Manaus (AM) – Os indígenas Alberto Tenharin, de 24 anos, e Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau, de 20 anos, foram resgatados, por volta de 9h30 desta sexta-feira (11), por uma equipe de buscas depois de passar dois dias perdidos em uma região de difícil acesso da floresta amazônica no entorno da Terra Indígena Juma, em Canutama, no sul do Amazonas. Os jovens se perderam durante uma caçada de subsistência na quarta-feira (9). Participaram das buscas na floresta 17 homens, entre lideranças indígenas de diversas etnias e funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai). 

“Eles acabaram de chegar aqui. Chegaram os dois, graças a Deus”, comemorou Natalício Munduruku, que estava com os dois jovens antes deles desapareceram na última quarta-feira, por volta das 12h40. 

Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau é neto de Aruka Juma, o guerreiro que morreu de Covid em 17 de fevereiro de 2021, e filho do casal Borehá Juma e Erovak Uru-Eu-Wau-Wau.  Já Alberto Tenharin é casado com Tejuvi Juma, neta de Aruká, e filha de Mandeí Juma. O casal tem uma filha pequena. 

Estudante do ensino médio, Puré é jovem comunicador do Blog Jovens Cidadãos da agência Amazônia Real. No fim da manhã de hoje, ele falou por telefone sobre a experiência e a sensação de estar de volta para casa. “Foi um alívio para mim e para a minha família”, conta. 

Puré disse que ele e Alberto se perderam porque seguiram a trilha deixada por uma queixada (porco do mato), e não conseguiram encontrar o rastro da volta. Acabaram entrando numa área de floresta densa fora dos limites da Terra Indígena Juma. Os dois dormiram duas noites na selva e foram atacados por insetos. “A dificuldade mesmo foi na hora de dormir. Não tinha fogueira e tinha muito carapanã. O resto foi bem tranquilo”, diz o jovem indígena.

Chuva atrapalhou buscas

Alberto Tenharin (Foto: reprodução redes sociais)

De acordo com os familiares, na manhã de quarta-feira (9), Erovak Uru- Eu-Wau-Wau saiu para caçar queixadas (porco do mato) na terra indígena, mas depois voltou à aldeia Juma para pedir apoio. Se juntaram para caçada com Erovak seus filhos Avip e Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau, além de dois parentes: Alberto Tenharim e Natalício Munduruku.

Ao chegar ao local da caça, Natalício, Avip e Erovak ficaram encarregados de levar duas queixadas para o barco. Puré e Alberto ficaram procurando os outros animais abatidos durante a caça. Foi a última vez que os dois foram vistos pelo grupo.

“Nós os procuramos e não encontramos. Voltamos para o barco pensando que eles já estavam nos esperando. Quando chegamos no barco eles não estavam lá. A gente começou a gritar chamando por eles, gritamos, gritamos e eles não respondiam”, lembra Munduruku.   

Natalício disse que entrou na mata para tentar encontrá-los. Como já era início da noite, segundo Natalício,  Erovak decidiu levar a caça para a aldeia Juma. Avip acompanhou o pai. Na aldeia, eles pediram ajuda e juntaram um grupo de buscas, que ficou na floresta até às 19h30 de quarta-feira (9) e não encontrou os jovens..

“A gente gritava por eles, mas nenhum sinal de eles responderem. No dia seguinte (10), encontramos alguns vestígios deles, só que esses vestígios sumiram e a gente não conseguia encontrar mais”, recorda Natalício.  

Na quinta-feira o tempo mudou e as chuvas dificultaram a localização dos jovens. Os indígenas comunicaram o desaparecimento de Puré e Alberto à Fundação Nacional do Índio (Funai), que enviou homens das unidades de Humaitá e Lábrea, também no Amazonas. 

Nesta sexta-feira (11), três equipes, duas com funcionários da Funai e uma com os parentes de Alberto Tenharin, partiram para tentar localizar Alberto e Puré. “Hoje (sexta) está chovendo bastante. Ontem também choveu muito. A gente até pensou que isso pudesse dificultar nas buscas, porque aí não dá mais para ver pegadas”, analisa a prima de Puré, Poteí Juma, mas os dois foram encontrados.  

Natalício Munduruku relatou à agência Amazônia Real o momento de angústia. “Muita coisa passou pela cabeça da gente. Pelos poucos rastros que encontramos, parecia que eles estavam andando em círculos”, explica.

Mas o alívio foi imediato. “Os dois chegaram, eles estavam muito longe, muito distante (da terra indígena). Chegaram muito cansados. Ainda bem que eles estão bem agora”, celebrou.

Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau passa bem (Foto: Reprodução Instagram)

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Leanderson

 Leanderson Lima

É graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário Nilton Lins. Tem MBA executivo em Gestão de pessoas e coaching, pelas Faculdades Idaam. Com 18 anos de experiência profissional, atuou por veículos como Jornal A Crítica, Correio Amazonense, Jornal do Commercio e Zero Hora (RS). Na televisão trabalhou na TV A Crítica, Rede TV! Manaus, e na rádio A Crítica, como comentarista. É o vencedor do Prêmio Petrobras de Jornalismo de 2015, com a reportagem “Chute no Preconceito”.

Fonte: https://amazoniareal.com.br/jovens-indigenas-ficam-dois-dias-perdidos-na-floresta-em-canutama/

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