Nos últimos anos os povos Timbira vem observando um crescimento vertiginoso de casos de diabetes, hipertensão e intenso processo de alcoolização. Este cenário ficou ainda mais complexo com a chegada da pandemia de COVID-19, que associada às questões territoriais, como as invasões, a insegurança hídrica e alimentar, intensificam processos de adoecimento dos indígenas e dos territórios.
Este ano, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Iniciativa de Novos Parceiros, Ampliando Parcerias em Saúde (NPI EXPAND) e SITAWI (Finanças do Bem) formaram uma parceria para apoiar a Resposta à COVID-19 na Região Amazônica Brasileira. A Resposta à COVID-19 na Amazônia Brasileira fase 2, é uma iniciativa que envolve organizações da sociedade civil em parcerias estratégicas para alavancar soluções inovadoras e escaláveis para reforçar a resposta rápida à COVID-19
Diante deste contexto, organizações indígenas dos povos Timbira têm buscado parceiros para contribuir junto aos órgãos oficiais para melhoria da qualidade de vida nas aldeias por meio da promoção da saúde dos povos Timbira. Em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Iniciativa de Novos Parceiros, Ampliando Parcerias em Saúde (NPI EXPAND) e SITAWI (Finanças do Bem), as organizações indígenas (Associação Wyty Cate, COAPIMA e AMIMA) e o Centro de Trabalho Indigenista estão desenvolvendo o projeto “Rede de saúde Timbira no enfrentamento à covid 19”, que tem como foco a mitigação dos efeitos da pandemia na saúde, principalmente com o fortalecimento do atendimento primário à saúde nas aldeias e a intensificação de processos formativos em saúde.
Entre o final de agosto e início de setembro ocorreu a primeira atividade de diálogos em saúde promovida pelo projeto na Terra Indígena (TI) Governador e na TI Kraolândia, com oficinas e diálogos orientadores com foco familiar e comunitário. A atividade foi construída em diálogo com as lideranças, que apontaram as principais questões a serem abordadas, entre elas, o impacto das doenças crônicas nas comunidades indígenas, pois em caso de infecção pelo coronavírus, os pacientes com hipertensão e diabetes têm maior risco de ter infecção grave.
“Até o momento a gente nunca chegou a entender as doenças e como é causada a diabetes, hipertensão. Nós pegamos informações agora. Já dá pra entender como é pra cuidar da saúde, qualidade de alimento, como usar sal, óleo e isso é muito importante” comentou Iramar Intep Krahô.
“É importante cuidar da roça para ter mais frutas, ter mais alimentos, como mandioca, milho, batata, tudo produção de roça. Já dá pra servir para maneirar a doença que é muito pesada. Antes os velhos não tinham esse tipo de doença, hoje tem muitos com diabetes. Naqueles tempos não, só comia alimentos de roça e não tinha essa doença. Seria interessante continuar dando mais informações para os mais novos, dizer o que é aquilo. Eu aprendi e vou ensinar na sala de aula para os alunos e alunas”, continuou sobre sua percepção sobre a atividade.
A conselheira local de saúde, Maíra Xipcwyj Gavião, também participou dos diálogos e demonstrou preocupação em relação ao retorno de novas ondas de contaminação por coronavírus.
“Essa COVID-19, como uma doença nova, desconhecida, nos deu muita preocupação, porque ninguém sabia como tratar, nem cupeh [não indígena] sabia como tratar. E quando chegou a vacina muita gente tava com medo, porque tinha muita informação falsa rodando e essas fake news chegavam nas aldeias e dava resistência no povo. Ainda hoje tem gente com medo de continuar tomando as doses. Mas com essas informações da oficina podemos ajudar com informações corretas para continuar a vacinação e afastar a COVID-19 dos territórios, porque como é desconhecida e muito cupeh morreu, pode ser que ela volte pra atacar a gente com sintomas mais fortes. Então tem que continuar cuidando pra não voltar a pandemia como foi nos dois anos passados, que foram de terror”, comentou Maíra Xipcwyj Gavião.
A próxima etapa do projeto prevê uma continuação dos diálogos em saúde com foco na mitigação dos impactos da pandemia, em relação às sequelas da COVID-19, desconfiança em relação a vacinação, informações sobre novas cepas do vírus e ondas de contaminação, além dos cuidados de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, e a mitigação de problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e outras drogas através de educação psicossocial.
Fonte: https://trabalhoindigenista.org.br/dialogos-saude-aldeias-timbiras/
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