Lideranças indígenas da região Surumu realizaram Assembleia Regional, no Centro Regional 15 de Abril, na comunidade indígena Canta Galo, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, de 14 a 16 de julho de 2025. Com o tema “Unir para Fortalecer a Nossa Luta”, o encontro teve como objetivo debater a atual situação das comunidades diante dos desafios territoriais, sociais e políticos enfrentados pelos povos que ali residem.
O evento reuniu tuxauas, jovens, crianças, mulheres e lideranças tradicionais de diversas comunidades da região. Entre as principais pautas abordadas estavam a invasão de territórios indígenas, o fortalecimento da política do malocão e a construção de um planejamento regional para os próximos meses.
O coordenador da regional Surumu, Jesus Nazareno Silva Alves, do povo Macuxi, ressaltou a importância do momento para fortalecer a organização comunitária e alinhar estratégias frente aos desafios enfrentados pelas comunidades.
“Assembleia regional tratou de vários assuntos de interesse das nossas comunidades, principalmente as invasões que ocorrem aqui no nosso território, e demais planos que a região possa traçar para o melhoramento da nossa organização. Hoje discutimos um tema muito importante: a invasão de território, PECs e PLs que estão sendo aprovados. Prestamos muita atenção em tudo, nos desafios que vêm pela frente, de como está hoje a situação dentro dos nossos territórios, invasões e as consequências que virão. Então, o departamento jurídico passou suas informações, e isso foi muito bom para o fortalecimento regional da região Surumu e demais comunidades”, destacou a liderança.

Durante o encontro, lideranças denunciaram ameaças e pressões externas sobre as terras indígenas, como a presença de não indígenas em áreas demarcadas, abertura de caminhos e exploração indevida de recursos naturais, incluindo o garimpo ilegal.
E nesta quarta-feira (16), durante a reunião com lideranças indígenas, o Tuxaua Geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Amarildo Macuxi, repassou importantes informações sobre a organização, a conjuntura política e territorial que afeta diretamente os povos indígenas. Destacou a união e o fortalecimento das ações comunitárias frente aos desafios atuais. Questões como o marco temporal, a mesa de conciliação, o arrendamento de terras e a contínua invasão dos territórios indígenas também foram abordadas. Ele reforçou que os políticos não apresentam propostas favoráveis às comunidades e que é necessário refletir profundamente sobre quem se permite entrar nas comunidades.
“Estamos lutando até pelas pessoas que estão contra a gente. Esta reunião mostra que estamos atentos e unidos. Nosso território foi conquistado com muita luta, e é nosso dever proteger. A política do malocão é a base da nossa força, e precisamos seguir firmes, organizados e prontos para reagir a qualquer ameaça”, afirmou.

O assessor jurídico e coordenador do Departamento Jurídico do CIR, Júnior Nicacio, alertou sobre o aumento das violações de direitos nos últimos meses. Ele tratou do caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, destacando a entrega do Protocolo de Consulta aos tuxauas, um instrumento legal fundamental para garantir que qualquer projeto ou intervenção em território indígena seja precedido de consulta livre, prévia e informada.
Nicacio também explicou o encerramento da mesa de conciliação e informou que a proposta será convertida em lei complementar, o que pode representar riscos ainda maiores caso resulte em uma legislação mais prejudicial.
“O Protocolo de Consulta é um regimento, um documento de defesa dos direitos. A Lei da Terra Indígena Raposa Serra do Sol é lei, e as lideranças precisam conhecer esse protocolo para se proteger”, enfatizou.
Além disso, foi feito um alerta sobre o avanço de projetos de lei e propostas de emenda constitucional (PECs) no Congresso Nacional que ameaçam os direitos dos povos indígenas. Diante das articulações políticas para as eleições, cada região deverá fazer uma avaliação e indicar seus representantes para o próximo ano, considerando que a eleição de representantes indígenas é fundamental para barrar retrocessos.

Outro ponto de destaque foi a importância do Fundo Indígena RUTÎ, ferramenta essencial para o fortalecimento de projetos comunitários. A iniciativa representa autonomia e desenvolvimento sustentável dentro dos próprios territórios.
O articulador de projetos do Fundo Indígena RUTÎ, Enock Taurepang, liderança envolvida na criação do fundo, explicou que, desde 2023, o grupo trabalha na sua consolidação e precisava de um nome para apresentar aos parceiros. Ele destacou o Centro Willimon, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, como exemplo de produção comunitária, reforçando a importância de valorizar o que já existe nas comunidades indígenas. Também informou sobre o edital lançado recentemente, que permitiu o envio de projetos por parte das comunidades.
“Várias propostas foram recebidas, e o fundo passa agora para a fase de seleção e implementação.”
Além das denúncias sobre invasões, também foram debatidas estratégias de autodefesa territorial, fortalecimento cultural e mobilizações futuras. As lideranças reafirmaram o compromisso com a autonomia e o protagonismo dos povos indígenas na gestão e proteção de seus territórios.
A assembleia encerrou nesta quarta-feira (16) com os encaminhamentos das lideranças, reafirmando o compromisso das comunidades da região Surumu com a defesa da Raposa Serra do Sol, símbolo histórico da resistência e da autonomia dos povos indígenas de Roraima.
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