Este é o segundo atentado contra a etnia Tembé em quatro dias; um jovem de 19 anos foi alvejado na última sexta (4)
Celimar de Meneses
Moradores protestaram nesta segunda-feira (07) contra prisão de indígena baleado – CNDH
Indígenas da etnia Tembé foram atacados a tiros nesta segunda-feira (7), em Tomé-Açu (PA), enquanto uma missão emergencial de direitos humanos se dirigia ao município com o objetivo de apurar denúncias de violações.
O ataque ocorreu na comunidade Turé Mariquita e atingiu três pessoas: duas jovens, Daiane Tembé e Erlane Tembé, e um rapaz de 23 anos, Felipe Tembé. A comunidade indígena, que esperava a missão de direitos humanos, disse a conselheiros que acredita que os tiros sejam responsabilidade de pessoas ligadas à empresa multinacional Brasil BioFuels (BBF), que produz azeite de dendê na região.
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O atentado teria sido motivado pela denúncia feita por um cacique na última sexta-feira (4), em Belém (PA), durante evento promovido pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) nos Diálogos Amazônicos, encontro preparatório para a Cúpula da Amazônia. Na ocasião, o cacique informou, em lágrimas, que seu filho, que ainda é criança, foi alvejado nas partes íntimas durante conflitos na região.
Preso antes de atendimento médico
Uma das pessoas baleadas nessa segunda, Felipe Tembé, foi preso antes de receber socorro médico. Apesar de ter levado um tiro nas costas, o indígena foi levado à delegacia por policiais. Até a tarde desta segunda, moradores se concentravam na porta da unidade policial pedindo a soltura imediata e o atendimento médico ao indígena baleado.
O Brasil de Fato solicitou informações ao Governo do Estado do Pará sobre a prisão, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.
Polícia em frente à delegacia onde indígena baleado está preso / CNDH
A missão que foi ao Pará é coordenada pelo Conselho Nacional dos Direitos Humanos. A conselheira do CNDH Virgínia Berriel relata que, durante o deslocamento para a missão, a rodovia estava fechada com intuito de impedir o acesso da delegação. “É mais um ataque covarde aos direitos humanos, porque isso só aconteceu devido à nossa vinda ao local”, afirma a conselheira.
A comissão conta com representantes da Organização das Nações Unidas (ONU), Ministério Público do Trabalho, Human Rights, Comissão Pastoral da Terra, Redes de Liberdade, Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entre outras entidades.
Outro ataque
Este já é o segundo ataque feito contra os Tembé em quatro dias. Outro indígena da etnia, de 19 anos, foi baleado no última sexta-feira (4), também no município de Tomé-Açu, mas na aldeia Bananal.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), moradores da comunidade relataram que, na quinta-feira (3), um grupamento especializado e ostensivo da Polícia Militar chegou à aldeia acompanhado de seguranças da Brasil Bio Fulls (BBF). O grupo armado teria interditado a ponte de acesso à comunidade.
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De acordo com informações recebidas pela assessoria jurídica da Associação Indígena Tembé Vale do Acará e repassadas ao MPF, o tiro que alvejou o indígena pode ter vindo da Polícia Militar ou dos seguranças da BBF.
“Atualmente, comunidades indígenas Tembé e quilombolas da região passam por um momento de conflito com empresas produtoras e extratoras de óleo de palma, considerando que as várias arbitrariedades praticadas por essas empresas, apesar de denunciadas, sequer têm tido o devido andamento no foro local”, disse a associação em representação enviada ao MPF.
O Ministério Público à Polícia Federal uma investigação e cobrou providências do Governo do Estado do Pará.
Outro lado
Em nota, a BBF afirmou que “o Polo de Tomé-Açu, propriedade privada da empresa, composto pela Agrovila, Administração Geral e Áreas de Infraestrutura, foi invadido mais uma vez, na manhã desta segunda-feira, quando teve equipamentos incendiados e edificações destruídas por invasores indígenas”.
A empresa alega que “na ação, cerca de 30 invasores armados ameaçaram e agrediram trabalhadores da empresa, antes de incendiar dezenas de tratores, maquinários agrícolas e edificações da companhia”. “A equipe de segurança privada da companhia conseguiu conter a ação criminosa dos invasores e resguardar a vida dos trabalhadores que estavam no local”, afirma o comunicado.
“O Grupo BBF reforça que tomou as medidas jurídicas cabíveis junto ao poder judiciário e solicitou o apoio aos órgãos de segurança pública do Estado do Pará. Dessa forma, aguarda uma rápida solução do caso”, disseram.
A reportagem também solicitou posicionamento sobre o ataque ao Governo do Estado do Pará. Se houver resposta, o texto será atualizado.
Edição: Geisa Marques
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