Ministério da Saúde enviou o lote para análise e apura quem causou o possível dano à vacina
O ministério da Saúde abriu uma investigação para apurar uma possível perda de 320 doses de Coronavac, uma das vacinas contra a Covid-19 disponíveis no país, que seriam usadas na imunização de indígenas do Xingu, em Mato Grosso.
As primeiras suspeitas indicam que “houve variação na temperatura de conservação das doses por não atendimento das regras da vacina contra a Covid-19”, informou a pasta da Saúde.
Gilberto Figueiredo, secretário da Saúde de Mato Grosso, disse à imprensa local que as “vacinas foram congeladas”. Por meio de nota, a pasta chefiada por Figueiredo afirmou que uma equipe técnica analisou as 320 doses sob suspeita.
“O parecer técnico aponta a perda das doses e orienta o descarte dos imunobiológicos conforme normatização do Manual da Rede de Frio”, afirma o comunicado da secretaria de Saúde de Mato Grosso.
Para manter a eficácia contra o coronavírus, a temperatura da Coronavac precisa estar entre 2ºC e 8ºC.
Os frascos com Coronavac estavam no Disei (Distrito Sanitário Especial Indígena) do Xingu, localizado na cidade de Canarana, a 605 km de Cuiabá. O Ministério da Saúde se manifestou sobre o caso nesta última sexta-feira (13), mas não informou quando a situação ocorreu.
Kaiulu Yawalapiti Kamaiurá, 42, fundadora da Associação das Mulheres do Xingu, vê com muita preocupação a possível perda das doses, que são fundamentais para a proteção dos mais vulneráveis de seu povo.
“Mas vamos aguardar o resultado dessa investigação para saber se houve falha técnica e o que precisa ser feito para isso não acontecer novamente”, diz.
Segundo Kamaiurá, o aumento de casos confirmados e óbitos nas cidades em volta do parque ocasiona “uma pressão contra nós. Por isso, é preciso que a vacina chegue e com segurança”, afirma.
Canarana contava até esta segunda-feira (15) com 24 óbitos e 1.566 casos de Covid-19 confirmados entre uma população de 21 mil pessoas.
O Ministério da Saúde disse também que já enviou o lote sob investigação ao Programa Nacional de Imunização, o responsável por “avaliar se houve perda das vacinas”.
Robson Santos da Silva, o secretário especial de saúde indígena, órgão sob o guarda-chuva da pasta da Saúde, afirmou que todas as responsabilidades “estão sendo apuradas junto ao Ministério Público e os demais órgãos competentes”.
“Se for confirmada a perda do material de imunização, ainda assim, não faltarão vacinas”, diz o secretário.
O Ministério da Saúde diz que a logística da vacinação contra a Covid-19 no país prevê uma perda operacional de até 5% das doses e, por isso, “caso constatado o problema, não faltarão vacinas para cumprir a meta de vacinação da população indígena do Dsei Xingu”.
Balanço mais atualizado do Ministério da Saúde mostra que 273.957 indígenas receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19 –o equivalente a 67% da meta. A segunda dose já havia sido administrada em 177.704, o equivalente a 43%, segundo a pasta da saúde.
Para o ministério, os números da imunização entre os indígenas seriam maiores se não fossem as dificuldades em acessar as áreas mais remotas onde as aldeias estão e que não contam com sinal de celular ou conexão com a internet.
Por isso, diz a pasta, o registro de inserção das doses no sistema de informação do Programa Nacional de Imunização da população indígena é mais lento.
Dados oficiais do Ministério da Saúde apontam que a Covid-19 contaminou 44.758 indígenas e matou outros 612. Já os números da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) são bem maiores.
A entidade monitora a disseminação do coronavírus também entre os indígenas que vivem fora das terras homologadas. Para a Apib, o coronavírus já contaminou 50.605 indígenas e matou 1.012 oriundos de 163 povos.
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