Representação no Congresso é essencial para garantir existência dos povos originários

Txai Suruí

Neste mês, a 16 dias das eleições, presenciamos o Brasil quebrando recordes de desmatamento. Acompanhamos o desrespeito às mulheres e o aumento da violência. A jornalista Vera Magalhães é atacada mais uma vez. Nas últimas semanas tivemos nove indígenas mortos, entre eles uma criança de 13 anos, Ariane Oliveira, do povo guarani-kaiowá, e o líder Vitorino Sanches, do mesmo povo, pego em uma emboscada e assassinado com 35 tiros.

Lembremos ainda da triste situação vivenciada pelos povos originários durante a pandemia, percentualmente a população mais atingida, que diante do descaso se mobilizaram por meio de suas organizações para reduzir as mortes nas comunidades.

A organização Metareilá do povo paiter suruí, comandada pelo líder Almir Suruí, realizou uma campanha de arrecadação para adquirir suprimentos para seu povo, um dos mais atingidos em Rondônia. A Apib, maior entidade representativa dos povos indígenas no Brasil, liderada por Sônia Guajajara, iniciou campanhas de vacinação e monitoramento da Covid-19 nos indígenas. A consequência disso? Ambos os líderes foram perseguidos pela Funai.

As lideranças em questão fazem parte da Bancada do Cocar, organizada pelo movimento indígena para ocupar o Congresso nas próximas eleições.

A bancada conta com a participação, nestas eleições, de 182 candidatos de 45 etnias representando a Amazônia, cerrado e a caatinga em 24 estados, a maioria concorrendo a deputado estadual ou federal e entrando na política pela primeira vez. Esse número de candidatos indígenas é recorde nas eleições brasileiras, e eles podem ser encontrados nas redes sociais da Apib.


Em toda a história do Brasil, apenas dois representantes foram eleitos ao Congresso: Joênia Wapichana de Roraima, em 2018, e Mário Juruna, do povo Xavante, em 1982.

A representação indígena se faz cada vez mais essencial no contexto da crise climática e para frear os avanços sobre o meio ambiente, mas também para garantir a existência dos povos originários.

Poucos são os candidatos que vem se comprometendo com a pauta ambiental. É importante citar que a agenda verde também significa falar de transporte público de qualidade, de saneamento básico, de racismo ambiental, moradia digna em lugares que não estejam sujeitos a desabamento ou alagamentos, de desmatamento zero e da mitigação de emissão de gases de efeito estufa.

É possível transformar o nosso país em um lugar melhor e digno. Mas, para isso, precisamos entender a importância do nosso voto nestas eleições. Isso significa que a população não indígena precisa entender a importância de votar em candidatos indígenas.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2022/09/bancada-do-cocar.shtml

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