Olhares que se voltam para a Amazônia devem partir de narrativas que subvertem o imaginário colonizador

Karina Penha

É amazônida de São José do Ribamar, no Maranhã. Bióloga, socioambientalista, gestora de mobilização da Amazônia de Pé e diretora do PerifaConnection.Kaianaku Kamaiurá

É amazônida da Aldeia Kaluani, território indígena Xingu, no Mato Grosso. Mestre em direitos humanos, é vice-conselheira da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e vice-coordenadora da Associação de Mulheres Indígenas de Mato Grosso – Takina.Tay Silva

É amazônida, cria de Icoaraci, no Pará. Educomunicadora popular da Amazônia, é formada em história e ativista por justiça climática e racial.

Provavelmente não te contaram na escola, mas em 5 de setembro comemoramos o Dia da Amazônia. É importante que o Brasil se dedique a aprender sobre essa região —afinal, grande parte do país é formada pela floresta amazônica.

Ela é apresentada às pessoas em diferentes contextos, geralmente nos primeiros anos da escola, em que os aprendizados começam a se formar. Essas informações, no entanto, podem limitar a compreensão sobre a imensidão e a diversidade do território amazônico.

Expedição para encontrar a maior árvore já localizada na Amazônia
Expedição para encontrar a maior árvore já localizada na Amazônia – João Ramos de Matos Filho

Por isso, o Dia da Amazônia é uma chance de chamar à reflexão quem sempre enxergou esse território como apenas um enorme tapete verde ou um espaço a ser explorado e desenvolvido.

Segundo Zek Picoteiro, DJ de música paraense, produtor cultural e curador do Festival Amazônia de Pé 2023, a marca “Amazônia” vai reposicionar o Brasil na geopolítica global, e a construção dessa marca será a resultante de uma disputa que já começa desigual.

Afinal, quem está na mesa hoje, conceituando o que é Amazônia?

Para aprender a enxergá-la de forma real, devemos decolozinar o nosso olhar, ouvindo as pessoas e valorizando as várias Amazônias que existem. Só assim ecoaremos para o mundo o que de fato a Amazônia é, a partir da visão e da compreensão de quem vive o território em sua totalidade.

Isso é especialmente importante pois muitos de nós passam a vida toda aprendendo a partir de uma percepção externa, racista e colonizadora sobre o nosso lugar de origem.

Os olhares que hoje se voltam para a Amazônia devem pensar a partir das narrativas que subvertem o imaginário colonizador sobre o que seria o “viver amazônico”.

Isso acontece com a construção horizontal e a escuta ativa dos saberes de quem sempre esteve aqui, e herda tecnologias ancestrais de existência em harmonia com a vida, a cultura e o bem viver.

Esse território que pulsa coletividade a partir de manifestações diversas da cultura e da comunicação coletiva deve tomar o protagonismo quando o pensamento se volta para a justiça climática e social. Não há futuro sem a Amazônia.

Quando se fala em floresta amazônica, automaticamente iniciamos uma discussão sobre mudanças climáticas. E como falar sobre clima sem considerar quem sofre seus efeitos? Povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e periféricos estão não só na lista dos mais afetados, como na linha de frente da proteção dos territórios.

Negar a participação dessas populações é negar o direito primordial desses povos, responsáveis por manter viva nossa cultura, economia e sociobiodiversidade.

marco temporal, em discussão agora no Senado e no STF (Supremo Tribunal Federal), é uma forma de negação de direitos.

É uma tese inconstitucional, um etnocídio legislado. Quando se nega o direito à terra, nega-se a vida, a cultura, a casa, a história, o conhecimento e a identidade de povos que ali habitam há muito a tempo.

São mais de quinhentos anos resistindo por um direito que, mesmo estando na Constituição, até hoje não foi cumprido. Pelo contrário: é retirado e reinventado para negar e apagar a história de luta e resistência dos povos originários.

E você se pergunta: o que eu tenho a ver com isso?

A crise climática, assim como a aprovação do marco temporal, não afeta apenas os povos indígenas, afeta a todos nós. Traz risco para o nosso presente e futuro.

Então, quando falar sobre a Amazônia por aí, lembre-se que a Amazônia:

  • É a maior floresta tropical do mundo, ocupando 9 países diferentes;
  • Ocupa 60% do território nacional;
  • É uma região conectada por uma rede de mais de mil rios, que juntos compõem a Bacia Amazônica —a maior bacia hidrográfica do mundo;
  • Não é um vazio demográfico. Ela é formada por 40 milhões de brasileiros e uma imensidão de identidades amazônicas, das periferias às aldeias e quilombos;
  • Possui metrópoles modernas, com milhões de habitantes e séculos de história;

A Amazônia Legal diz respeito à área da floresta localizada no Brasil e inclui, além da floresta amazônica, a presença de outros biomas, como o cerrado e o Pantanal, em nove estados do Brasil. O que acontece nela toca em todos nós, e as consequências de sua destruição chegam para todos.

O território é mais do que só um pedaço de terra. A luta originária pela terra não se baseia em valores capitalistas e não tem propósitos econômicos. A resistência à colonização foi historicamente apagada, e a região amazônica protagoniza resistências há séculos.

No mês que se comemora o Dia da Amazônia, busque conhecer mais sobre ela, espalhe esse conhecimento e faça parte do Movimento Amazônia de Pé, mobilização nacional pela proteção do bioma amazônico e suas populações que, entre os dias 2 e 10 de setembro, realiza a Virada Amazônia de Pé 2023, com ações por todo o Brasil.

Confira a programação completa no mapa interativo ou cadastre uma ação. Somos a última geração que pode salvar a floresta amazônica.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/perifaconnection/2023/09/o-que-nao-te-ensinaram-na-escola-sobre-a-amazonia.shtml

Thank you for your upload