A comunidade indígena Umariaçu 2, do povo Tikuna, já enfrentou o novo coronavírus, com pessoas adoecidas, e vivenciou o momento histórico da vacinação contra a Covid-19, uma esperança de vidas serem salvas, nestes últimos 16 meses. A aldeia fica no município de Tabatinga, no Alto Solimões, no Amazonas (a 1.110 quilômetros de Manaus). No entanto, as atividades escolares continuam paralisadas por causa da disseminação do vírus.
Através da Rede de Jovens Indígenas Comunicadores do Alto Rio Solimões (REJICARS) do Umariaçu 2, composta por jovens da etnias Tikuna, os estudantes elaboraram vídeos educativos voltados para Covid-19, aos trabalhos agrícolas e de pesca dos pais e sobre o programa de saúde mental. Os jovens também valorizaram os remédios tradicionais e as práticas milenares, que passam de geração para geração. O projeto foi apoiado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Solimões (DSEI/ARS).
Sabendo que as escolas estão paradas, os jovens realizam oficinas de pintura artística, fotografia e produção de áudio e visual dentro da comunidade em parcerias com artistas locais que deram as aulas nas oficinas oferecidos pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), respeitando sempre as formas de proteção exigida pela Equipe Multidisciplinar de Saúde (EMS).
A comunidade Umariaçu 2 sofre de vulnerabilidade social nas questões da educação, saneamento, infraestrutura de saúde e segurança. “Nesses dias, praticamente a comunidade indígena parou de trabalhar na roça e tudo ficou muito difícil. Todas as plantações na roça se estragam. Alguns dias faltam alimentação nas nossas cozinhas”, disse Luis Rafael, aluno de fotografia da REJICARS.
Mesmo com esse cenário, o grupo de jovens da REJICARS sonha muito longe e quer criar um centro de convivência para os indígenas da aldeia. O centro promoverá a participação dos jovens e adolescentes, motivando a auto-estima, a criatividade, o bem-estar, a valorização da vida, das culturas tradicionais. O objetivo é promover espaços de diálogo e convívio entre eles, através de oficinas de música, fotografia, teatro, pintura, desenho, palestras envolvendo diversas temáticas sobre saúde, meio ambiente e a prevenção aos agravos de violência, uso abusivo de álcool e suicídio.
A pandemia ainda permanece. A barreira sanitária, montada desde o ano passado, logo nos primeiras ondas de surto da pandemia, continua possibilitando o monitoramento diário de casos do novo coronavírus entre os indígenas que vivem na Terra Indígena Umariaçu. No ponto de vista do cacique Sildonei Mendes, no combate à Covid-19 temos a defumação das comunidades. uma prática milenar. “Não tem contra-indicação e não afeta a saúde dos Tikuna. Também ajudou muito no combate, o chá de folhas de plantas e árvores medicinais que curam”, disse o cacique.
Comunidade Umariaçu 2, em Tabatinga, no Amazonas (Foto REJICARS)
O povo Tikuna se autodenomina Magüta e tem seu território tradicional no estado no Amazonas. É o povo indígena mais populoso do país, com com 53.544 pessoas, segundo levantamento da Sesai de 2014. A língua Tikuna é amplamente falada nas comunidades, que se distribuem na tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia. No lado brasileiro, as comunidades estão localizadas nos municípios amazonenses de Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antonio do Içá, Jutaí, Fonte Boa, Tonantins e Beruri. A maior parte das aldeias encontra-se ao longo ou nas proximidades do rio Solimões.
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