Iniciado em janeiro de 2022, o projeto “Rede de Saúde Timbira no enfrentamento da Covid-19” tem como principal objetivo o fortalecimento da rede ampliada de atenção à saúde dos povos indígenas da Amazônia Oriental, em especial dos povos Gavião Pyhcop Catiji e Krahô, nos estados do Maranhão e Tocantins.

O projeto foi estruturado em três eixos, sendo o primeiro deles o fortalecimento do atendimento primário à saúde nas aldeias, com a doação de equipamentos relacionados à Rede Frio para a conservação de vacinas, testes diagnósticos para identificação da Covid-19 e monitores de controle de sinais vitais. Os equipamentos foram entregues aos polos base de atendimento a saúde indígena nos territórios de abrangência do projeto através de parceria firmada junto ao DSEI Maranhão e ao DSEI Tocantins.Foto: Acervo Polo Base de Amarante do Maranhão/DSEI Maranhão/SESAIFoto: Acervo Polo Base de Amarante do Maranhão/DSEI Maranhão/SESAI

No segundo eixo, foram realizados processos formativos envolvendo os cuidadores tradicionais, buscando mitigar os efeitos da Covid-19 nas comunidades, por meio de visitas de campo realizadas com o apoio dos próprios indígenas.

“Eu fiz o acompanhamento do médico, andando nas aldeias, fazendo a tradução, porque os mais velhos não entendem muito bem a língua portuguesa. A gente percorreu as aldeias explicando como era a Covid-19, e também outras doenças, como a diabetes e a hipertensão. Depois veio o psicólogo, e nós fizemos o mesmo trajeto novamente, falando sobre o consumo de álcool que estava muito avançado nas aldeias”, explica a historiadora e liderança indígena, Letícia Jôkàhkwyj Krahô.

Lucas Albertoni, médico indigenista que atuou no projeto, explica que além da Covid-19, foi observada também a necessidade de abordar questões relativas a outras doenças que afetam os indígenas. “No decorrer do projeto, também trabalhamos questões sobre hipertensão, diabetes e alcoolismo, doenças que foram extensamente diagnosticadas nas aldeias durante o trabalho de campo, e que sempre foi demandado pelos indígenas que isso fosse melhor discutido, melhor explicado para eles”, conta.

Já no terceiro eixo, foram elaborados materiais informativos com uma linguagem simples, de fácil compreensão, que dialogam diretamente com a realidade do cotidiano indígena, para que os povos pudessem aprender mais sobre a Covid, sobre a evolução dos quadros epidemiológicos e, principalmente, sobre as dúvidas que foram geradas após a introdução da vacina.

Confira o vídeo com o resumo das ações do projeto:

https://youtube.com/watch?v=vIc0grCbZ5g%3Ffeature%3Doembed

Após um ano de ações realizadas nas aldeias, o projeto Rede de Saúde Timbira obteve avanços expressivos, com destaque para contribuição no aumento na cobertura vacinal através da parceria com os polos base de atendimento a saúde indígena nos territórios da área de abrangência do projeto. Em julho de 2022, apenas 543 indígenas haviam tomado a segunda dose da vacina contra a Covid-19 na TI Governador. Em fevereiro de 2023, este número subiu para 746 indígenas vacinados, representando um aumento de 15% no total. No mesmo período, o total de indígenas vacinados com a quarta dose saiu de 0 para 167.

No Polo Base de Goiatins, na Terra Indígena Karolândia, cuja população total compreende 671 indígenas, a cobertura vacinal também avançou após a chegada do projeto. Em julho de 2022, apenas 598 indígenas haviam tomado a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Este número aumentou para 640 indígenas vacinados em janeiro de 2023. Em relação à quarta dose da vacina, o número de vacinados saltou de 21 para 109, no mesmo período. Os dados são dos levantamentos feitos pela Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI).

Para Letícia Krahô, o projeto trouxe melhorias significativas para a saúde indígena. “A nossa saúde é muito precária. Com a ajuda desse projeto, nós recebemos equipamentos que a SESAI [Secretaria Especial de Saúde Indígena] não dava para os nossos agentes de saúde e nem para os técnicos de enfermagem. Então melhorou um pouco, pois esse apoio veio em uma hora de muito importante. Nós abraçamos esse projeto e queremos que ele tenha continuidade”, ressalta.

Presidente da Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins, Jonas Polino Sansão destaca a contribuição do projeto para o fortalecimento da rede de saúde comunitária nas aldeias. “A saúde indigena é complexa e, atualmente, ela é atendida de forma básica. Na de alta complexidade, a gente tem problemas. É uma situação complicada e a gente tem dificuldade de ter um atendimento melhor. E com esse projeto, a gente tem apoiado as nossas equipes [de agentes indígenas de saúde] para ver se melhora a saúde do nosso povo“, comenta.

Diálogos em Saúde Timbira
Como forma de encerramento do projeto, foi realizado, entre os dias 10 e 15 de janeiro de 2023, no Centro Timbira de Ensino e Pesquisa Pënxwyj Hëmpejxà, em Carolina (MA), o evento “Diálogos em Saúde Timbira – Mê ihcakôc mê pà caric xà/Me paacyjxuu ny ajpenmypa’cacuc cy”, que recebeu os povos Gavião Pyhcop Catiji e Krahô, as equipes de trabalho do projeto, representantes das instituições e associações parceiras, Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e profissionais das Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) das terras indígenas Governador e Kraolândia.

Durante o encontro foram debatidas estratégias comunitárias de saúde em relação a Covid-19 e, dentro do contexto pandêmico, foram debatidos também os altos índices de hipertensão e diabetes observados nas comunidades, bem como o agravamento do processo de alcoolização dentro dos territórios indígenas. Além de reforçar as atividades realizadas no decorrer do projeto, o encontro promoveu uma série de atividades, como palestras, oficinas e formação de grupos temáticos de discussões, buscando o esclarecimento, junto aos povos, das questões que afetam a saúde indígena

“Esse encontro de encerramento passou por todas as áreas que a gente desenvolveu no projeto sobre a Covid-19 e outras doenças infecciosas. Nós fizemos uma oficina de atualização sobre a Covid, trazendo o panorama epidemiológico do momento e a atualização dos grupos a serem vacinados. E essas atualizações foram extremamente importantes para desmistificar tantas notícias falsas que circularam nas aldeias e chamar atenção dos povos sobre a necessidade do uso e da aceitação da vacina”, explica o médico indigenista Lucas Albertoni.

O projeto “Rede de Saúde Timbira no enfrentamento da Covid-19” foi financiado por meio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID); a Iniciativa de Novos Parceiros, Ampliando Parcerias em Saúde (NPI EXPAND) e a SITAWI (Finanças do Bem), que formaram uma parceria para apoiar a Resposta à COVID-19 na Região Amazônica brasileira. A “NPI EXPAND Brasil: Resposta à COVID-19 na Região Amazônica Brasileira (fase 2)” é uma iniciativa que engaja organizações da sociedade civil (OSCs) em parcerias estratégicas para alavancar soluções inovadoras e escaláveis para fortalecer a resposta rápida a emergências e ao combate a Covid-19.

A execução foi feita por meio de parceria entre a Associação Wyty Catë dos Povos Timbira do Maranhão e Tocantins (WYTY CATË), a Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), a Associação das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA) e o Centro de Trabalho Indigenista (CTI).

Fonte: https://trabalhoindigenista.org.br/rede-saude-timbira/

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