Pará e Mato Grosso seguem líderes em área degrada, mas Rondônia desponta como nova frente de exploração ilegal
A área atingida pelo garimpo ilegal em 2021 superou pelo terceiro ano consecutivo o território impactado pela mineração industrial no Brasil. Isso mostra que a extração de minérios no país ocorre, em sua maioria, sem quaisquer medidas compensatórias à natureza e às populações atingidas.
O crescimento em ritmo mais acelerado do que a mineração atinge principalmente a Amazônia, bioma que responde por 91,6% da área degradada pela garimpagem. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (27) pelo Mapbiomas, projeto referência em estudos ambientais, e revelam o ritmo de crescimento da atividade.
Entre 2010 e 2021, a área atingida pela garimpagem quase dobrou, passando de 99 mil para 196 mil hectares. Para duplicar em território, a mineração industrial precisou de uma década a mais, saltando de 86 mil hectares em 2001 para os 170 mil no ano passado.
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“Embora ambas as atividades produzam impactos, a mineração industrial, que é controlada por grandes empresas, exige de todo um processo de licenciamento, acompanhamento da instalação, projetos de mitigação, controle de danos ambientais, previsibilidade do risco. No garimpo isso não existe”, afirma Cesar Diniz, doutor em Geologia e coordenador técnico do mapeamento da mineração no Mapbiomas.
Rondônia desponta como nova frente garimpeira
Os principais polos do garimpo são Pará e Mato Grosso, ambos na Amazônia Legal, que juntos contém 82% da área garimpada no Brasil. O alerta é para o estado de Rondônia, que se consolida como uma nova frente garimpeira, concentrando 4,7% do território explorado.
“Em Rondônia, como no Pará e no Mato Grosso nós temos o pior jeito possível de se fazer garimpo, que é o garimpo que desmata, que escava e que utiliza o mercúrio para separar o ouro. É o tradicionalíssimo garimpo amazônico, que desmata primeiro, para então escavar as regiões que foram desmatadas”, explica Diniz.
Mineração em áreas indígenas cresce 632%
Quase 90% da extração ilegal de minério está fora de áreas restritas, como Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs). Mas é justamente nessas onde ocorre um crescimento vertiginoso da atividade. Em TIs, o aumento foi de 632% entre 2010 e 2021. Nas UCs, saltou 352% entre 2009 e 2021.
As duas Terras Indígenas mais afetadas estão no Pará: Kayapó e Muduruku. Na sequência vem a Yanomami, a maior TI do Brasil em extensão, seguida por Tenharim do Igarapé Preto (AM) e Apyterewa (PA). Em função do garimpo, todas vivem um intenso processo de degradação social, com crescentes casos de alcoolismo, abusos sexuais e conflitos territoriais.
Negacionismo científico nas eleições
O garimpo não cresce apenas em área, mas também vem ganhando terreno político. Boa parte dos candidatos bolsonaristas nos estados da Amazônia Legal são defensores do garimpo e fazem promessas de regulamentação. O número de candidatos que reivindicam a legalização da atividade cresceu visivelmente. Há até a expectativa da formação de uma “bancada do garimpo” no Congresso.
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Para acobertar os graves danos socioambientais provocados pela atividade, políticos têm procurado ressaltar aspectos supostamente positivos, como a geração de empregos. Outros procuram rebater evidências científicas de que o garimpo é uma atividade danosa, refutando, por exemplo, a periculosidade do mercúrio para a saúde humana. Ainda há quem diga que a garimpagem é “sustentável”, pois as áreas degradadas são rapidamente regeneradas pela natureza.
É tudo mentira, garante o doutor em geologia.
“Mas quando existe um grupo de pessoas que diz, por exemplo, que garimpo não contamina ninguém, isso é de uma profunda ignorância científica. Quando o seu poder econômico advém de uma atividade ilegal, é normal que você distorça a informações científicas a seu interesse”, conclui Cesar Diniz.
Edição: Thalita Pires
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