Indígenas e profissionais da saúde protestam em frente à Prefeitura de São Paulo – Heloana Marinho

Os gritos dos vulneráveis não chegam aos palácios desde que inventaram o Brasil

GERSON SALVADOR

São Paulo também é terra indígena, isso não é novidade desde que os missionários jesuítas chegaram a Piratininga. Muita gente desconhece, entretanto, que a metrópole contemporânea é a quarta cidade com maior população indígena do país.

Uma das comunidades indígenas que aqui vivem é formada pelos Pankararu, originários do Vale do Rio São Francisco, que migraram para trabalharem como operários, entre outras obras, seus corpos colaboraram com a construção do estádio do Morumbi e do Palácio dos Bandeirantes (!). Como muitos outros migrantes sertanejos, muitos desses trabalhadores se estabeleceram na cidade, entre a favela do Real Parque e o Jardim Panorama, onde vivem há três gerações.

A essa altura, algumas pessoas devem se perguntar porque essa história sobre uma comunidade indígena urbana está em uma coluna de histórias de médico. Chegaremos lá.

Flashback. Quando eu cursava o primeiro ano na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, ao final de uma aula um vetereno adentrou a sala e pediu a palavra. Marco nos convidou para participarmos da liga de pediatria comunitária que prestava atendimento para crianças de uma comunidade pobre na periferia da cidade.

Marcão se especializou em medicina de família e comunidade, e atuou nas últimas duas décadas nas periferias da Zona Oeste de São Paulo. O médico vem se engajando cada vez mais na atenção à saúde indígena, há cinco anos trabalhando na mesma Unidade Básica de Saúde do Real Parque, onde foi responsável pela equipe que cuida dos Pankararu.

Num rompante ainda não totalmente esclarecido, esse profissional, o único que reuniu a qualificação e a disposição para estar nesse lugar, foi demitido. A comunidade não aceitou a demissão: tem se levantado e feito protestos exigindo o retorno de seu médico, apoiada por outros médicos, profissionais de saúde da região e estudantes da USP.

Mesmo com as manifestações, inclusive nos portões da Prefeitura Municipal, até o momento os indígenas seguem seu o seu médico.

Os gritos dos vulneráveis não chegam aos palácios, nem repercutem nos espaços de poder. No caso dos indígenas nessa Piratininga, ou no restante de Pindorama, desde que invadiram seus territórios e inventaram o Brasil.

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