Uma das medidas adotadas pelos povos indígenas de Roraima para combater a pandemia do novo coronavírus (COVD-19), que já provocou milhares de mortes no mundo, foi o isolamento das comunidades através das instalações de barreiras sanitárias ou postos de vigilância no acesso às terras indígenas. Esse controle é feito pelos Grupo de Proteção e Vigilância Territorial Indígena (GPVITI) que permanecem 24 horas fazendo esse trabalho de monitoramento.
O objetivo das barreiras sanitárias é evitar a entrada de pessoas nas comunidades indígenas, vindas das sedes de municípios e da capital Boa Vista, e assim evitar a propagação do vírus. A fiscalização mantem o controle dos moradores das comunidades e permite apenas saídas para realizar trabalhos essenciais como compras de alimentação, atendimento de saúde, apoio de órgãos de segurança pública, entrega de alimentação por entidades ou órgãos.
No total, 29 barreiras sanitárias foram instaladas nas entradas das comunidades que dão acesso as 31 terras indígenas de Roraima, para proteção de aproximadamente 49 mil indígenas.
Sem o apoio do Estado e na força da coletividade homens, mulheres, jovens e adultos que integram o GPVITI, com apoio dos Tuxauas, saíram de suas casas, deixaram suas atividades individuais, para ficarem na linha de frente na luta contra a doença e assim proteger os seus filhos, os seus avós, avôs e outras pessoas da comunidade consideradas vulneráveis.
Sebastião Santos, da comunidade Lage, Terra Indígena Taba Lascada, afirma que é importante manter esse trabalho na região por conta da proximidade com a capital Boa Vista e também da sede do município de Cantá.
“Nossa comunidade é pequena, temos muitos senhores idosos para cuidarmos. Então todos os moradores se comoveram com a situação e se prontificaram para ajudar e também a se prevenir do Coronavírus que está afetando nosso Brasil e também pode afetar nossas comunidades”, Disse.
As mulheres também se destacam e partem para a linha de frente na luta contra a Covid-19. Esse é o caso da indígena Luíza, que faz parte GPVITI na comunidade Araçá, e disse que a luta é em prol do seu povo.
“Se não for por nós quem será por nós? Estamos aqui protegendo a vida de cada pessoa da nossa comunidade no combate a coronavírus, não queremos perder ninguém da nossa comunidade nem da nossa família. Eu deixei os meus filhos para traz, estou aqui por elas, vamos ficar aqui até o final”, declarou.
Lenir Grigorio Macuxi, que atua como agente de vigilância e está trabalhando na barreira de contenção da comunidade Jibóia, disse que sua batalha, é em prol da saúde coletiva. “Estamos aqui para proteger as nossas comunidades e enfrentar essa doença. Firmes e fortes continuaremos na luta”, disse Lenir, emocionada.
Conforme um documento enviado para o Conselho Indígena de Roraima (CIR), as lideranças da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, relatam que mantêm barreiras na comunidade Barro, comunidade Tabatinga e na região Raposa, pois entendem que é o único meio de proteger as comunidades, por falta da estrutura na saúde do estado que é insuficiente para atender as demandas.
“Essa iniciativa surgiu através das preocupações das comunidades e lideranças dessa região para nos resguardarmos, porque até o momento o DSEI/LESTE e o próprio município não estão preparados, não têm condições de atender, caso tenhamos indígenas infectados dentro das nossas comunidades”, explicou a carta dos Tuxauas da Região Serras.
Para o líder indígena e coordenador da região de Surumu, Anselmo Dionisio, “a barreira de orientação é uma forma dar segurança a nossa comunidade. Estamos preocupados com essa doença, alertamos aos grupos de risco e também aos que não fazem parte, para que não saiam da sua comunidade em grandes quantidades”, afirmou.
As fronteiras também estão sendo monitoradas pelos agentes de vigilância (GPVITI). Os líderes indígenas da fronteira entre Brasil e Guiana se reuniram no dia 10 de abril às margens do Rio Tacutu para discutir e deliberar medidas na prevenção do Coronavírus entre as comunidades fronteiriças.
“Os parentes das comunidades vizinhas do lado Guianense fizeram essa parceria conosco para proteger seus territórios, um diálogo que temos há muito tempo. Do lado da Guiana foram derrubadas várias árvores pelos próprios agentes, no intuito de impedir a passagem de motos, carros e bicicletas”, destacou Joacy Wapichana.
Os agentes de vigilâncias relataram suas preocupações por falta de uma assistência por parte do Estado. Como se não bastasse, há também as constantes tentativas de criminalizar essa atividade dos grupos. É o caso das barreiras de Tabatinga, Moskow, Novo ParaÍso, Morcego, os mesmos registraram as ameaças que receberam de pessoas contrárias ao trabalho de prevenção. E por mais árduo que seja o trabalho diário de vigilância, eles reafirmaram: “Não vamos recuar para evitar que tragédias maiores se repitam”.
Os agentes de Vigilância estão atuando em 29 Barreiras sanitárias indígenas nas seguintes regiões e comunidades:
Região Serra da Lua são: Jabuti, Novo Paraíso, Pium, Cachoerinha do Sapo, Alta Arraia, São Domingos, Moskow, Jacamim, Canaunim, Campinho, Tabalascada e Lage
Região de Murupu são: Truaru da Cabeceira, Morcego e Serra da Moça
Região de Alto Cauamé são: Sucuba e Raimundão I .
Região Tabaio são: Barata, Livramento e Pium.
Região Raposa: Tucumã.
Região Surumu: Comunidade Barro.
Região Serras: Tabatinga, Caraparu, Socó e Pedra Branca.
Região Amajarí: Araçá, Vida Nova e São Francisco.
Colaboração: Naílson Almeida
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