O Beleza Indígena desafia estereótipos e promove a resistência cultural de um povo que continua a brilhar

Txai Suruí

Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé

Na metrópole de São Paulo, onde o concreto parece sufocar tradições, aconteceu nesta sexta-feira (6) o evento Beleza Indígena, um verdadeiro ato de resistência e celebração da cultura indígena. Criado na Terra Indígena Jaraguá, o evento não é apenas uma celebração estética, mas um poderoso manifesto contra a invisibilidade e o preconceito que os povos indígenas enfrentam diariamente.

Jacilede Martim, a fundadora do evento, nos explica como surgiu o Beleza Indígena: “O evento foi criado principalmente para a divulgação da cultura, devido ao racismo e preconceito que sofremos”. E também busca elevar a autoestima da comunidade: “As pessoas se viam como inferiores, como se não fossem bonitas. A beleza indígena não se encaixa nos padrões da sociedade não indígena. Por isso, o desfile é uma celebração da diversidade e da autoafirmação”, conta.

Desfile no evento Beleza Indígena, em São Paulo
Desfile no evento Beleza Indígena, em São Paulo – Divulgação

O Beleza Indígena reúne diversas atividades, que vão desde desfiles de moda com vestimentas tradicionais até apresentações de danças e palestras sobre temas relevantes, como a demarcação de terras e a medicina tradicional. “A intenção é conscientizar tanto a nossa comunidade quanto a sociedade em geral sobre a importância de preservar nossas culturas”, cita a fundadora. O evento, que começou em 2013, já se consolidou como um espaço fundamental para a troca de saberes e experiências entre os diferentes povos presentes na cidade.

A realização do Beleza Indígena vem do esforço coletivo da comunidade do Jaraguá. Jacilede menciona que “tudo é feito com a ajuda da comunidade e de voluntários. Não temos apoio financeiro do governo, e isso é um reflexo de como a cultura indígena ainda é desvalorizada”.

Desfile no evento Beleza Indígena, em São Paulo
Desfile no evento Beleza Indígena – Divulgação

Essa realidade nos revela que enquanto alguns ainda veem a cultura indígena como atrasada, ela continua a ser força vital e dinâmica, adaptando-se e resistindo dentro de um contexto urbano hostil como é São Paulo.

A beleza indígena, portanto, vai além do visual; ela é uma expressão de identidade, história e luta. “A pintura corporal, os adornos, as danças… tudo isso carrega significados profundos, que falam da nossa conexão com a Terra e com nossos ancestrais”, ressalta Jacilede. O evento, portanto, não é apenas uma vitrine de estética, mas uma reafirmação de que os povos indígenas possuem um lugar importante na sociedade contemporânea.

O Beleza Indígena é um convite à reflexão sobre a importância dos povos originários e um chamado à valorização das tradições que ainda permanecem vivas. Em tempos de crescente polarização e preconceito, iniciativas como essa são cruciais para promover o respeito à diversidade. Ao celebrar a beleza indígena, não apenas reconhecemos a riqueza da cultura como abrimos espaço para diálogos necessários em nossa sociedade.

Desfile no evento Beleza Indígena, em São Paulo
Indígenas durante o desfile no evento – Divulgação

Como diz Jacilede, “São Paulo é terra indígena, e o Brasil, por sua essência, é um mosaico de culturas que deve ser respeitado e celebrado”. O Beleza Indígena, portanto, é um movimento que desafia estereótipos e promove a resistência cultural de um povo que, apesar das dificuldades, continua a brilhar com sua beleza única e inconfundível.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2024/12/um-manifesto-contra-a-invisibilidade-indigena.shtml

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