Estudantes e professores apontam problemas como a falta de estrutura das escolas e acesso à internet.
Com a crise causada pelo coronavírus, muitas atividades da nossa rotina sofreram algumas mudanças, tendo em vista que a população tem que seguir a recomendação da OMS de distanciamento social, assim, o mundo aos poucos foi entrando em quarentena. Essa, inclusive, ainda é a principal medida de prevenção à covid-19, já que no momento, não há doses de vacinas suficientes para todos. Uma dessas atividades que passaram por adaptações foi o ensino que, desde o início da quarentena, migrou do formato presencial para o remoto. Mas quais as consequências dessa mudança na educação para os professores e, principalmente, para os alunos? E como as comunidades indígenas estão se adaptando a essa nova realidade?
Ezequiel Nascimento de Castro, indígena da Tremembé da Barra do Mundaú, em Itapipoca (CE), é professor indígena, membro da Comissão de Juventude Indígena (Cojice) e Conselheiro de Saúde Local Tremembé. Para ele, um dos maiores desafios do ensino remoto, tanto para os alunos como para as escolas, é em relação ao conteúdo. Ezequiel explica que o processo de ensino remoto precisa ser mais simples, tendo em vista que o aluno possa, não só aprimorar seu conhecimento, mas aprender um conteúdo novo. Tudo isso exige um planejamento específico, mas, como ele afirma “Acima de tudo, dar uma olhada nas famílias que têm dificuldade. Muitas das vezes o pai que não sabe ler, muitas das vezes um irmão que ainda é menor, então acaba que isso, esse método remoto, o professor e a escola têm que pensar em um planejamento específico”.
Ezequiel também explica que outro desafio em relação ao ensino remoto se diz respeito à estrutura das escolas indígenas que, segundo ele, muitas vezes não são adequadas “Um dos desafios grande que as escolas indígenas se encontram hoje, principalmente no estado do Ceará, é a estrutura que, muita das vezes, não é adequada para esse ensino diferenciado que é o ensino remoto”. O professor afirma que as escolas não possuem uma impressora adequada e que muitas vezes acabam faltando materiais como tinta colorida, por exemplo. “Então tem escolas indígenas que tem ainda essa dificuldade de ter a internet, de ter uma impressora, de ter computador. Muita das vezes o professor indígena não tem e aí isso vai dificultando o processo do ensino remoto porque grande parte das escolas indígenas ou até mesmo, talvez, quase todas, ou todas, trabalham com material impresso porque as condições das escolas é muito difícil para trabalhar o material de forma virtual, online”, ressalta.
Luan de Castro Tremembé é estudante da 3ª série do Ensino Médio na Escola Indígena Brolhos da Terra. Ele afirma que um dos maiores desafios que ele enxerga para os estudantes é a adaptação a essa nova forma de ensino “Nas aldeias indígenas, o acesso à internet, falo pela minha aldeia, é bem dificultoso. O acesso é muito, muito dificultoso mesmo e muitos dos estudantes nem mesmo celular tem, então acho que o maior desafio foi esse, foi conseguir encontrar uma forma de que todo mundo conseguisse aprender, que todo mundo conseguisse ter acesso a educação nesse momento”.
Luan afirma que o ensino remoto poderia melhorar caso todos os estudantes tivesses acesso à internet. “Se o Governo, o Ministério da Educação conseguissem, de alguma forma, viabilizar internet, especialmente para as aldeias indígenas, eu acredito que isso ajudaria bastante”. Outro fator que poderia ajudar no ensino à distancia, de acordo com ele, seria a inserção de canais educativos nas emissoras de TVs.
Além da preocupação com o ensino, Ezequiel também informa alguma das iniciativas tomadas pelo povo Tremembé da Barra do Mundaú para evitar o avanço do coronavírus em suas terras. “Em relação a nós, Tremembé da Barra do Mundaú, a gente, desde o início da pandemia, iniciou esse trabalho de prevenção, orientação junto às lideranças, junto aos nossos troncos velhos, as mulheres, os jovens, os homens, com esse fortalecimento, não só da escola indígena, mas também com esse ensino, com esse processo educativo também com a saúde indígena local que a gente tem dentro do território”.
Ezequiel informa que há ações de incentivo, de combate e prevenção e orientações sobre o coronavírus. Ele também afirma que foi realizada, por mais de seis meses, uma barreira sanitária no local, o que colaborou com a diminuição de casos de covid-19 dentro do território. Os trabalhos por lá, de acordo com ele, ainda estão sendo intensificados.
Edição: Vanessa Gonzaga
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