O estudante de linguística da Unicamp Naldo Tukano, 35, trabalha para que sua língua materna seja preservada; Censo mapeou 295 línguas indígenas no Brasil – Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

  • Tikúna é a mais numerosa, com 51,9 mil falantes, segundo levantamento do IBGE
  • Warao, da Venezuela, virou língua indígena com mais falantes em PI, RN e DF após migração

Lucas Lacerda

São Paulo

O Brasil tem 295 línguas indígenas faladas em todo o território nacional, aponta o Censo. Na comparação com o levantamento anterior, de 2010, houve um aumento de 21 registros. A língua indígena com mais falantes no país é tikúna, com 51.978 falantes. Em seguida estão a guarani-kaiowá, com 38.658, e a guajajara, que soma 29.212.

Ao todo, considerando as pessoas com dois ou mais anos de idade, 474.856 pessoas indígenas falavam ou usavam línguas indígenas no domicílio em 2022.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (24) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ao todo, a população indígena registrada no país foi de 1.694.836 pessoas. Os dados consideram a declaração durante o recenseamento, em 2022. Já as etnias são 391, sendo a tikúna, a kokama e a makuxi as três mais numerosas.

As unidades da federação que concentram mais línguas diferentes são Amazonas (168), que tem a tikúna como a mais numerosa (46.966 falantes), São Paulo (131), com a língua guarani-mbya com maioria (2.677) e o Pará (127), com munduruku (10.790 falantes) como a mais numerosa.

Os municípios que possuem as maiores concentrações são Manaus (99), São Paulo (78) e Brasília (61). Fora as capitais, São Gabriel da Cachoeira (AM) registrou 68 línguas, Altamira (PA) teve 33 e Iranduba (AM), 31.

O instituto chegou ao número de 1.990 municípios em que a população com dois ou mais anos de idade fala ao menos uma língua indígena.

Para comparação entre o último e o penúltimo recenseamento, o IBGE considerou o número de falantes com cinco ou mais anos de idade, mesmo critério usado em 2010. Naquele ano, 293,8 mil pessoas falavam algum idioma indígena. Esse contingente passou para 433,9 mil em 2022.

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sobre etnias e línguas indígenas

Apesar disso, proporcionalmente caiu o número de indígenas que fala algum dos idiomas —há 15 anos, 37,5% dos indígenas era falante de uma dessas línguas, taxa que foi de 28,5% em 2022.

Já dentro das terras indígenas, resultado também, de acordo com os técnicos, do fortalecimento da autoafirmação e das melhoras em coleta de dados, os falantes de línguas indígenas passaram de 57,4% para 63,22% das populações que residem nesses territórios.

O país também viu surgir como língua indígena mais falada em alguns estados o warao, da Venezuela, por causa da migração recente para o Brasil. O IBGE identificou 5.055 falantes ao todo, sendo que 4.398 residiam em área urbana. Roraima concentrava a maior parte dessas pessoas, com 1.817 registradas. Além disso, o warao virou a língua indígena mais falada no Piauí (195 falantes), no Rio Grande do Norte (73 falantes) e no Distrito Federal (156 falantes).

De acordo com o IBGE, das 308 mil pessoas indígenas com 15 ou mais anos de idade que falam língua indígena, 78,5% são alfabetizadas. A taxa é inferior ao grupo de indígenas como um todo.

Entre as pessoas indígenas com cinco ou mais anos de idade, o percentual de quem não fala português caiu de 17,5% em 2010 para 11,9% em 2022. Já para quem vive dentro de terras indígenas, os não falantes de português aumentaram de 28,9% para 31%.

Para o estudante de linguística da Unicamp e ativista Naldo Tukano, 35, a coleta desses dados é ponto de partida para a criação de políticas públicas. “É importante termos esses dados para o desenvolvimento da educação escolar indígena e para que as línguas sobrevivam e ultrapassem gerações, porque atualmente têm um sério risco de morrerem.”

Natural de São Gabriel da Cachoeira, Naldo se preocupa em passar os conhecimentos da língua tukano para o filho e os enteados, e vê o papel como indígena e pesquisador ter um peso duplo. “Eu tento preservar o máximo possível da minha raiz, porque a morte da língua vem através de ideias, de conceitos e modos de vida, e muitos indígenas abandonaram a língua.”

Atualmente, ele trabalha para inserir a língua tukano, que teve 12.435 falantes registrados no recenseamento de 2022. O objetivo é criar dicionários, materiais didáticos e programas de formação para manter a língua viva por meio da formação de novos falantes.

“Quando se tem dado, se gera estatística. Com isso, é possível que indígenas reivindiquem políticas voltadas para essas línguas e para as populações falantes.”

“As línguas indígenas carregam conhecimentos ancestrais de cultura. São

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2025/10/censo-mostra-que-brasil-tem-295-linguas-indigenas-com-4339-mil-falantes.shtml