Brasil BioFuels diz que grupo que pratica furtos tentava invadir área da companhia e nega uso da violência

Eduardo Laviano

BELÉM

Um grupo de seguranças da Brasil BioFuels (BBF), produtora de óleo de dendê, apontou armas na direção de indígenas da etnia Tembé na última terça-feira (29), no nordeste do Pará.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra a ação na região dos municípios de Tomé-Açu e Acará.

Os moradores da Terra Indígena Turé-Mariquita afirmam que a empresa estaria tentando invadir o local, o que teria provocado um protesto do povo Tembé. A BBF nega e afirma que a área é da própria companhia, sendo que o grupo de indígenas é que invadia o local.

“O que aconteceu ontem (29/11) foi a tentativa de mais uma invasão nas terras de propriedade da BBF realizada por um grupo formado por indígenas e quilombolas que atuam no furto e roubo de frutos em áreas da Companhia, junto às coordenadas 2,154200S – 48,295633W (Fazenda Solimões – de propriedade da BBF), fato já notificado às autoridades públicas da região”, afirma a empresa em nota.

De acordo com relatos dos manifestantes, os seguranças da Brasil BioFuels agrediram moradores da região, o que a empresa também nega.

“A gente sem nenhuma arma, sem nada. O pessoal da BBF machucou a gente, bateram no meu primo. Atiraram contra a gente. Isso não se faz. Como indígena, nascida e criada aqui, espero que o pessoal tenha mais respeito com os indígenas. Dessa terra eu não saio”, afirma Xandir Tembé, que diz ter presenciado a ação.

A companhia afirma que não é verdadeira a informação de que seus seguranças estão agindo com violência no local.

“A BBF reforça seu compromisso em manter um diálogo construtivo e aberto com as comunidades que residem nos locais onde a empresa atua.”

A região vive disputa entre povos originários e empresas de produção de dendê no interior do Pará.

Indígenas e quilombolas da região acusam outra companhia, a Agropalma, que atua na mesma cadeia e na mesma região, de avançar sobre territórios ocupados há séculos por ancestrais. A empresa nega.

Em 2021, um relatório de pesquisadores da Universidade Federal do Pará apontou que quatro cemitérios na região já haviam sido tomados por plantações de dendê sob o domínio da empresa Agropalma.

O mais antigo deles, o Cemitério do Livramento, data do início do século 20. Segundo quilombolas, a empresa passou a proibir visitas às lápides, por considerá-las uma invasão.

“Eles queriam acessar o local por terra e é uma área de plantio nosso. Pegaram uma canoa e atravessaram o rio rumo à lápide. O que fizemos foi uma verificação pela segurança deles próprios. Foi quando eles [os quilombolas do Vale do Acará] disseram que não iriam sair da área do cemitério”, afirma Marcella Novaes, diretora-administrativa da Agropalma.

Também em 2021, a Agropalma se viu em meio a acusações de grilagem. O Ministério Público Federal denunciou quatro pessoas que seriam responsáveis por falsificar títulos de terra para favorecer a empresa em detrimento dos indígenas, corrompendo cartorários da região.

Quando o caso das certidões supostamente forjadas chegou ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará, a desembargadora que hoje preside a Corte, Célia Regina Lima, revogou a propriedade de 11 fazendas da empresa. Apenas duas delas somavam mais de 10 mil hectares.

A empresa chegou a apelar e negar as falsificações, mas a decisão foi mantida. De acordo com a Agropalma, o cancelamento das matrículas foi feito de maneira proativa pela empresa, após a empresa notar fragilidades na documentação. A empresa pretende comprar novamente as terras.

“Todas as nossas terras foram adquiridas de boa-fé, de forma mansa e tranquila e com os devidos valores pagos”, diz André Gasparini, diretor comercial da empresa.

Já em relação à BBF, o Ministério Público Federal afirma que a empresa realizou, em fevereiro de 2022, bloqueios sistemáticos na estrada de entrada ao quilombo Nossa Senhora da Batalha, entre os municípios de Acará e Tailândia, impedindo os moradores de saírem do território para a área urbana.

Na ocasião, o procurador da República Felipe Moura Palha afirmou que mais de 500 boletins de ocorrências haviam sido lavrados pela empresa contra indígenas e quilombolas moradores da região, o que foi classificado pela Procuradoria como uma forma de intimidação.

Em nota, a BBF afirma que a acusação não procede e que esses grupos atentaram contra o patrimônio e território da empresa.

“A BBF registrou dezenas de boletins de ocorrência, desde o início de 2021, que detalham o quantitativo de bloqueios de vias realizados pelos indígenas e quilombolas, bloqueando as operações agrícolas da companhia para a realização de subtração de frutos, impedindo assim a atuação da BBF no local”, declara, acrescentando que respeita os limites do território Turé-Mariquita.

Erramos: o texto foi alterado

9.dez.2022 às 22h55

Versão anterior deste texto atribuiu erroneamente dois conflitos com povos originários do Pará à empresa Brasil BioFuels (BBF). Tanto a suspeita de ocupação de cemitérios ancestrais quanto a de grilagem envolvem, na verdade, a Agropalma, que também atua na fabricação de óleo de dendê na região. A reportagem foi atualizada com o posicionamento das duas companhias em relação aos episódios em que são citadas. 

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/12/segurancas-de-empresa-apontam-armas-para-indigenas-no-para.shtml

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