Souto MC, rapper que resgata a cultura ancestral indígena dos Cariris – Luisa Ambrozio

Artista comemora seus dez anos de carreira em um show no Sesc Pompeia, em São Paulo

Jairo Malta

SÃO PAULO

Na efervescente cena do rap nacional, em que vozes clamam por representatividade, surge uma artista cuja trajetória é marcada por sua autenticidade e trânsito entre territórios e diferentes ritmos. Souto MC, com uma década de caminhada, não apenas domina as rimas e batidas, mas também tece sua identidade pessoal e ancestralidade indígena em cada verso. Aos 28 anos, sua jornada artística é uma mescla de influências, resgate cultural e um chamado à mudança social.

Caroline Souto —nome de batismo da rapper— que nasceu no bairro da Penha, na zona leste paulistana, teve seu primeiro contato com o hip-hop logo na infância. Por sua família ser extremamente movida pela música, Souto não se prendeu aos flows, e seu caminho pela música passa pelo samba. “O samba é um senhor mais velho e muito mais experiente dando conselhos ao rap”, afirma a rapper.

Mas foi Itaquaquecetuba, cidade da Grande São Paulo, aos 15 anos, onde Souto deu vida à sua primeira letra de rap. Foi nesse ponto que ela mergulhou no universo do movimento e começou a se conectar com outras mentes criativas. Dexter e Racionais eram apenas o início de grandes nomes que a rapper tem como referência. Lauryn Hill, Queen Latifah e Missy Elliot também fizeram a cabeça da cantora e são referências até hoje.

Vale lembrar que Souto é descendente dos cariris, povo indígena que teve origem no Ceará, terra natal de seus pais, e que migrou para outros territórios do país. A rapper não apenas se reconecta com suas tradições e saberes, mas também busca aprender com outras comunidades indígenas. Sua jornada no rap agrega a diversidade cultural brasileira.

Souto deu seus primeiros passos no rap nacional com o lançamento da música “Redenção”, de 2014, e solidificou sua identidade com a faixa “Psicosouto”, que apresentava rimas agressivas e técnicas. Um ponto crucial em sua trajetória foi sua participação na apresentação “Machocidio”, em que dividiu espaço com Luana Hansen, Sara Donato e Jupi77er. Essa obra reforçou sua postura ao denunciar o machismo presente na cultura hip-hop.

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Souto MC faz 10 anos de carreira

Souto MC, rapper que resgata a cultura ancestral indígena dos Cariris

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Questões mais intimistas passaram a ficar cada vez mais presentes em sua arte. Em “Ressurreição”, por exemplo, ela deixa ainda mais evidente sua ascendência indígena e os traumas por estar afastada de sua ancestralidade.

O álbum “Ritual”, de 2019, alimenta ainda mais essa relação de Souto com sua ancestralidade indgena. “O nome ‘Ritual’ surgiu de repente, substituindo o anterior devido a acontecimentos inesperados na minha vida. ‘Ritual’ é belo e intuitivo, captando bem a essência do disco com força e simplicidade.”

Não são apenas beats que rondam o universo de Souto, a artista carrega uma variedade de influências musicais como instrumentos usados na música negra e indígena; incluí-los no seu disco era um desejo óbvio. Sua afinidade com esse som é constante e uma fonte de inspiração.

Ser uma MC independente em um cenário tão predominantemente masculino torna a jornada da Souto ainda mais desafiadora. No entanto, não são somente as questões relacionadas ao machismo que complicam a trajetória da cantora. “Minha principal dificuldade envolve aspectos financeiros e emocionais. Lido constantemente com sucessos e decepções. Para artistas independentes, cada pequeno passo é uma grande vitória, mas também precisamos gerenciar as frustrações.”

O resumo dos dez anos de carreira é de muito trabalho, dor e mostras que ocupar o empoderamento étnico em seus versos deu resultado e trouxe ainda mais corpo para sua carreira.

“Todos os dias da minha vida, ao longo desses dez anos, me dediquei para transformar meu rap em realidade, para fazer com que meu trabalho se tornasse algo do qual eu pudesse me orgulhar. É um trabalho incessante, todos os dias, 24, 48 horas. Muitas lágrimas, algumas de alegria e outras de tristeza, mas seguimos. Mas, afinal, o hip-hop educa muito. Então, para mim, essa educação é o que me formou e o que me forma todos os dias.”

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Souto ainda tem trabalhos potentes para serem lançados. Um single com produção artística de Emicida e o show de comemoração de dez anos de carreira no Sesc Pompeia, no dia 31 de agosto.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/blogs/sons-da-perifa/2023/08/conheca-souto-mc-rapper-que-resgata-a-cultura-ancestral-indigena-dos-cariris.shtml

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