A salvaguarda desses povos é uma questão de vida ou morte
Volto a comentar a situação dos povos indígenas em isolamento voluntário que estão a cada dia mais vulneráveis, sobretudo pela postura que o atual governo federal vem tomando em relação à sua proteção. Lembro que o Brasil é o país com maior presença de povos indígenas em isolamento voluntário no mundo.
A conjuntura se torna ainda mais complexa neste momento eleitoral, visto que uma das bandeiras levantadas pelos bolsonaristas e pela bancada do boi é acabar com a demarcação das terras indígenas e abri-las para a exploração, ameaçando o direito originário e constitucional desses povos e também a sua existência. Ignoram assim a importância desses lugares e a necessidade de mantê-los protegidos no contexto de crise climática que estamos vivendo.
Em contrapartida, na Terra Indígena Vale do Javari, no dia 1° deste mês, tivemos a aparição de indígenas isolados em local próximo a uma aldeia do povo marubo, o que gerou tensão e temor de conflito, pois segundo informações os isolados estavam muito agitados. Além disso, o povo uru-eu-wau-wau relatou mais uma vez o aparecimento de vestígios da presença desses grupos próximos à aldeia 623.
A salvaguarda desses povos é uma questão de vida ou morte. Tais grupos se encontram ainda mais vulneráveis que os povos indígenas já contatados, pois sabemos que mesmo que o contato aconteça da melhor forma possível sempre haverá óbitos devido ao sistema imunológico mais fraco desses povos para enfrentar doenças como gripe, pneumonia, tuberculose e a própria Covid-19, que podem até dizimar comunidades inteiras. Sem esquecer ainda da possibilidade de conflitos dependendo de como o contato aconteça (por exemplo, com invasores).
Instado por esta coluna, o servidor da Funai Rodrigo Ayres, da Frente de Proteção Madeirinha-Juruena, fez o seguinte comentário:
“A ameaça aos indígenas isolados é uma ameaça a toda a humanidade. Eles não são resquícios de um passado; são mulheres e homens que ainda hoje resistem, nos ensinando que é possível outra forma de se relacionar com o mundo. Por isso nos evitam, pois sabem o quanto somos perigosos. Invisibilizá-los revela o quão doente está a nossa sociedade, que tem o dever de lhes garantir o direito de existirem. A destruição da floresta é o extermínio dos povos isolados, e nos tornamos uma humanidade mais pobre cada vez que seus direitos territoriais são negados. O Estado brasileiro, que abriga o maior número de povos isolados do mundo, tem o dever precípuo de garantir as condições necessárias para a sua sobrevivência. Não cumprir esse papel significa abrir mão da própria soberania”.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2022/08/indigenas-isolados-e-dizimados.shtml
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