De Olho nos Ruralistas estreia nesta terça um conjunto de reportagens chamado Esplanada da Morte; ela esmiuçará os ataques de ministérios, secretarias e autarquias aos direitos dos povos do campo e a omissão de cada político no avanço da Covid-19 no Brasil
Por Alceu Luís Castilho
No dia 03 de junho, De Olho nos Ruralistas decidiu dar à sua cobertura jornalística sobre a pandemia o nome de De Olho no Genocídio. Menos de dois meses depois, a opção editorial por uma cobrança contundente do governo — no momento em que o número de mortes oficiais no Brasil se aproxima de 100 mil — ganha uma série específica de reportagens, chamada Esplanada da Morte.
A estreia é com o ministro da Economia, Paulo Guedes: “Esplanada da Morte (I): o papel de Paulo Guedes na implosão de direitos e na explosão da pandemia no Brasil“.
Qual o papel dele no ataque aos povos do campo? Que relação tem a política de matriz liberal com os discursos de ódio promovidos por Jair Bolsonaro e ministros como Ricardo Salles e Damares Alves? Os gabinetes verde-oliva diferem substancialmente do gabinete de Guedes, em meio à sua roupagem supostamente tecnocrata?
O objetivo da série de reportagens é retratar o papel de cada ministério na necropolítica comandada por Bolsonaro. Outras unidades do governo, como a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), esta última do Ministério da Saúde, ganharão um retrato à parte, diante de seu impacto nos povos do campo, um tema central do observatório.
A série não se propõe, com a referência à Esplanada dos Ministérios, a questionar o trabalho dos servidores, que muitas vezes tentam manter conquistas históricas, como aquelas da Constituição de 1988. Mas sim a questionar a política posta em prática pelos ministros, secretários e demais chefes, alinhados à violência verbal do presidente e à tentativa de implosão de direitos humanos, sociais e ambientais.
OBSERVATÓRIO DEFENDE USO DA PALAVRA GENOCÍDIO
De Olho nos Ruralistas fala em genocídio muito antes de o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), chamar a atenção da imprensa para o termo. No domingo, mais de 50 organizações brasileiras e estrangeiras protocolaram no Tribunal Penal Internacional, em Haia, mais uma denúncia contra Bolsonaro por genocídio e crimes contra a humanidade.
A posição do observatório é crítica ao modo acanhado que a imprensa brasileira adota em relação ao massacre em curso. Diante de uma matança histórica e desnecessária (basta comparar com o que aconteceu em países vizinhos, como Argentina e Paraguai), cabe aos jornalistas — aqueles cientes de sua responsabilidade histórica — chamarem as coisas pelos nomes devidos.
O cineasta Jean-Luc Godard cunhou uma frase lapidar sobre a suposta imparcialidade de certas coberturas televisivas: “Cinco minutos para Hitler, cinco minutos para os judeus”.
Isso não significa que a série Esplanada dos Ministérios se constitua em um amontoado de artigos: ela é feita de notícias, reportagens, dados, fatos. Construídos pelo governo Bolsonaro desde o dia 1º de janeiro de 2019, em alguns casos; em outros, desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a definir a crise sanitária como uma pandemia.
No sábado, por exemplo, ao analisarmos material divulgado pelo ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, publicamos a seguinte notícia: “Governo federal distribuiu 100 mil unidades de cloroquina para indígenas“.
O observatório defende que não somente Bolsonaro responda por crimes contra a humanidade.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas |
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