Agricultores familiares distribuem alimentos em ‘banquetaço’ da Cúpula dos Povos na praça da República, em Belém (PA) – Danilo Verpa/Folhapress
- Cacique Raoni discursou sobre calor em Belém como efeito das mudanças climáticas
- Documento entregue a André Corrêa do Lago pede fim da exploração dos combustíveis fósseis
Belém (PA)
Na manhã deste domingo (16), o cacique Raoni Metuktire foi até a UFPA (Universidade Federal do Pará) para o encerramento da Cúpula dos Povos, em uma audiência pública com o presidente da COP30, André Corrêa do Lago.
O líder indígena fez um discurso ressaltando o clima quente em Belém —que teve máxima de 32ºC— e os efeitos da mudança climática que impactam o dia a dia das pessoas.
“Mais uma vez, peço a todos que possamos dar continuidade nessa missão de defender a vida da terra”, afirmou. Para isso, disse, é necessário ampliar o diálogo com autoridades e chefes de Estado.
O evento tinha como objetivo entregar uma carta com demandas da sociedade civil reunida na Cúpula dos Povos ao presidente da COP30. O documento tratava de itens sensíveis da negociação da conferência da ONU sobre clima, como o fim da exploração de combustíveis fósseis, o Fundo de Perdas e Danos, criado para apoiar países vulneráveis a eventos extremos, e discussões de gênero.
A carta critica ainda que a distribuição dos recursos do clima atualmente passe quase que obrigatoriamente por entidades financeiras como FMI e Banco Mundial.
“É uma forma de dizer que nem tudo que está sendo negociado lá no espaço oficial serve para nós que estamos no nosso território construindo o que realmente acreditamos serem as soluções para a crise climática”, diz Ayala Ferreira, integrante da Comissão Política da Cúpula dos Povos e membro da direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Corrêa do Lago afirmou que registraria o conteúdo da carta, junto à declaração das crianças que participaram da Cúpula das Infâncias, na abertura das reuniões de alto nível na segunda-feira (17).
Segundo a organização, a construção do documento foi feita a partir do que foi compartilhado nos cinco dias de Cúpula dos Povos por cerca de 15 mil pessoas de movimentos sociais e comunidades tradicionais do Brasil e de outros 62 países.
No evento, diferentes grupos faziam seus próprios protestos. “Acho que a verdadeira COP está aqui, não lá [no espaço oficial]. A COP tem que ser isso, o movimento social falando”, diz Nayara Porto, 33, ativista da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão. Nayara perdeu o marido no desastre que ocorreu em Brumadinho (MG) em 2019 e carregava uma faixa com a frase “Não existe futuro verde sobre sangue e lama”.
Para encerrar a conferência da sociedade civil, os participantes do evento cozinharam refeições que foram disponibilizadas na Praça da República, em Belém, formando o que chamaram de “banquetaço”. A ideia, segundo a organização, era valorizar a alimentação produzida pela agricultura familiar, que é prejudicada pela crise climática.
Entre os alimentos, consumidos por centenas de pessoas, estavam mamão com camarão, bolo de macaxeira, biscoitos de coco, tacacá, vatapá com camarão, pirarucu no tucupi e na folha de bananeira, salada de feijão manteiguinha e bolo de maracujá.
“Intenção é tratar desse que ainda é um problema e parte da crise ambiental em que nós estamos inseridos, o problema da fome no Brasil”, diz Ayala. “É um ato político de que não existe justiça ambiental se não pensarmos em justiças sociais”.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/11/cupula-dos-povos-encerra-atividades-com-banquetaco-e-entrega-de-carta-a-presidente-da-cop30.shtml
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