O segundo episódio traz a história de vida da cientista Ana Carla Bruno, do INPA, e como ela percebe a pouca representatividade de pesquisadoras negras dentro da academia (Foto de César Nogueira/Amazônia Real)
Manaus (AM) – Uma mulher negra, nordestina e cientista é a segunda personagem da série “Ciência na Amazônia” no episódio “Para além da resistência”, produzido pela agência Amazônia Real. No documentário, a antropóloga e linguista Ana Carla Bruno, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), conta sua trajetória nos estudos da língua dos indígenas Waimiri Atroari (Kinja) e fala sobre o enfrentamento ao racismo e sobre a falta de recursos para as pesquisas durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL).
“O medo começou na campanha dele [em 2018], antes dele se tornar presidente. Quando saiu que tinha ganho a eleição, foi assustador, de chorar. Era muito previsível o que vinha pela frente. Porque ele nunca enganou ninguém”, diz a cientista no documentário, que estreia no dia 30 de dezembro, às 9h (10h no horário de Brasília) no canal do YouTube da Amazônia Real.
Ana Carla Bruno, de 51 anos, é também professora colaboradora no programa de pós-graduação em Antropologia Social na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Nascida em Recife (PE), ela vive na Amazônia desde a década de 1990. A antropóloga tem refletido sobre o papel das mulheres negras na ciência brasileira. “Porque parece que o lugar que a gente tem que ocupar é o lugar de arrumar a casa, o lugar de empregada doméstica, de trabalhar em loja. É qualquer outro lugar, menos o espaço científico”, questiona ela no segundo episódio da séria, que será apresentado no dia 31 de dezembro, às 20h (horário de Brasília) no programa Megafone da TVT São Paulo.
A série “Ciência na Amazônia” recebe o apoio financeiro do Instituto Serrapilheira. O primeiro episódio foi lançado no dia 10 de dezembro com o título “O homem da natureza” e retratou o cientista norte-americano Philip Martin Fearnside, radicado na região amazônica há 40 anos.
Além de Ana Carla e Fearnside, são personagens dos documentários o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia; a historiadora Patrícia Melo, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam); e o antropólogo João Paulo Barreto, fundador do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi. Os episódios serão divulgados até o final de janeiro.
“A história de Ana Carla Bruno vai impactar muitas mulheres negras que lutam contra o racismo e o machismo no Brasil, não só na ciência, mas em todas as profissionais. Então ela me representa também”, diz a jornalista Kátia Brasil, diretora e roteirista da série “Ciência na Amazônia” e co-fundadora da Amazônia Real.
Diversidade linguística
Doutorado em Antropologia e Linguística pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, Ana Carla acompanha, especialmente, os processos de tradução de textos que tratam de questões biológicas em um projeto coordenado pela micóloga Noêmia Ishikawa (também pesquisadora do INPA) para as línguas indígenas. Elas defendem que mais tradutoras mulheres participem do trabalho.
No documentário, ela falou sobre a iniciação científica, diversidade linguística e analisou não apenas as estruturas das línguas nativas, mas como conectá-las com os processos de territorialização e aspectos culturais, sociais e intelectuais dos povos indígenas no Brasil. “Em um país como o nosso, que tem uma diversidade linguística riquíssima, é muito triste perceber que grande parte da população brasileira desconhece que a gente vive em um país multilíngue, multiétnico”, diz.
Como pesquisadora da antropologia linguística, ela estuda e está envolvida com os movimentos de revitalização e visibilidade das línguas indígenas no Brasil. Para isso, dedica-se a divulgar a relevância da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), criada pela UNESCO.
No período da pandemia, Ana Carla Bruno integrou dois projetos de pesquisa e trabalho de campo em comunidades indígenas do contexto urbano de Manaus. Um deles, intitulado “Diagnóstico e prevalência da infecção por Sars-Cov-2 em comunidades indígenas da área urbana de Manaus”, que foi financiado pela CAPES e coordenado pelo pesquisador Gemilson Pontes (INPA). No documentário, ela conta como enfrentou o luto na família. “O pai das minhas filhas, indígena Baniwa [Aldevan], infelizmente se encantou muito cedo. Foi vítima da pandemia. E com ele foi uma parte do conhecimento sobre o universo indígena que ele poderia não só passar para as filhas, mas também para a sociedade como um todo”.
Participam da produção da série “Ciência na Amazônia” profissionais do audiovisual do Amazonas como César Nogueira (cinematografia e montagem), Naila Fernandes (som direto), Valentina Ricardo (coloração) e Heverson Batista, o Batata (mixagem do som); além de integrantes da equipe da agência de jornalismo: Elaíze Farias (pesquisa), Alberto César Araújo (pesquisa no acervo de imagem e fotografia); Lívia Lemos (designer e redes sociais), Iris Brasil (produção de conteúdo) e Cristina Camargo (consultora de projeto).
Acompanha o 1o. episódio: Philip Martin Fearnside – “O homem da natureza”.
O que é:
Lançamento do 2o. episódio da série “Ciência na Amazônia”
Ana Carla Bruno – “Para além da resistência”
Dia 30 de dezembro: canal do YouTube da Amazônia Real
Horário: 9h (horário de Manaus, 10h em Brasília)
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Dia 31 de dezembro: programa Megafone da TVT São Paulo
Horário: 20h (horário de Brasília)
Apoio financeiro: Instituto Serrapilheira
Realização: Amazônia Real 2022
O projeto “Ciência na Amazônia” conta com apoio do Instituto Serrapilheira, a primeira instituição privada sem fins lucrativos de fomento à ciência e à divulgação científica no Brasil.
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