Inundação em aldeia na Terra Indígena Rio Branco – Txai Suruí

Quando nos daremos conta do real momento que vivemos?

A crise climática acontece neste momento. Não falamos somente do futuro, mas principalmente do agora. Os fenômenos climáticos extremos já são sentidos em toda parte do mundo. Os principais impactados por esses fenômenos são as populações minorizadas, ainda que sejam as que menos contribuem para o aquecimento do planeta. É o reflexo do racismo ambiental.

Exemplo disso é a situação dos povos tupari, kabixi, oro win e karitiana, do estado de Rondônia, os quais, com as grandes chuvas do verão amazônico, presenciam uma quantidade de água não vista antes. Os rios transbordam, as aldeias ficam alagadas e as famílias, desabrigadas, sem comida e sem água para beber, perdem seus roçados. Os povos originários são reconhecidos como os melhores protetores da floresta, essenciais para superar a emergência climática que vivemos e garantir um lugar habitável e possível para todos.

O povo tupari, da Terra Indígena Rio Branco, que teve suas casas destruídas e os poços artesianos contaminados, deixando-os sem água potável, aponta como causa desses transbordamentos as oito pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), pertencentes ao ex-governador Ivo Cassol, construídas na bacia do rio Branco sem o devido licenciamento ambiental.

Segundo Walderir Tupari, liderança indígena e coordenador da Associação do Povo Tupari, as represass ficaram lotadas por causa das chuvas; abriram-se então as comportas e foi inundado o território que já vinha sentindo o impacto das centrais hidrelétricas na fauna e na flora, com a falta de peixes após a mudança no curso do rio. Na mesma região, vive o povo indígena isolado da Terra Indígena Massaco, que também vem sendo atingidos pelas usinas do grupo Cassol Energia.

Inundação em aldeia na Terra Indígena Rio Branco, em Rondônia – Txai Suruí

O mundo começa a reconhecer a luta dos povos indígenas, seus conhecimentos e práticas ancestrais e sua importância na mitigação dos gases de efeito estufa, mas não os coloca no centro da debate; continua a discutir sobre economia e criação de tecnologias para solucionar a crise do clima, mas não discute a transformação do sistema. Não coloca em prática as mudanças radicais necessárias e ainda não está disposto a apoiar e financiar quem luta na linha de frente.

O que me faz refletir sobre quando vai se dar conta do real momento que vivemos. Quando todos os rios estiverem mortos devido às hidrelétricas e ao garimpo ilegal? Quando o calor for insuportável e não tivermos mais árvores para nos proteger e refrescar, pois foram todas cortadas ou queimadas? Quando entenderão que as soluções devem passar pelos povos indígenas? O único futuro possível é ancestral.

Inundação em aldeia na Terra Indígena Rio Branco, em Rondônia – Txai Suruí

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2023/03/a-crise-do-clima-ja-e-agora-nao-no-futuro.shtml

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