Por Lúcio Flávio Pinto

A Vale colocou no seu portal vídeo com quase seis minutos de duração para registrar os 40 anos do seu relacionamento com os indígenas Xikrin do Cateté, seus vizinhos na província mineral de Carajás, no Pará. A relação entre a mineradora e esse povo tem sido frutífera e o seu balanço é positivo. Hoje, a convivência entre as duas partes, que costuma ser conflituosa em situações semelhantes, é baseada no respeito mútuo.

Mas talvez só seja assim agora porque a terra indígena dos Xikrin, como as outras três unidades de conservação da área (as florestas nacionais de Carajás e de Tapirapé-Aquiri, mais a reserva biológica do Aquiri) funcionam como barreira protetora contra as invasões da província mineral, tentada por diversos grupos de garimpeiros, fazendeiro, grileiros, madeireiros e mesmo empresas ao longo do tempo. A Vale inspirou a criação dessas reservas e é quem as mantém, sob o guarda-chuva do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio.

No planejamento original da construção da ferrovia que escoa a produção de minério até o porto de São Luiz do Maranhão. Não estava previsto qualquer ação para os 13 povos indígenas estabelecidos ao longo da linha férrea, de mais de 870 quilômetros. O componente indígena foi incluído por exigência do Banco Mundial, que concedeu o estratégico financiamento de 300 milhões de dólares, importante para liberar outros empréstimos.

Talvez pensando nesse passado já remoto, a gerente executiva de gestão social da Vale, Camila Lott, tenha agradecido aos Xikrin por terem possibilitado à empresa corrigir erros do passado, o que tem feito. Mas cometendo outro erro: praticamente todas as declarações são dadas por ex-funcionários ou funcionários ainda ativos da mineradora. A exceção é a antropóloga Isabel Vidal Giannini, vinculada à empresa pelo projeto de preservação da memória do povo indígena.

Isabel é filha de Lux Vidal, a cientista com mais extensa e mais profunda relação com os Xikrin. Ela aparece em pelo menos três momentos do documentário. Mas sem falar. Porque não quis ou porque não deixaram falar a grande Lux Vidal, o principal elo dos Xikrin com as duas realidades, antes e depois da mineração?


A imagem que abre este artigo pertence ao Acervo Fotográfico da Comunidade Xikrin do Kateté, mantido pela Associação Indígena Porekrô.

Fonte: https://amazoniareal.com.br/vale-e-xikrin-40-anos/

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