pará (Foto: Amazônia Real)

Para Emily Costa, “saber que uma das mães Yanomami que estava desesperada pelo corpo de seu bebê poderia ter sido poupada desse sofrimento me marcou muito e acho que revela o atual nível de descaso e desrespeito em relação às populações indígenas da Amazônia”.

Leia também: Crianças Yanomami: Três corpos de bebês estão em cemitério e um no IML de Boa Vista (RR)


 

Para Izabel Santos, “o episódio de violações de direitos que se formou a partir desse acontecimento, devido a arrogância e o desrespeito às leis e à vontade da comunidade, é como um espelho da nossa sociedade e da relação do atual governo com a democracia”.

O fotógrafo Bruno Kelly diz que “mesmo com a pandemia em seu nível mais acentuado, os desmatamentos e queimadas não cessaram contra a floresta e seus povos. Foi importante dar continuidade nesse assunto, pois os crimes estão cada vez mais intensos e violentos”.


Roberta Brandão disse que “queria muito contar essa história”.

O jornalista Márcio Camilo disse que essa reportagem é de suma importância “por envolver uma população marginalizada, invisibilizada e estereotipada pelos não indígenas e pela imprensa tradicional, que trata essas pessoas como indigentes ou criminosos. Com essa matéria, foi possível mostrar que havia um outro lado além do Boletim de Ocorrência e da versão oficialesca do governo estadual. Mostrar que ali existiam pais e filhos, trabalhadores… vidas que importam”.

Steffanie Schmidt disse que essa reportagem é muito importante “pela representatividade do tuxaua, o respeito, a vida e a luta que imprimiu. Ouvir sobre ele foi como uma lição de como a vida honrada vale a pena, embora a perda tenha sido em um contexto de negligência”.

A jornalista Edda Ribeiro diz que essa “foi minha primeira contribuição para a Amazônia Real, e tive oportunidade de investigar alguns dos desafios para a juventude manauara em meio a pandemia do coronavírus”.

Bianca Andrade diz que “em pleno século 21, o Amapá viveu momentos surreais com o blackout que perdurou 22 dias e atingiu 13 os 16 municípios do estado, externou as mazelas enfrentadas pelos amapaenses e deixou graves consequências nos âmbitos sociais, emocionais e financeiros, além de violar os direitos dos amapaenses”.

 


O jornalista Fabio Pontes diz que essa reportagem é muito importante “pela história de vida e de trabalho do personagem central”.
O repórter Fabio Pontes em outra reportagem na fronteira do Brasil com o Peru
(Foto: Alexandre Noronha/Amazônia Real)

“É a reportagem mais completa que consegui produzir naquele momento e que demonstrava a realidade que estávamos vivendo”, disse a jornalista Rayane Penha.

Para Nicoly Ambrozio, “a matéria sobre o caso da Dayse reúne uma pauta que é de grande importância por se tratar da agressão contra uma mulher preta. O racismo é uma das mazelas da sociedade que estarei sempre disposta a denunciar em meu trabalho”. 

 

“Foi um processo histórico para a Nação Tupinambá e nós, da Amazônia Real, fomos os únicos que conseguimos estar presentes”, disse Tainá Aragão.

Para o jornalista Leanderson Lima, “não há nada que se compare ao que aconteceu no dia 14 de janeiro de 2021, em Manaus. Em 18 anos de profissão, nunca vi nada igual. Uma cidade colapsada. Pessoas morrendo por falta de oxigênio, dentro dos hospitais. Nem a literatura apocalíptica seria capaz de produzir algo tão perverso, tão desumano. Ver pessoas correndo por toda a cidade em busca de cilindros de oxigênio para tentar, de forma desesperada, salvar seus entes queridos… Isso foi terrível demais. 14 de janeiro de 2021 ficará lembrado como o dia da asfixia. E jamais será esquecido”.

“Lançamos esse vídeo especial no aniversário de morte da irmã Dorothy Stang. Não demoramos um ano pra lançar ele. Foi no tempo mais certo possível. No meio de tantas merdas, ouvir aquela mulher dá ânimo pra continuar”, disse o cineasta César Nogueira.

Para Ana Lúcia Montel, “acompanhar o processo dos moradores saindo da comunidade Ka’Ubanoko foi bem difícil, pois é revoltante ver a omissão das ‘autoridade’ com os povos imigrantes, principalmente diante da pandemia. Ter colocado mais de 900 pessoas na rua é desumano. Mas levo comigo as lembranças de uma comunidade que lutou até os últimos dias por um lugar para dormir e, mesmo não estando mais em Ka’Ubanoko, aqueles moradores continuam lutando por uma vida digna fora do seu país”.

“Essa reportagem me permitiu apurar mais do que um crime recente contra um indígena no Pará: ela me conduz a investigar a reprodução da violência histórica contra povos indígenas e seus territórios sob um modus operandi tradicionalmente urbano, que são as milícias”, diz a jornalista Erika Morhy.

Para a jornalista Werica Lima, “cobrir um ato de resistência durante a pandemia mostrou a força que os movimentos tem e a garra das mulheres. Estas, violentadas todos os dias pelo simples fato de ser do gênero feminino, estão como nunca mais do que vivas, lutando pelos seus direitos e reafirmando em tempos sombrios que não serão silenciadas por ninguém. Os dados não mentem e fazer uma reportagem reivindicando os direitos básicos da população brasileira é extremamente importante. Agradeço a Amazônia Real pela oportunidade.”

“Desde o início, nos primeiros dias de janeiro, algo me inquietava ao ler os noticiários sobre o surgimento de uma nova cepa do novo coronavírus. A imprensa fazia questão de frisar expressões como ‘variante de Manaus’, ‘cepa do Amazonas’ e por aí vai. Àquela altura, falava-se na variante inglesa ou sul-africana. Mas a brasileira era de Manaus, que já vivia a segunda e mais mortal onda da pandemia. Propus esta pauta, porque havia outra questão relevante. Autoridades públicas, notadamente o governador Wilson Lima, o prefeito David Almeida e o desastroso ex-ministro Eduardo Pazuello, tentavam se isentar de suas responsabilidades por conta dessa variante. Nessas horas, o jornalismo tem uma opção: ouvir quem entende, os especialistas, e não os políticos, as fontes oficiais. Era preciso mostrar o que já se sabia, até então, e buscar esclarecer o público. Fontes ouvidas pela Amazônia Real, depois da nossa reportagem, começaram a ser ouvidos pelo resto da imprensa e não demorou para que a variante recebesse um nome mais adequado, P1, a variante brasileira. Hoje, 6 de abril de 2021, o Brasil registra 4.211 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas. Não dá para culpar só a P1 por essa tragédia nossa de cada dia”, disse o jornalista Eduardo Nunomura.

Fonte: https://amazoniareal.com.br/jornalistas-da-amazonia-real-comentam-reportagens-do-periodo-pandemico/

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