Membros da etnia pataxó dizem estar sob ataque de pistoleiros; Secretaria da Segurança investiga atuação de PMs


Franco Adailton

SALVADOR

Uma escola indígena em Porto Seguro, no sul da Bahia, teve as aulas interrompidas na tarde de quarta-feira (17) depois que tiros foram disparados em direção à unidade de ensino. A região vive um conflito entre membros da etnia pataxó e fazendeiros.

Uma professora da Terra Indígena de Barra Velha, onde ficam as aldeias Boca da Mata e Cassiana, gravou um vídeo no qual denunciava que pistoleiros estariam atirando em direção à escola, supostamente a mando de fazendeiros locais.

A reportagem conversou com a autora da imagem que, sob anonimato, descreveu o clima de tensão entre os indígenas. Segundo a professora, as crianças ficaram chorando, pedindo socorro, correndo, sem saber para onde ir.

Ela diz que eram por volta das 15h da quarta-feira, quando os tiros começaram a ser disparados, momento em que havia cerca de 80 crianças na Escola Indígena Pataxó Boca da Mata. Segundo ela, a unidade tem sofrido com evasão por causa das ameaças.

A escola tem cerca de 320 estudantes, mas, segundo a professora, as crianças não estão frequentando as aulas por medo. Ainda segundo o relato dela, os ônibus escolares deixaram de circular por causa de abordagens de pistoleiros.

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) da Bahia investiga se policiais militares de folga estariam atuando como capatazes de fazendeiros para impedir que indígenas da etnia pataxó ocupem propriedades.

Na quarta-feira, dois PMs de folga foram baleados em uma troca de tiros com outros agentes em serviço, sob circunstâncias ainda não esclarecidas pelos órgãos de segurança.

Comunicado da secretaria informa que as investigações vão apurar se há envolvimento de policiais militares no conflito. A pasta ressalta que pediu “celeridade na apuração das denúncias sobre os conflitos ocorridos no sul do estado”.

Uma nota enviada pela PM diz que, segundo o Comando de Policiamento da Região Sul, na quarta-feira, equipes foram deslocadas para averiguar a informação de que indivíduos armados teriam ateado fogo na ponte que dá acesso ao povoado São Geraldo.

“Foi mais uma tentativa de impedir nossa circulação, isolar nosso acesso à cidade e evitar que as equipes de reportagem cheguem até a gente”, disse o cacique Alvair José. “Quando a polícia chegou, houve essa troca de tiros entre eles mesmos.”

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Ainda segundo o comunicado, “durante uma invasão a uma fazenda, dois homens que exerciam a atividade de segurança privada, identificados posteriormente como policiais militares em horário de folga, foram atingidos por disparos de arma de fogo”.

Apesar dos questionamentos da reportagem, o documento da PM não esclarece quem seriam os autores da invasão à propriedade, que se trata da fazenda Barreirinha. A PM informou que os dois militares baleados na folga foram socorridos e passam bem.

A SSP informou que já iniciou as oitivas para apurar a denúncia de trocas de tiros na região, de acordo com o texto enviado pelo órgão. A Folha apurou que, pelo menos, dois policiais militares, além de um fazendeiro, já prestaram depoimentos.

Procurada, a Polícia Federal respondeu que já foi instaurado inquérito para a devida apuração do caso e que as investigações correm em sigilo. O Ministério da Justiça não respondeu à Folha sobre o processo de demarcação na região.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/08/escola-indigena-e-alvo-de-tiros-em-area-de-disputa-por-terras-na-ba.shtml

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