Registro fotográfico capturou alinhamento entre cacique Raoni e presidente Lula
Caio Guatelli
Há uma semana, em Brasília, durante a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), percebi que um precioso acaso poderia acontecer bem na minha frente.
Como fotojornalista, tudo o que eu precisava fazer era manter a atenção em Lula, através de minha lente, e contar com a sorte.
E aconteceu: Lula cruzou a fina linha traçada entre minha câmera, a 60 metros de distância, e o cocar do grande cacique Raoni Metuktire.
Nunca antes na história desse país a posição de um presidente da República se alinhou perfeitamente à posição de um índio.
Essa é a única leitura que posso fazer daquele instante histórico e simbólico, quando boa parte do mundo mirava a rampa do Palácio do Planalto.
Foi como um fenômeno cósmico raro —um alinhamento inédito entre dois grandes astros.
Um posicionamento necessário e urgente, que, se concretizado além da ótica (e se concretizadas as promessas de campanha), pode finalmente estabelecer o equilíbrio entre indígenas e não indígenas, com 522 anos de atraso.
Minutos depois do clique, quando publiquei a foto nas redes sociais, o debate se acalorou. A vibração otimista dos que se animavam em ver um presidente da República ser representado tal qual um índio foi rapidamente atacada por outra ótica, que questionava a imagem pelo seu poder de “apagamento da figura indígena”.
“A colonização se perpetua através dessa imagem”, escreveu nos comentários do Instagram uma mulher indígena que criticava a fotografia por esconder a figura do cacique Raoni com a figura de um não indígena (Lula).
Centenas de usuários embarcaram nos argumentos negativos, e tensionaram o debate, até que outro índio, o escritor e filósofo Daniel Munduruku, expusesse seu contraponto: “Essa imagem poderosa pode muito bem resumir os bons sentimentos que me habitaram de ontem para hoje. Vamos acreditar, com leveza e firmeza. Torço por um Brasil gigante”, escreveu ele na legenda da fotografia, republicada em seu próprio perfil do Instagram, na segunda-feira (2).
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/blogs/ciclocosmo/2023/01/o-presidente-indio.shtml
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