Indígenas atingidos foram atendidos inicialmente por profissionais locais e levados para Centro de Referência Surucucu – Reprodução/Twitter
Comitiva do governo federal foi enviada ao estado para acompanhar caso e providenciar encaminhamentos
Três indígenas foram atacados e baleados por garimpeiros ilegais na tarde de sábado (29), na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Ilson Xirixana, de 36 anos, levou um tiro na cabeça, não resistiu e morreu às 5h33 deste domingo (30). Os outros dois homens, um de 24 anos e outro de 31, foram baleados no abdome e levados inicialmente para o Centro de Referência Surucucu. Na manhã deste domingo eles foram transferidos para um hospital em Boa Vista, capital do estado.
O caso foi denunciado nas redes sociais por Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi/YY) e da Urihi Associação Yanomami. “Estamos no aguardo de novas informações, que deverão ser repassadas às autoridades”, disse o dirigente, segundo o qual Ilson Xirixana atuava como agente indígena de saúde da Comunidade Uxiú, localizada dentro do território tradicional. A área é protegida por lei desde quando foi homologada e demarcada, em 1992.
O secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, que atua junto ao Ministério da Saúde, pronunciou-se sobre o caso pelo Instagram por volta do meio-dia deste domingo. “Tomamos conhecimento já na manhã de hoje que, entre os três feridos, um indígena veio a óbito. O mesmo era agente indígena de saúde. Estamos em contato com a ministra Nísia Trindade, a ministra Sônia Guajajara e a presidenta da Funai, Joênia Wapichana para tratar do caso. Os ministros Flávio Dino e de Direitos Humanos, Silvio Almeida, também já foram acionados”, informou.
Guajajara, que está à frente do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), disse pelas redes sociais que o governo enviou uma equipe composta por representantes de mais de um ministério para acompanhar o caso. “Com muito pesar soubemos do ataque a tiros de garimpeiros contra três indígenas Yanomamis. Um veio a óbito e os outros dois estão sob atendimento em estado grave. Uma comitiva interministerial está a caminho de Roraima para reforçar ainda mais as ações de desintrusão dos criminosos”, publicou, na tarde deste domingo.
A mandatária também fez alusão à complexidade do caso que envolve a comunidade Yanomami, que viveu uma dura crise humanitária no início de 2023, após anos de desmonte das políticas de proteção aos indígenas e do consequente incentivo à prática do garimpo e outros crimes que atingem os povos tradicionais. O cenário de ataques aos direitos das comunidades se agravou especialmente entre 2019 e 2022, durante a gestão Bolsonaro.
“A situação de invasores na TI Yanomami vem de muitos anos e, mesmo com todos os esforços sendo realizados pelo governo federal, ainda faltam muitas ações coordenadas até a retirada de todos os invasores do território. Solicitamos reforço do MJ [Ministério da Justiça] para investigação da PF [Polícia Federal] sobre este caso”, disse Guajajara.
Investigação
Em nota publicada pouco antes das 16 horas, a Polícia Federal informou que tomou conhecimento do ataque no começo da noite de sábado e que, na madrugada deste domingo, enviou duas equipes ao local do conflito, na comunidade Uxiu, para apurar o caso e “interromper eventuais agressões que ainda estivessem em andamento”. A ação se deu em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a Força Aérea Brasileira (FAB).
“Durante as diligências a PF apurou indícios dos crimes cometidos contra os indígenas, ouviu testemunhas, realizou perícia de local de crime e aguarda a elaboração dos respectivos laudos e relatórios para prosseguimento das investigações. O corpo [de Ilson Xirixana] foi encaminhado para o IML para elaboração de laudo”, diz o texto.
A instituição afirma ainda que as diligências seguem em andamento com o objetivo de “identificar, localizar e prender” os autores dos crimes. Também destaca que ainda estão em curso as ações de desintrusão dos invasores que se encontram em territórios tradicionais. A iniciativa se dá por meio da Operação Libertação, que ocorre desde fevereiro.
Edição: José Eduardo Bernardes
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