Mobilização nas ruas chega a nono dia consecutivo contra preço dos combustíveis e pressiona presidente Guillermo Lasso
Os protestos que têm levado milhares de indígenas às ruas do Equador contra a alta no preço dos combustíveis entraram no nono dia nesta terça-feira (21) e se agravaram devido a declarações enfáticas das Forças Armadas do país, onde há histórico de quedas de presidentes após mobilizações indígenas.
O ministro da Defesa, Luis Lara, afirmou que os atos colocam a democracia em “sério risco”. “A ação de pessoas exaltadas que impedem a livre circulação da maioria dos equatorianos ameaça a democracia”, disse ele, em discurso na sede da pasta, junto aos chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Ele disse ainda que as Forças Armadas não permitiriam violações à ordem constitucional e que tem havido manipulação dos protestos por grupos interessados em aproveitar o levante popular para pleitear mudanças políticas no governo do presidente Guillermo Lasso.
As mobilizações são em grande parte puxadas pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), que também participou das ondas de protestos que levaram à queda de três presidentes entre 1997 e 2005. Os atos diários se espalham pelo país e ganham intensidade, em especial, na capital Quito.
Lasso se vê pressionado nas ruas e também no Legislativo. A Assembleia Nacional, Casa na qual o partido ligado ao movimento indígena Pachakutik constitui a segunda maior força, aprovou na noite de segunda (20) uma resolução para exigir que o governo apresente uma proposta “séria, clara e honesta” de diálogo.
O governo ampliou o estado de exceção vigente desde sábado (18). “Com essa decisão, prevenimos o bem-estar dos cidadãos contra a violência, ao mesmo tempo em que protegemos os direitos dos que se manifestam de forma pacífica”, afirmou a Secretaria de Comunicação.
O preço do galão do diesel no país subiu 90%, chegando a US$ 1,90 (R$ 9,75), e o da gasolina, 46%, indo a US$ 2,55 (R$ 13) em um ano. Desde outubro passado, os valores estão congelados após pressão popular, mas a Conaie reivindica que eles cheguem a US$ 1,50 e US$ 2,10, respectivamente.
Até domingo (19), ao menos 63 manifestantes ficaram feridos e 21 foram detidos, segundo o governo. Já a Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos diz que pelo menos 90 civis ficaram feridos e 55 foram levados pela polícia desde o início dos protestos. Afirma ainda que, nas últimas 24 horas, duas pessoas morreram em meio à repressão.
Lasso acusou o movimento indígena de querer o fim de seu governo, iniciado em maio do ano passado. “Temos pedido diálogo, mas eles buscam o caos, querem destituir o presidente”, afirmou o mandatário.
Para negociar, lideranças indígenas, que representam mais de 1 milhão dos 17,7 milhões de equatorianos, pedem que o governo atenda a um pacote de dez demandas, como moratória ao pagamento de dívidas de campesinos, mais empregos e suspensão das concessões para mineração em terras indígenas. Lasso, porém, já disse que diminuir os valores dos combustíveis, a demanda principal, não está em negociação.
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