‘O Cerco’ é um documento audiovisual da realidade nas quatro terras indígenas mais invadidas por garimpeiros
Manaus
O cerco do garimpo de ouro a aldeias na Amazônia, nas terras indígenas que estão entre as mais populosas do país, é uma realidade em que cenários pouco se alteram, dada a dificuldade de enfrentamento a redes criminosas que operam essa estrutura de exploração ilegal do minério.
De junho de 2023 a janeiro de 2024, a reportagem da Folha esteve nas quatro terras indígenas mais invadidas pelo garimpo ilegal no Brasil. Os invasores cercaram aldeias e transformaram radicalmente a vida dessas comunidades, impondo perdas de roças, comida, saúde e dignidade. O tempo passou, e o domínio continua.
O jornal publica agora um documentário sobre essa realidade. A reportagem é de Vinicius Sassine, correspondente do jornal na Amazônia, e Lalo de Almeida, repórter fotográfico.
“O Cerco” é um registro da invasão garimpeira até o quintal de comunidades das Terras Indígenas Kayapó e Mundurucu, no Pará; Sararé, em Mato Grosso; e Yanomami, em Roraima. O documentário é conduzido pelos depoimentos de caciques e líderes nesse território.
“Vocês falam que é crime. A lei é fraca, não funciona”, afirma Davi Kopenawa, liderança yanomami, no documentário. “Queria que autoridade tomasse providências urgentes. Não é amanhã, é urgente. Destruir é fácil, mas consertar é difícil”, resume.
Os yanomamis vivem uma crise humanitária em razão da invasão de milhares de garimpeiros, com explosão de casos de malária e mortes por desnutrição grave e diarreia. Desde janeiro de 2023, há uma operação de emergência em saúde pública no território, por parte do governo federal. E desde fevereiro do ano passado, uma ação de expulsão de invasores.
O garimpo já refluiu e já voltou diversas vezes. O crime avança quando os militares se ausentam. Agentes do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) conduzem as principais ações de repressão.
O governo Lula (PT) diz que bases foram instaladas para o combate ao garimpo, com redução da área explorada de 4.570 hectares para 1.465 hectares. Não houve abertura de novas áreas em setembro e outubro de 2024, afirma o governo.
O documentário registra ainda a posse de um cacique que se diz contra o garimpo em sua aldeia na Terra Indígena Kayapó, a mais invadida por garimpeiros no país. Em dois anos de governo Lula, não houve uma operação coordenada para expulsão dos invasores.
Os outros dois territórios mostrados no documentário são a Terra Indígena Mundurucu, onde passaram a ser frequentes casos de crianças com doenças neurológicas, possivelmente associados a intoxicações por mercúrio, e a Terra Indígena Sararé, descrita por investigadores como “a nova Serra Pelada”, tamanha a movimentação de ouro e capacidade de recomposição de maquinários.
O governo prepara para esta semana o início de uma operação de expulsão de invasores na terra Mundurucu, onde vivem mais de 9.000 indígenas. Uma reunião geral de coordenação entre diferentes órgãos está marcada para esta quinta-feira (7), em Itaituba (PA).
Não há previsão de ações do tipo para a terra Sararé, lar de 250 nambikwaras, cercados por 2.000 garimpeiros, segundo estimativa de agentes da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).
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