Queda ocorre sete meses após início da expulsão dos invasores; garimpeiros remanescentes seguem provocando insegurança
Ministério da Defesa diz que grandes pontos de garimpo na Terra Indígena Yanomami já foram desativados – Bruno Kelly/Amazônia Real
A área atingida pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami caiu 78,5% entre janeiro e setembro de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (15) pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), do Ministério da Defesa.
Nos primeiros nove meses de 2023, a área impactada pelo garimpo foi de 214 hectares. Já no ano passado atividade ocupou 999 hectares, conforme aponta o monitoramento por satélite do Cenispam.
Na terra indígena Yanomami, o garimpo ilegal provocou uma crise humanitária que, ignorada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), resultou na morte por causas evitáveis de pelo menos 570 crianças indígenas.
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Segundo o Ministério da Defesa, a redução de quase 80% indica que a presença dos garimpeiros está restrita a pequenas áreas da região e que as maiores concentrações de invasores foram desmobilizadas.
Imagens de satélite divulgadas pelo Cinespam mostram que houve mudança na coloração de dois rios afetados pelo garimpo – Uraricoera e Mucajaí. O cor amarelada, fruto da contaminação pelo mercúrio, deu lugar ao tom natural mais escuro da água.
Imagens de satélite mostram rios mais saudáveis após redução de 80% no garimpo na Terra Indígena Yanomami / Divulgação/Governo Federal
A baixa no garimpo ocorre sete meses após o governo federal deflagrar a operação Libertação, que mobiliza 700 integrantes de diferentes instituições governamentais, com o objetivo de por fim ao garimpo ilegal no território Yanomami.
Após a intervenção do governo federal, foram abertas frentes de atendimento de saúde dentro do território. As vítimas sofriam com malária, verminoses, desnutrição e contaminação por mercúrio.
Garimpo segue provocando insegurança, dizem indígenas
Um relatório lançado em agosto deste ano por associações Yanomami e Ye’kwana aponta que garimpeiros ainda persistem no território, provocando instabilidade e insegurança.
As organizações indígenas dizem que políticos, militares e facções criminosas ligadas ao garimpo ilegal contribuem para tumultuar e atrasar ainda mais o processo de expulsão dos garimpeiros, que se arrasta desde fevereiro deste ano.
O relatório cobra ações do governo federal para aperfeiçoar e ampliar ações de saúde, ajuda humanitária e restabelecimento de segurança alimentar, profundamente afetadas pelo garimpo.
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“Talvez você possa considerar 70% de evolução positiva depois de 6 meses. Mas ainda precisa ser olhado mais para dentro da terra Yanomami” afirmou em agosto Maurício Ye’kwana, da Hutukara Associação Yanomami.
“[A gestão federal] precisa ter esse diálogo com as organizações indígenas. Porque só o governo entrando lá dentro e tentando fazer algo não vai conseguir fazer. Não sem a presença das organizações indígenas que estão ali”, cobrou o líder indígena.
O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) reconhece que ainda há questões a serem resolvidas envolvendo a Terra Indígena Yanomami, mas afirmou que a reconstrução dos estragos que foram feitos ao longo de anos de descaso leva algum tempo.
“Ainda assim, podemos afirmar que o tratamento dispensado não só aos Yanomami, mas a todos os povos indígenas, já mudou para melhor”, declarou o MPI.
Edição: Thalita Pires
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