O evento é uma realizado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica) e reúne 1.500 lideranças de 40 etnias

Macapá (AP) –  As mudanças climáticas que vêm acontecendo no mundo e que prejudicam diretamente os povos indígenas, bem como o fortalecimento de políticas públicas para seus territórios, estão sendo debatidas na 4ª. Cúpula Indígena Amazônida, em Macapá (AP). Em paralelo, são realizados o 2º. Congresso de Mulheres Indígenas da Bacia Amazônica e o 10º. Congresso Geral da Coica (sigla em espanhol de Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica). Estes eventos, juntos, somam o 1º Chamado Internacional dos Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará,  que acontece até nesta sexta-feira (22 de junho), na Universidade Federal do Amapá (Unifap).

Como parte da abertura do evento na segunda-feira (19), o 1º. Chamado realizou sua I Marcha no Meio do Mundo, com saída do Marco Zero do Equador, em Macapá, em direção a Unifap, onde se concretiza as palestras, mostras fotográficas e apresentações culturais.

Participam do 1º. Chamado cerca de 1.500 lideranças de 40 etnias. Ao final do encontro, será apresentada uma carta com as principais reivindicações dos povos da Amazônia. Veja a programação completa aqui.

Nesta quinta-feira (21) vai acontecer a 10º. Assembleia da Coica, atividade interna com a participação de delegados dos países que compõem as coordenações amazônicas e serão discutidos a apresentação da agenda e regulamentos operacionais do congresso, relatório de gestão e relatório econômico.

A Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica) surgiu há quase 35 anos, a partir de uma necessidade de junção das grandes organizações indígenas de nove países da Bacia Amazônica – Brasil, Equador, Peru, Bolívia, Venezuela, Suriname, Guiana, Guiana Francesa e Colômbia – para discutir pautas em comum, principalmente em cima da garantia dos territórios dos povos indígenas desses países, uma aliança desses países como uma luta comum.

De acordo com Angela Kaxuyana, uma das coordenadoras da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), dentre as pautas principais, que não deixa de estar dentro da luta como tema transversal, está a luta pela garantia do território.

“Mas a gente está com foco nas mudanças climáticas, economia, temas que todos os países discutem, enfrentam essas questões e a gente traz para este espaço para debater juntos”, explica.

Angela Kaxuyana (Foto: Bianca Andrade/Amazônia Real)

 

Ela destaca que atualmente a Coica vem trazendo mais mulheres para o debate. Sobre isso, Angela fala sobre esse avanço de um espaço conquistado em que as mulheres têm a garantia da participação de número igual de lideranças.

“Hoje a gente tem uma garantia da participação entre os delegados, de 50% das participações de lideranças indígenas, mas foi uma conquista muito grande das mulheres, que durante muitos anos vinham cavando este espaço para ter uma participação de maneira igualitária aos homens. A gente sempre costuma dizer que não é uma forma de afronta, de disputa com as lideranças homens, é uma forma de realmente garantir a participação igual de soma”, ressalta Angela Kaxuyana.

O objetivo do 2º. Encontro das Mulheres Indígenas da Bacia Amazônica é articular ações e fortalecer as organizações indígenas da base política da Coica sobre a temática de gêneros o sobre a luta das mulheres indígenas pela defesa dos seus direitos, com a participação plena e efetiva dessas protagonistas, gerando espaços para a tomada de decisões.

À agência Amazônia Real, Eddy Vladimiro Timias Chiriap, coordenador de Ciência e Tecnologia da Educação da Coica, disse que o encontro é uma forma de consolidar a Organização das Mulheres em primeiro lugar, forma-se um comitê para representar todas as mulheres e, finalmente, eleger a nova diretoria da coordenação das organizações indígenas da bacia amazônica.

 O Chamado dos povos

Encontro dos Povos Indígenas Coica (Foto: Anderson Menezes/Amazônia Real)

O 1º. Chamado Internacional dos Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará é uma realização da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá (Apoinp), em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Segundo a coordenadora Simone Karipuna, para que as políticas públicas ocorram da melhor maneira conforme os povos indígenas desejam, o Chamado vem com o objetivo de fazer com que a sociedade perceba e entenda a realidade desses povos, olhe a cultura com outro olhar.

“Para nós, isso é muito importante para que o povo amapaense, do Brasil e do mundo saiba que a cultura indígena é muito linda e precisa ser valorizada”, destaca Simone.

“O Amapá fica no meio do mundo, e com isso era importante bater o maracá [chocalho indígena] aqui, para que o mundo saiba exatamente as principais demandas dos povos indígenas”, conclui ela.

Juventude e ancestrais

Encontro dos Povos Indígenas Coica (Foto: Anderson Menezes/Amazônia Real)

O estado do Amapá, de acordo com o Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem mais de 7 mil índios. Eles habitam em quatro terras indígenas, nas zonas rurais e urbanas do estado.

Merlane Tiryio, liderança indígena da juventude do povo Tiryio – localizado no Parque do Tumucumaque, Norte do Pará, Sul do Amapá –  disse à Amazônia Real que, cada vez mais, os povos indígenas se fortalecem, mesmo estando vivendo atualmente uma conjuntura preocupante com os impactos socioambientais no Brasil que, para ela, “é muito triste”.

“Nossa perspectiva enquanto juventude indígena é que a gente se fortaleza cada vez mais, juntos com outros parentes, trocando estas ideias com outros jovens que vão debater junto com a gente nossos problemas e soluções. Que podemos olhar daqui pra frente, para que na futuras gerações possam viver mais em paz”.

Tiryio exemplifica: “Nossos ancestrais sofreram muito pra gente estar aqui. A gente está aqui continuando, levando esta luta até o último índio morrer, até o último sangue derramar. Eu acho que nós jovens indígenas presentes somos presentes e os futuros virão”, finalizou.

 Mudanças climáticas

Encontro dos Povos Indígenas Coica (Foto: Anderson Menezes/Amazônia Real)

O diretor executivo da organização Climate Alliance, a maior rede de cidades europeias voltada ao combate às mudanças climáticas, Tomaz Bose, disse que é de suma importância reduzir as emissões de gases do efeito estufa, não só de energias, mas de recursos naturais na Europa, nos países industrializados. Por outro lado, segundo ele, há a necessidade de ver onde estão as soluções para estes problemas, e os povos indígenas com o seu modo de vida tradicional são exemplos.

“Não é que nós vamos virar indígenas, essa não é a estratégia, mas aprender o que possibilita usar a floresta sem destruir… Pode parecer um pouco exótico, mas quando você vai um pouco mais a fundo, vê as relações que existem neste modo de vida”, comparou. “É importante ressaltar que há 25 anos os municípios membros da Climate Alliance têm colaborado com os povos indígenas das florestas tropicais em benefício do clima global”.

 Transmissão para o mundo

Comunicadores do Pororoca Red CiberAmazonas (Foto: Bianca Andrade/Amazônia Real)

O evento em Macapá conta com a transmissão da Pororoca Red CiberAmazonas, projeto que converge comunicadores originais, ribeirinhos, quilombolas e urbanos, comunicam os principais temas dos povos da Amazônia e trocam experiências por meio de ferramentas digitais das novas tecnologias de comunicação.

Para este evento, o grupo conta com 20 comunicadores e técnicos, que trabalharão de forma mais independente e com a cooperação da equipe da Coica.

A radialista Rita Muñoz disse ao Amazônia Real como se sente sendo a âncora de um dos programas da Rádio Nave. Ela acredita que esta é uma oportunidade para as mulheres expressarem seus sentimentos, tendo a oportunidade de conversar com muita gente não só sobre o problema, mas também algumas alternativas. “Como mulher, estamos conseguindo um papel de liderança, temos o direito de sermos ouvidas”, salienta.

A transmissão dos encontros será pelo site de rádio La Nave e os links disponibilizados em www.pororoca.red e suas redes sociais Facebook e Twitter e também pela plataforma da COICA, Rádio Rural Santarém (Brasil), Rádio Ucamara Piscina News América Latina (Alemanha), Rádio Nacional do Alto Solimões (Amazonas e Peru).

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