Essa história começa com minha mãe, que fundou a Associação Kanindé

Território para os povos indígenas significa mais que um pedaço de terra, é a vida daquela comunidade. É dele que tiramos o nosso alimento, é nele que caçamos, que pescamos, que crescemos, que encontramos o jenipapo para nos pintar, é onde existimos.

Sou paiter suruí da T.I. Sete de Setembro, mas passei boa parte da minha infância com o povo uru eu wau wau. Com eles aprendi sobre a resistência de um povo guerreiro que protege o maior território indígena de Rondônia e que perdeu um grande guerreiro nessa luta.

Uma história de luta e resistência que acontece todos os dias no meio da Amazônia e que deveria ser escutada pelo mundo, como a luta da corajosa guerreira Neidinha (minha mãe), que agora pode ser vista no documentário “O Território”.

Essa história começa com minha mãe, que fundou a Associação Kanindé para trabalhar com esse povo e dedica sua vida a essa causa.

O filme é dirigido por Alex Pritz, numa coprodução com o povo uru eu wau wau. Eu sou a produtora executiva, o que o torna tão essencial, pois escancara a importância do protagonismo indígena não apenas na hora de contar uma história, mas na hora de produzi-la. Traz além de nossa trajetória o nosso olhar sobre ela.

Arcos, flechas, câmeras e celulares são nossas armas contra o avanço do desmatamento e do agronegócio sobre nossas vidas. A tecnologia que hoje é usada pela juventude para denunciar nossa realidade que não passa nas mídias tradicionais nos empoderou sobre nossas próprias narrativas.

Além disso, para mim, que vivo e presenciei muitas das invasões aos nossos territórios, ainda trouxe a possibilidade de conhecer o outro lado daqueles que destroem nossas casas, que sinceramente nunca havia entendido a partir do meu lugar.

Não posso deixar de citar a participação indispensável do Gabriel Uchida, que até hoje tem sua vida ameaçada para que esse filme pudesse ser produzido e sem o qual com certeza o filme não existiria. Com sua relação íntima com os protagonistas Neidinha e Bitate, decide contar suas histórias e, com sua coragem, adentra nas terras invadidas para mostrar o outro lado da história.

Com essa produção, mostramos as consequências de um país mal governado, que não respeita seus povos originários, com uma Funai ineficiente e omissa diante de um governo genocida, onde todo o povo sofre com o aumento das desigualdades.

Se você se interessou por essa história, que já foi premiada nos festivais de Sundance e CPH:DOX, saiba que “O território” vai estrear no Brasil no festival “É Tudo Verdade” neste domingo, dia 10, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e também poderá ser visto online pela plataforma do evento.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2022/04/o-territorio.shtml

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