Gilberto Gil, Djamila Ribeiro, Iza e Katu Mirim estampam as 4 opções de capa que marcam a retomada das edições impressas da revista Elle Brasil

Três personalidades negras e uma indígena estampam as quatro opções de capa que marcam a retomada das edições impressas da revista Elle Brasil: Gilberto Gil, Djamila Ribeiro, Iza e Katu Mirim. O título é mundialmente associado ao universo da moda, da beleza e do luxo. Por isso a escolha dos personagens que ilustram as capas é bastante simbólica.

Verdade que não é de agora que Elle vem repensando o jeito de se comunicar com as leitoras. Foi assim com Raí —primeiro homem na capa da publicação, cujo perfil tive a oportunidade de escrever— e em ao menos outras duas ocasiões: as capas de Lea T e de Valentina Sampaio, primeiras transexual e mulher transgênera, respectivamente, em capa de revista feminina.

Gilberto Gil na capa da Elle Brasil
Gilberto Gil na capa da Elle Brasil – Bob Wolfenson/Divulgação

Feita essa ressalva, todo mundo sabe que por estas bandas o padrão de beleza que reina sempre foi, e ainda é, o europeu. Às demais estéticas resta, em geral e quando muito, a associação ao exótico. Recentemente ouvi uma afirmação que resume bem meu sentimento sobre as capas de Elle: “Nosso estereótipo não é de beleza, é de bandidagem”, disse o rapper Dexter, em vídeo sobre preconceito com pretos, pardos e favelados do país.

São palavras fortes, porém fundamentadas em recorrentes exemplos, como o ocorrido em Brasília, onde uma mulher teve indeferida a aprovação em cota para negros num certame por ser “bonita”. Como se beleza e negritude fossem excludentes entre si.

Além disso, a atual edição da publicação tem a valorização da arte e da cultura como mote. É inegável a contribuição artística e cultural das quatro personalidades retratadas, mas também não é novidade que a cultura afro, apesar de rica, não é contada e muito menos valorizada no Brasil. Nem sei o que dizer sobre as tradições dos povos nativos desta terra de Vera Cruz.

As capas de Elle indicam que, apesar de tudo e com atraso, dois lemas em defesa de direitos civis podem ter se encontrado: Black is beautiful e Black Lives Matter.

Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública.

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