A esperança e os sonhos se espalham com os ventos, frutos da luta por uma democracia viva

“Sem dúvida, não somos mais do que um fiapo de palha neste oceano enfurecido, mas, Senhores, nem tudo está perdido, basta tentar alcançar o centro da tempestade” (Aimé Césaire, “Uma Tempestade”, 1969). Descritos pelos colonizadores como selvagens, os povos indígenas nunca tiveram sua sabedoria ancestral e importância reconhecida ou vista.

Na perspectiva ambiental não foi diferente, até o momento em que fomos alcançados pela conscientização do iminente apocalipse climático, tecido pela própria ação humana, que fez o mundo reconhecer os povos indígenas como os maiores protetores das florestas. No Brasil, apesar disso, tivemos o pior ataque sistemático ao nosso meio ambiente.

No entanto, existe uma ruptura entre aqueles que se preocupam com o apocalipse iminente e aqueles que antes mesmo das primeiras gotas do dilúvio já lutavam para não se afogar. Essa ruptura se evidenciou durante algum tempo na falta de pessoas indígenas nos espaços de construção dos discursos ambientalistas, como na própria elaboração de instrumentos para se pensar a crise climática.

Diante da maior das crises, os povos originários com sua resistência encararam no fronte e mostraram todo o poder do conhecimento ancestral nunca antes valorizado, buscando a superação do colapso climático a partir de um mundo livre das injustiças sociais, do racismo ambiental e da violência sistemática por eles vivida.

Na construção histórica do nosso país, vimos os grupos minorizados sub-representados nas instituições governamentais e não governamentais, nas quais, em sua maioria, os mais altos cargos são ocupados por homens brancos de classe média. Contudo, a primavera parece estar chegando ao maior país da América Latina. A primavera, a esperança e os sonhos se espalham com os ventos, frutos da luta por uma democracia viva, e preenchem nossos corações.

Durante os primeiros dias de janeiro, tivemos em Brasília um novo presidente empossado pelas mãos do povo. A posse da nova ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, uma mulher negra da Amazônia que, apesar de assumir uma das pastas consideradas mais difíceis, em seu discurso reiterou a priorização do meio ambiente para esse novo governo e uma política ambiental transversal que seja ouvida pelos demais ministérios.

Tivemos o anúncio de Joenia Wapichana, primeira mulher eleita deputada federal e primeira advogada indígena no Supremo Tribunal Federal, como a primeira mulher indígena a assumir a Funai, agora chamada de Fundação Nacional dos Povos Indígenas. No dia 10 deste mês teremos a posse de Sonia Guajajara, a primeira ministra dos Povos Indígenas.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2023/01/a-primavera-parece-estar-chegando-ao-brasil.shtml

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